DESCALVADO NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL EM 1822 (Gerson Álfio De Marco)

 

            O imenso sertão de Araraquara, mas já desvirginado por pioneiros: os posseiros Agostinho José Alves de Amorim, catarinense, velho andejo da aventura; os irmãos Nicolau Antônio Lobo e Manoel Antônio Lobo, mineiros no bandeirismo de retorno, como também os irmãos Tomé Manoel Ferreira  e José Ferreira da Silva; e Alexandre José de Castilho e Manoel Joaquim Bernardes e Joaquim de Oliveira Preto, outras audácias montanhesas no bandeirar oitocentista de volta às origens. Era a coragem da posse, incontestada e atrás das últimas pegadas do caigangue que foi abandonado a velha Canaã avoenga, sentindo o férreo avanço do conquistador branco. Este,  com suas armas tonitroantes, ouvidas, um dia, na paz tribal, foi ganhando o território desertado. Era a vez do caraíba, forte em suas armas; decidido no seu apossamento. Em 1822, portanto, não havia mais índio no mundo que seria Descalvado. O aborígene  entranhara o oeste paulista, em novo nomadismo de fugir ao invasor poderoso, humilhação racial a beiradear novas águas piscosas e a verrumar novas florestas; inúbias ecoando em novas solidões, cauím bebido em novas ocaras, Tupã adorado sob novos céus. Assim, quando o príncipe da liberdade se alteou, na história, no cerro do Ipiranga, o que seria Descalvado era a grandidão de mais de mil quilômetros quadrados de uberdade já parcialmente explorada, terra sem sibilos de flechas indígenas, era a grande posse de poucos, novo Eldorado paulista e que estacava nas margens do Mogi-Guaçu; que vadeava o Bonito, o Pântano, o Quilombo, o Prata, o Anhumas, o Sapé; e que se erguia, serrana, nas elevações locais da Serra do Cuscuzeiro, compridamente espreguiçada em longa e lata planície da Província. E dentro dessa ubérrima vastidão, os feudos dos posseiros, logo legítimos donos deles, na solene linguagem  tabeliosa de lindes de águas e espigões, de braças e léguas, lineares, em quadra ou perimétricas, registro cartorário dum direito comprado com a audácia e a persistência. Terras tamanhas para cada um, núcleos iniciais dum povoamento crescível nos anos. E, em cada imóvel, o castelo rústico da casa da sede, de pau-a-pique, rasgada de portas e janelas, com altos oitões, com amplos cômodos e alguns escanifros; a senzala, columbário da promiscuidade negra da escravaria submissa, longa construção, estreita e baixa; os paióis, as pocilgas, o estábulo, o moinho, o monjolo, os depósitos e, com certeza a capela singela se na construção, um oratório modesto não a substituísse, em cômodo respeitosamente penetrado para o cotidiano terço coletivo, sacralizado ádido dum culto sem sacerdote. Nas glebas conquistadas, áreas de plantio e pastagens naturais, arrincoadas em matas virginais, de muita madeira-de-lei e muita caça, cortadas de cursos de águas; reino sombroso da onça carniceira, abrigo de terrificantes duendes. O Saci aleijão, assobiador e travesso; a troteadora Mula-sem-Cabeça, o feio Caipora encalistador. Na casa-da-sede, o mobiliário rústico e, na rústica mesa, a alimentação abundante, campesina: a carne de bovino e de suíno, da caça e do peixe; o leite e os produtos lácteos, o arroz, o feijão, o milho, a mandioca; o pão de milho e de mandioca, o angu , o palmito, os doces, hortaliças e frutas; o mel, a rapadura, o melado e a garapa. Tudo saído do solo dadivoso, numa farta auto-suficiência de terras ilhadas. Do extramuros, só os tecidos, os calçados melhores, as ferramentas, as armas, a munição, as velas, o querosene, o sal, valiosíssimos. Trazidos por eventuais mascates audazes ou adquiridas, no comércio urbano, longínquo, de léguas muitas. Vida simples, de abundância, profundamente rusticana. O trabalho diário longo, da alba ao tramontom feito pelos cativos, calças curtas de pano grosseiro, dorsos nus; trabalho de agricultar, de tanger o gado e mungi-lo, de fazer utensílios domésticos, com madeira das matas e couro dos bovinos; de pilar, de arrocear, de lenhar... Os patrões, com os longos domingos e dias santificados gastos nas diversões cinegética e piscatória, ou no cantar, ao violão plangente, os velhos lundus da corte. Nos dias comuns, ordenando o trabalho escravo, fiscalizando-o, exemplando negros rebeldes. Na mesmidão dos dias, as festas juninas, do Natal, de Reis e algumas outras mais. Nos sábados, a liberdade festiva do samba dos negros, zabumbando ritmo, cantando poesia. Bailes, não haveria, mas certamente o cateretê bulhento. As doenças, cuidadas com a primitiva Medicina caseira dos velhos ervanários e os ungüentos ou, ainda, com o santigar valioso. As mortes, sepultadas nos próprios imóveis, sem ritual religioso. As viagens, poucas, no dorso de equinos ou de mulas, para os homens; ou nos tardinheiros, gementes carros-de-bois, para as mulheres. Para as vilas mais próximas, mais de dez léguas, no mínimo, para os registros tabelionais, o batismo e a crisma, a aquisição de negros e animais e  produtos que as terras não davam e nem a indústria doméstica manufaturava. E era então que se tomava conhecimento dos eventos pátrios da política e outros. Notícias filtradas da corte e da capital da província e trazidas por tropeiros e carreiros, por mascates e outros, num lento correio oral. Tudo era simples e monótono. Nem nome havia para o todo territorial, mas uma comuna estava em gestação. Esse era, portanto, o Descalvado de 1822, no ano um de nosso império. Vinte anos mais tarde em 1842, José Ferreira da Silva, aquisitor de terras predestinadas de Alexandre José de Castilho, iria escrever, cartorariamente, a garantia de nosso nascimento municipal. Em 1822, portanto, Descalvado, embora territorialmente inominado, mas nebulosa comunal, já era pedaço vivo e frutuoso da Província de São Paulo e do Império do Brasil. O cetro de D. Pedro I já o sobrepairava a regê-lo, não como velha terra de índios, mas sim como terra já alcançada pela civilização. Com vassalos, longínquos vassalos, em insano labor de povoar e de construir.

           

DESCALVADO DE 1832 A 1877 (Antenor Erveu Bettarello)

 

            Importância considerável na alimentação dos primitivos moradores de Descalvado, em seus primeiros anos de fundação, deve ter sido o produto da caça e pesca. As cinco casinholas em redor da rústica Capela em 1832, tempos depois aumentadas em número de edificações para trinta ou quarenta taperas, abrigavam aventureiros afeitos à alimentação selvagem, principalmente a pesca. Comia-se nessa época pouco e mal. Os primeiros habitantes descalvadenses tinham como base de sua alimentação, a canjica e o angu de fubá, ou de farinha de milho ou mandioca. Isso era uma decorrência natural de não precisarem a canjica e o angu de fubá de sal, que na época de 1832 a 1840, não era fácil adquirir-se. A mandioca, pelo ano de 1840, começou a ser superada pelo milho devido a rapidez de produção deste. De 1840 em diante, o feijão e a canjica eram os pratos comuns dos descalvadenses. Começou-se a dar também lugar ao palmito e às frutas selvagens como a guabiroba, os araçás, os marmelos de campo e as jabuticabas. Em 1845, já se colhiam carás, batatas, batatas doces, ervilhas, repolhos, alface, agrião e inhame. Cultivavam-se a banana, o pêssego, a laranja. Pelo ano de 1850 a Capela Curada possuía perto de 80 casebres e a alimentação constituía um problema para seus moradores. Em 1855, instala-se de forma rudimentar o primeiro moinho de fubá no povoado, no mesmo sítio conhecido mais tarde como Moinho do Diamantino. Esse moinho provia o núcleo habitacional vendendo ou trocando o produto da terra. O pão, na ocasião era uma mistura de trigo e fubá. Ainda por esse tempo havia em algumas fazendas de cana, alambiques que destilavam aguardente, que era então, o remédio heróico contra a varíola e o sarampo. Agravou-se de 1850 a 1855 a situação de abastecimento de gêneros de primeira necessidade. Foi preciso que o poder público (o Juiz de Paz da Freguesia) a exemplo do que ocorria em outros locais, permitisse o estabelecimento de “casinhas”  para a venda de gêneros alimentícios. Eram construções toscas, de paredes de taipa que serviam para a venda de secos e molhados. Nelas os gêneros alimentícios eram vendidos dentro de uma sujeira e desordem sem par. Com o advento da Câmara Municipal em 1866, deu-se impulso a maior higienização dessas casinhas, sendo que procedeu-se às primeiras fiscalizações, com multas aos que atentassem contra a saúde da coletividade. Em 1870, depois de uma manifestação de febres malignas cogitou-se da criação de um Mercado Público. Mas somente em 1877 foi o mesmo inaugurado com o pomposo título de Praça do Comércio. Tratava-se de cinco quartos que nada mais eram do que a reprodução melhorada das velhas casinhas. Todavia o Descalvado crescia muito e a Praça do Comércio não lhe bastava. Mudou-se então este para um prédio maior, de propriedade de José Joaquim Rodrigues. A cidade continuou crescendo, e finalmente, no ano de 1887, foi inaugurado o Mercado Público, que foi construído em terreno que outrora pertencera a Agostinho José Alves de Amorim, onde atualmente fica o prédio da Estação Rodoviária. Este prédio do Mercado foi demolido em 1948.

 

DESCALVADO EM 1886 (Antonio da Conceição Vicente Adorno e Helmut Troppmair)

 

Ruas da cidade: 14

População: 8.257 (urbana e rural)

            sendo: 2.182 escravos (1.735 solteiros)

Preço do escravo novo e forte: 600 mil réis

Valor das terras: Roxa - 75 mil réis o alqueire

                        Misturada - 30 mil réis o alqueire

Lavouras: café, cana, fumo e cereais.

Estrangeiros: 729 italianos, 201 portugueses, 83 alemães, 5 austríacos, 8 espanhóis, 28 franceses, 2 ingleses, 58 africanos e 10 de noutras nacionalidades, totalizando 1.124 estrangeiros.

A cidade possuía 6 hotéis e restaurantes, 5 padarias, 2 bilhares, 3 farmácias, 17 lojas de fazenda, 12 armazéns, 2 tipografias, 44 tavernas e 3 fábricas de cerveja.

Bandas Marciais: Santa Cecília e Recreio da Mocidade.

Clubes: Clube da Lavoura e Comércio (fundado em 1874), Sociedade Recreio Familiar (fundada em 1880), Sociedade União Democrática (bailes mensais), Sociedade Dramática Aurora.

Escolas: 3 com cadeiras masculinas, totalizando 128 alunos e 1 cadeira feminina com 57 alunas.

Alfabetização: 18% da população

Iluminação: 70 combustores a gás.

Julgamentos: 5

            Assim o “Almanaque Seckler” descrevia a Vila do Belém do Descalvado em 1886:  Vila do Belém do Descalvado, acha-se situada na bacia do rio Mogi-Guaçu, a oeste da Capital da Província, da qual dista 286 quilômetros. A superfície de seu município é de cerca de 30 quilômetros em quadra, e limita ao sul com o município de Rio Claro, ao norte e este com os de Pirassununga e São Simão e a oeste com o de São Carlos do Pinhal. São fertilíssimas as suas terras, especialmente para o cultivo do café. cuja produção anual é de 400 mil arrobas, devendo dentro de pouco tempo atingir essa produção a de 600 mil arrobas, atendendo-se a enorme quantidade de novos cafeeiros que existem e que ainda não produzem. Além disso cultiva-se com muito vantagem cana de açúcar e fumo, sendo este reputado o melhor da província e conhecido sob as denominações de “Tomé Ferreira” e “Descalvado”. É escassa a produção de cereais, não porque os terrenos não produzem abundantemente, mas por falta de agricultores que se empreguem na pequena lavoura. Esta lacuna, porém, tende a desaparecer em breve, com a colonização que está afluindo para os estabelecimentos agrícolas do município. Administração da Justiça: Juiz de Direito, Dr. Leonidas M. de Toledo Lessa; Promotor Público, Dr. José Vieira de Moraes; Escrivão do Júri, Guilherme da Silva Guimarães Porto; Oficial do registro de hipotecas, Antonio Augusto Bezerra Paes; Juiz Municipal e de órfãos, Dr. Manoel Joaquim da Silva Filho; Suplentes, 1º Tenente Coronel Rafael Tobias de Oliveira, 2º Major Polycarpo Alves Normanha D'Aguiar; Tabelião do Público Judicial e Notas, Antonio Augusto Bezerra Paes; Escrivão de Órfãos, Alferes João Baptista Pereira Marques; Curador Geral de Órfãos, José Ferreira Prado; Contador (interino), Manoel Soter de Oliveira Santos; Partidores, João Martins da Silva, Manoel Soter de Oliveira Santos. Oficial de Justiça, Antonio Ângelo Soares; Câmara Municipal, Vereadores, Major Arthur Horácio D’Aguiar Whitaker, Boaventura de Figueiredo Pereira de Barros, Capitão Evaristo de Campos Leite, Frederico Ernesto D’Aguiar Whitaker, Gaudêncio Ferreira de Quadros, João Baptista Ferras, Dr. Miguel Arcanjo da Silva; Suplentes, Tenente Antonio Soares Fagundes; Secretário, Bernardino José R. Torres Júnior; Procurador, Alferes Esmeraldo de Oliveira Camargo; Coletor das Rendas Provinciais e Gerais, Alferes Cândido Augusto Trippeno; Escrivão, José Quirino Ribeiro; Agente do Correio, Domingos Soares de Barros Mello; Ajudante vago; Delegado de Polícia, Antonio José Soares Fagundes Filho; Juizes de Paz, Capitão Francisco José de Araújo Lima, Tenente Antonio Leocádio de Matos, José Ferreira do Prado, Bernardino de Sena Motta Magalhães (audiências aos sábados); Escrivão de Paz e Subdelegado, João Martins da Silva; Culto Público: Vigário da Vara e da Igreja, Padre Francisco Teixeira de Vasconcellos Braga; Escrivão da Vara, Joaquim Delfino Trippeno; Sacristão, Augusto Teixeira de Vasconcellos Braga; Fabriqueiro (interino), José Joaquim Fragoso. Irmandade do Santíssimo Sacramento: Provedor, José Nunes da Costa; Secretário, Justiniano Leite Machado; Tesoureiro, João Nunes da Costa; Procurador, Benvindo Gonçalves Franco; Capelão, Padre Francisco Teixeira de Vasconcellos Braga; Contínuo, Manoel Pires da Costa. Irmandade de Nossa Senhora do Rosário: Protetor, Capitão José Elias de Toledo Lima; Instrução Pública: Primeira cadeira do sexo masculino, Francisco das Chagas Ourique de Carvalho, aluno mestre do 1º ano da Escola Normal. Tem essa cadeira 38 alunos matriculados e 24 freqüentes. Segunda cadeira. Olímpio Catão, 68 alunos matriculados e 53 freqüentes. Cadeira do sexo feminino, Dona Maria Lourenço de Oliveira Catão, 76 alunas matriculadas e 56 freqüentes. Instrução particular: Colégio Catão; Ensino misto: Instrução Primária e Secundária. Escola Primária, Fidélis Fortunato de Souza Carvalho. Há várias escolas em fazendas, mantidas pelos respectivos fazendeiros. Estação da Estrada de Ferro: Chefe, Amador do A. Mello. Sociedades: Clube da Lavoura e Comércio, fundada em julho de 1874. Presidente, Tenente Coronel Rafael Tobias de Oliveira Sobrinho; Vice-presidente, Tenente Coronel, José F. de Figueiredo; Secretário, Dr. João de Cerqueira Mendes; Tesoureiro, Miguel Araújo da Silva. Sociedade Recreio Familiar fundada em 1880: Presidente Honorário, Dr. João de Cerqueira Mendes; Presidente efetivo, Francisco de Campos Serra; Secretário José Rodrigues Penteado; Tesoureiro, Manoel Martins de Oliveira. Sociedade União Democrata (dá partida de dança mensalmente): Presidente, Jacob Henrique Monteiro; Vice-presidente, Manoel Eduardo Lopes; Secretário: Afonso de Arruda Leite; Tesoureiro, Domingos Soares de Barros Mello. Sociedade Dramática Aurora: Presidente, Antonio Barbosa Leite; Secretário, Alferes Cândido Augusto Trippeno; Tesoureiro. Dorismundo de Almeida Lisboa. Imprensa: A Imprensa do Descalvado tem tipografia própria, publicação semanal. Redator e proprietário Olímpio Catão. Advogados: Dr. João de Cerqueira Mendes, Dr. Antonio J. Rodrigues de Siqueira, José Ferreira do Prado, provisionado pela relação. Solicitador: Justiniano Leite Machado, provisionado pela relação. Médicos: Dr. Antonio de Siqueira Lima, Dr. Miguel Arcanjo da Silva, Dr. Victor Meyer. Farmacêuticos: Antonio Albertino de Oliveira, Bernardino de Sena Motta Magalhães. Dentistas: Antonio da Silva Ferraz, Dr. Nicolau B. Nielle. Professores de piano: Severino João da Cruz, José Fortunato de Almeida Penteado. Professor de Música Vocal e Instrumental: Joaquim Pedro Teixeira. Bandas Marciais: Recreio da Mocidade e Santa Cecília. Hotéis: Hotel das Famílias de propriedade de Justo Rodrigues. Hotel Universo de propriedade de Leolino R. de Figueiredo, Casa de Pasto de A. Delgado. Armadores: Benvindo Gonçalves Franco e Esmeraldo de Oliveira Camargo. Bilhares: Ignácio Valério Rodrigues, João Antonio dos Reis. Padarias: João Nunes Serafim. Manoel Martins de Oliveira. Olarias: Olaria de Santa Cruz de João Baptista de Almeida, Olaria Alemã de B. José R. de Mello. Alfaiates: Manoel Maria, Brazilio da Fonseca Leite, José Pinto Duarte, Martinho Vieira Lício Júnior, Placidino Joaquim da Motta, Zacarias Ferreira de Souza. Fogueteiros: João Balbino de Souza, Manoel Alves C. de Castro, João Pessoa. Ourives: Joaquim Pinto Fernandes. Seleiros: José  Honório P. de Castro, Pedro Ernesto de Oliveira. Carpinteiro: Joaquim Xavier da Silva. Caldeireiros: Januário Maturano, Estanislau Pereira Goulart. Oficinas mecânicas e ferrarias: Jorge Blackbum, Otto Müller. Veterinário e ferrador: Joaquim Antonio Dias. Lojas de Fazendas, Ferragens e Armarinhos: Benedito José Rodrigues de Mello; Costa e Carvalho, Francisco de Paula Carvalho, Francelino de Almeida Lisboa, Gabriel Amâncio Lisboa, José Nunes da Costa, João Baptista Grassi, Manoel Antonio Pereira Júnior, Rafael Olita, Virgílio Horácio de Andrade, Silva e Paula. Comissários: Benedicto José Rodrigues de Mello, Carvalho e Companhia, Gabriel Amâncio Lisboa, José Nunes da Costa, Silva  e Paula. Trippeno e Carvalho. Secos, Molhados, Gêneros do país e sal: Anna Izabel de Oliveira Guimarães, Antonio Nunes da Costa, Antonio Izidoro Brochado, Antonio Rodrigues Delgado, Bernardo José da Cunha, Benedicto Antonio de Moraes, Benedicto José Rodrigues de Mello, Carlos Guilherme Klein, Carlos José Ferreira Júnior, Dorismundo de Almeida Lisboa, Domingos da Silva, Domingos José de Moraes, Eugênio Pinto Ferreira, Francisco Schmidt, Francisco Machado dos Santos, Francisco Antonio Pereira, Francisco Moraes do Gando, Francisco Martins da Cunha, Felipe Müller, Felício Quintiliano da Costa, Ignácio Antonio Borba, Januário Marturano, José Ferreira de Carvalho, José Corrêa da Costa, João Antonio dos Reis, João José da Silva e João Pessoa.

 

DESCALVADO DO IMPÉRIO - Primeiras construções e primeiras ruas (Antonio Erveu Betarello e Gerson Álfio De Marco)
 

            Belém do Descalvado começou com a capelinha , rodeada por cinco casinholas ao seu redor. Quando da doação das terras por Florência Maria de Jesus e José Ferreira da Silva, já somavam quarenta taperas. Naquela época os moradores comiam pouco e mal, geralmente peixes, caça, angu de fubá e farinha de mandioca.          Por volta de 1840, a farinha de mandioca seria substituída pela de milho, devido a rapidez da produção deste, em nossas terras.  A mesa do descalvadense passou a ter feijão e canjica, palmito e frutas selvagens como a guabiroba, os araçás, os marmelos de campo e as jabuticabas. Em 1845, já eram em torno de 80 casebres ao redor da Igreja e já se colhiam carás, batatas, batatas doces, ervilhas, repolhos, alface, agrião e inhame. Cultivavam-se a banana, o pêssego e a laranja. Em 1850, instala-se de forma rudimentar  o primeiro moinho de fubá, no sítio que seria conhecido como Moinho do Diamantino. O pão na época, era uma mistura de trigo e fubá. Nessa época já se destilava, em alambiques, de algumas fazendas de cana, o aguardente que era o remédio heróico contra a varíola e o sarampo. Em 1855 construíram as primeiras casinhas para venda de gêneros alimentícios. Eram construções de taipa que vendiam secos e molhados, dentro de muita sujeira e desordem. Somente em 1866 com a Câmara Municipal, iniciou-se a fiscalização e exigiu-se mais higiene. Quatro anos mais tarde, criariam o Mercado Municipal, depois de um surto de febres malignas, que seria inaugurado em 1877 com o nome de Praça do Comércio. Eram cinco quartos melhorados das velhas casinhas, que vendiam gêneros alimentícios. Somente em 1887 foi inaugurado o Mercado Público, construído em terreno de Agostinho de Amorim, onde hoje é a Rodoviária Municipal. Neste ano de 1887 já tínhamos o aspecto de cidade. A população, da qual 80% residia na zona rural, era constituída de 8257 homens livres, sendo que 44% deste total era constituída de jovens com menos de 15 anos. Os escravos eram em número de 2182. Nosso comércio: 17 lojas de fazenda, 12 armazéns, 5 padarias, 2 tipografias, 6 hotéis, 3 farmácias, 3 fábricas de cerveja, 2 bilhares e 44 bares. A Igreja havia sido reformada a um custo de 80 contos de réis. A terra roxa na época custava 75 mil réis o alqueire, e as misturadas 30 mil réis. Cultivavam nelas o café, a cana de açúcar e o fumo. Assim era Descalvado no Império. As principais ruas na época: Rua do Cemitério (atual José Bonifácio), Rua Vicente de Castro (atual Bezerra Paes), Rua do José Elias (atual Barão do Descalvado), Rua Antonio de Campos (atual Dr. Anastácio Vianna), Rua do Dr. Meira (atual rua José Rodrigues Penteado), Rua do José do Leite Machado (atual 15 de novembro), Rua Alegre (atual Cel. Arthur Whitaker), Rua Nova (atual Conselheiro Antonio Prado).

 

A ESCRAVIDÃO
 

            Conta a história que em 1809 Agostinho José Alves de Amorim ao chegar às terras que seriam de Descalvado, dirigiu-se para a morada de Nicolau Antonio Lobo que aqui já havia tomado posse das terras que seriam as fazendas Grama, Nova e Areias. Em uma das noites passadas na casa de Nicolau Antonio Lobo, uma tentativa de elementos perversos, prontos a atearem fogo na cobertura de sapé da maloca primitiva, teve como conseqüência uma reação de Agostinho José Alves de Amorim e de seu fiel auxiliar que aprisionou um dos facínoras, dele arrancando a notícia de negros estabelecidos pela região,  foragidos de várias procedências. Descalvado devia ser mesmo um lugar privilegiado nesse sentido. A idéia de negros foragidos e um quilombo às margens do rio, que desemboca no Mogi-Guaçu e hoje faz divisa com o município de São Carlos, com o nome de Rio Quilombo, uniu a simpatia que já havia nascido entre Nicolau Antonio Lobo e Agostinho José Alves Amorim. Nada mais se sabe a esse respeito. Todavia, dado o desaparecimento do quilombo às margens do rio, e a rápida prosperidade de Agostinho José Alves de Amorim é de supor-se que, da investida contra os negros foragidos, não estiveram ausentes os dois primeiros moradores de nossa terra. Amorim com toda certeza tomou para si os escravos que viriam a trabalhar em sua Fazenda que recebeu o nome de Caridade. Quando faleceu em 1.864, doou por testamento, seus haveres a um de seus escravos, de nome João da Nação.

As terras de Descalvado em pródigas ao cultivo do café, da cana de açúcar e do fumo, em fazendas para onde foi destinada a mão escrava, vindos de Angola e outras regiões da África. No ano de 1.822, quando da Independência do Brasil,  o índio já havia abandonado as terras, a vida do branco  era muito simples e rústica, o dia comum era preenchido pelo ordenamento do trabalho escravo, fiscalizando e exemplando os negros rebeldes, que eram adquiridos nas vilas mais próximas, cerca de dez léguas, onde também se faziam os registros tabelionais. Em 1878 éramos o terceiro maior produtor de café, e os escravos se faziam presentes nas principais fazendas como a Palmeiras de Paulo de Souza Queiroz, Tamandaré de Inácio de Mendonça Uchoa, Lagoa Alta de Elisiário Ferreira de Andrade, Monte Alverne de José Ferreira de Figueiredo, Santa Maria de Rafael de Aguiar, São Rafael do Coronel Tobias, Jaguarandi e Bela Aliança de Nicolau de Souza Queiroz, São João da Aliança de Antonio Alves Aranha, São Salvador de Valentim Tobias de Oliveira, Batalha de Rafael Tobias de Oliveira Sobrinho, Monte Alegre de Penteado e Serra, Santa Rita de Cândido Camargo, Graciosa de Sebastião Penteado, Santa Maria da Baronesa de Limeira, Batalha de José Joaquim de Faria, Bom Retiro de Adolfo Borges, Canadá de Francisco Aranha, São Miguel de Hermínea Whitaker, Lageado de Manoel Oliveira Leite, Monte Olimpo de Jacinto Penteado, São Domingos de Antonio Casati e Santa Etelvina de Olímpio Portugal.  No ano de 1887 quando começamos a tomar o aspecto de cidade, para uma população de 8.257 pessoas, das quais 80% residiam na zona rural, possuíamos 2.182 escravos.  O preço do escravo novo e forte era de 600 mil Réis. Nesta época as fazendas já começavam a se desfazer das gregárias senzalas semi-carcerárias, em virtude das crescentes massas de colonos, principalmente italianos, que afluíam para o município. Ao se aperceberem das vantagens da mão de obra migrante sobre a escrava, a própria Câmara Municipal de Descalvado, presidida por Durismundo de Almeida Lisboa e contando entre seus pares com Francisco de Paula Carvalho, Boaventura de Figueiredo Pereira de Barros, Antonio Barbosa Leite (Cândido Augusto Rodrigues), Gabriel Amâncio Lisboa, Salvador Meyer de Vasconcellos e Ernesto Pereira de Carvalho, e que já tinha ideais republicanos, aderiu também ao movimento abolicionista. O recenseamento de 1.886 informava que o Município de Descalvado, vai superando, com grande facilidade, a transformação do trabalho, pois que aumenta, extraordinariamente, a colocação de imigrantes em propriedades agrícolas, sendo talvez, dentro dos municípios da Província o que maior número de colonos conta.

Mas da escravidão ficaram algumas histórias interessantes:

- Quando da visita de D. Pedro II a Descalvado em 31 de outubro de 1886 era Presidente do Partido Republicano, que ganhava força política na cidade o cartorário Antonio Augusto Bezerra Paes. Conta a tradição que por um de seus empregados, mandou entregar ao Imperador, na estação ferroviária, um cacho de banana, como que a insinuar ser D. Pedro II, Imperador de Macacos.

- Pedro II mantinha uma tradição em todas suas visitas: libertar um preso. Na cadeia pública que ficava logo atrás da Igreja Matriz encontrou um único preso. Era um escravo de nome Ivo, que havia decepado a cabeça de seu feitor, com sua foice de trabalho. Irritado não o libertou.

- A imagem de Nossa Senhora do Belém veio de rio Claro para Descalvado em carro de boi conduzida por um negro escravo de nome Estevão.

- O Prof. Manuel Pereira de Godoy, historiador pirassununguense, conta que as escravas normalmente eram ótimas doceiras e quituteiras, faziam doces e outras comidas e às vezes iam vendê-los nas ruas, para o ganho extra de suas patroas, principalmente aos domingos e em dias de festa. Vendiam também garapa, melado, rapadura, cidrão, açúcar escuro e aguardente, que eram fabricados em engenhos de cana, movidos à tração animal e trabalhado por escravos.

- Conta também o Prof. Godoy que os negros trouxeram conhecimentos da África de curas de males, com base em vegetais, em água quente e em salmouras. Muito importante na época, era  a aplicação de ventosas, para o alívio das dores no corpo e, para tanto, muitos negros escravos, e também negros libertos, eram especializados em aplicá-los.

- Prof. Godoy conta ainda que certos senhores de escravos os maltratavam, até no momento da comida eram tratados como animais e na roça, onde os escravos trabalhavam, comiam apenas angu e feijão cozido que eram colocados num cocho. E, na maior parte das vezes, os escravos comiam com as próprias mãos, pois, ainda, certos feitores, no trabalho, não permitiam nem o simples uso de uma colher de pau para que o negro escravo tomasse a sua comida.

- De acordo com estudos  época da escravidão, o Prof. Godoy informa que nos processos relativos aos escravos que eram presos por crimes de roubo, de agressão, de morte, etc., e que aqui eram julgados conforme a lei determinava, em geral o senhor do escravo contratava um advogado para assisti-lo e defendê-lo em todo o processo. Às vezes, conforme as circunstâncias e a gravidade do crime, o senhor do escravo envolvido com a Justiça, desistia dos seus direitos de senhor do dito escravo, com a finalidade principal de escapar das custas do processo todo e de qualquer futuro e possível cuidado com o escravo condenado, pois o senhor era parte responsável na culpa do escravo e era sempre condenado nas custas do processo e, ainda, era responsabilizado na observação de certas penas impostas ao escravo réu pela Justiça, como aquela de o escravo trazer uma cruzeta de ferro no pescoço pelo espaço de meses ou de anos e que o senhor deveria observar e fiscalizar durante a condenação.

 

ESCRAVIDÃO – ALMA E GLÓRIA (Fausto De Marco)

 

            Estamos nos horrores da escravidão. Por todos os recantos, vai um misto de pranto e dores. Jamais se vê o riso que espelha satisfação. Nunca se ouve o canto alegre dos escravos. Só a tristeza do samba evocativo e as lamúrias das melodias sentimentais habitam aquele reduto de opressão e barbárie. A frondosa figueira, alteando seus vigorosos braços, é o teto do sacrifício, à cuja sombra se castiga um direito e se abjuta uma justiça; onde se sorri da mágoa e se chora de alegria; onde se zomba da altivez e se louva a covardia. Marcha um pobre infeliz para o holocausto. Vem mudo, trêmulo e obediente, entre os olhares esconsos e distantes, da timidez de seus amigos que gelam ante o ruído das passadas do “senhor”, A visão carrascal deste parasitou-se na imaginação daquela multidão inerte. Os escravos aniquilam-se, acovardam-se ante a idéia de castigo. Praticam, às vezes, no ápice do desespero, que os sentidos falsearam ou que a imaginação organizou fazendo-os crer uma realidade presente inexistente. Crêm na solidez da oportunidade, assim avultada, e quase sempre cavam a própria ruína. Na inquietação da insânia, no meio ao desespero uma idéia fixa os exaspera, os domina, os move à ação louca, por ser revolta; criminosa, por ser liberdade. Condenados, entregam-se humilde e conformadamente, àquilo que, com o tempo, se torna hábito – o sacrifício ao pé do tronco. Sofre junto ao tronco, uma alma cheia de resignação. Sim, porque o escravo sofre emudecido o que só uma grande alma sofreria sem revoltas. Às inexoráveis chibatadas do algoz ele descortina o peito onde pulsa o silêncio que enobrece. Aos sofrimentos, às crueldades que aureolam-lhe a vida, ele só reage com a genuflexão (ajoelhar) que é respeito e temor. As vergastadas cortam o espaço e chagueiam-lhe o corpo. E o miserável não chora porque não sabe chorar as lágrimas límpidas e visíveis, as lágrimas que escorrem pela face e tombam ao chão. Mas chora-lhe a alma pungida pelo sacrifício humilhante que lhe impõem. Chora-lhe o coração aculeado pelo escarmento desumano, pelo desprezo e pela injúria inclemente. Diante dos companheiros de sacrifício, na frente de seus sacrificadores, os olhos do cativo são secos como o areal batido pelo sol, onde nada germina, nada cresce. Mas sob o areal existe, em latência, a semente aguardando a oportunidade para a eclosão. Assim o escravo. Guarda as lágrimas, para o desbafo no retiro, à sombra fria dos pés de café. E na quietude dos cafezais, nas horas de descanso, à luz branca da lua junto ao cafeeiro e confessa-lhe, como a um leal amigo, as nódoas e os amargores de sua alma. Uma a uma, às vezes um fio longo, suga-lhe a terra as lágrimas. Ninguém o vê revoltar-se assim. E ao romper d’alba, está ele no posto de sacrifício, ao cabo da enxada ou da foice, oferecendo a sua atividade como seiva às plantações. Para os olhos do verdugo, o escravo não possuía os característicos que designam os verdadeiros homens: o de humanidade e o de racionalidade. Eram selvagens, brutos, bárbaros como o tigre e poderosos como os leões. Era preciso domá-los, acorrentá-los e subjugá-los pela brutalidade. Tal se deu. Agora digamos que destituídos de qualquer resquício de humanidade e racionalidade, eram esses que punham o capucho da barbárie na cabeça de quem tinha melhores atributos para superá-los numa classificação humana. O cativo tinha grande poder sensorial e caráter ainda maior porque, segregado do convívio social, inferiorizado e seviciado, não soube fantasiar-se em vingança assassina, nem em traição covarde. Suplantou as vaidades inimigas com o valor de um herói e a conduta de um cristão. Soube perdoar os insanos, sem borrifar de sangue as mãos. Mas o remorso – filho do crime, - foi a visão que puniu com o desassossego eterno os réus de tão vil ultraje. Os nossos cafezais foram regados com aquele pranto puro e nobre do negro. Por isso quando florejam os miríades de cafeeiros, aquelas ondas suaves de flores que se desenrolam aos baloiços da aura, são a alma em flor do preto, a vida do escravo na vida linda e odorante das flores. Apagou-se um dia a nódoa infamante. E, hoje, ainda reverdecem os cafezais. Explodem-lhe as minúsculas flores. E, em breve, um lençol homogêneo de flores forma um diadema branco que é a coroa de martírios do negro, realçante ao verdor da virente mata que o circunda. Aquelas flores puras são o sangue branco do escravo, seu sangue-alma. Ao depois, apontam no silêncio das corolas, o fruto verde que as manhãs bonitas de sol enrubescem. É o sangue-corpo, o sangue-seiva do escravo. Aqui estamos para tecer uma grinalda de honras ao sacrifício denodado do negro que assistiu ao dealbar da nacionalidade, ao toque primeiro das primeiras manhãs de nossa terra, elevando sempre o seu cálice de sangue, expandindo sempre as virtudes de sua alma. Legou-nos o preto o exemplo do sacrifício no trabalho, da resignação na adversidade, do amor nas humilhações. O amor das mães, a fé e a renúncia dos pais, revivem, hoje, o que outrora foi perfume expansivo do coração do escravo. O que se aprende nas manhãs da vida, não se esquece na noite dos anos. Jamais esqueceremos a gratidão que lhe devemos. Glória, pois, ao escravo – energia vitalizante do Brasil menino!

 

DESCALVADO NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM 15 DE NOVEMBRO DE 1889 (Gerson Álfio De Marco)

            (Segundo levantamento feito pela Câmara Municipal junto à Administração Geral dos Correios em São Paulo, pleiteando uma agência para Descalvado, no dia 3 de abril de 1889, tínhamos cinco mil habitantes na cidade e sete mil nas fazendas. A cidade tinha 25 ruas, 5 largos e 600 prédios, sendo 600 residenciais e 150 comerciais).

            Quando a monarquia brasileira ia deperescendo no começo da senilidade de D. Pedro II e na certeza do terceiro reinado outorgável a um príncipe estrangeiro, encolado na proteção conjugal de Isabel, a Redentora. Descalvado, arrobando seu café, registrava o expressivo total de 400.000, estando a caminho de 600.000, a começar a frutificação dos novos cafeeiros plantados, onde, antes verdeciam as matas seculares. Região opima em rubiácea. Descalvado produzia, ainda, cana de açúcar e afamado fumo sob as denominações de “Tomé Ferreira”  e “Descalvado”, excelente trabalho antigo nas folhas grudentas do “jorginho”  e do “jorjão”  abundantes no chão humoso. O rincão fértil não era cerealífero e, segundo o Almanaque Seckler de 1886, “não porque os terrenos não produzam abundantemente (cereais) mas por falta de agricultores que se empreguem na pequena lavoura. Esta lacuna, porém, tende a desaparecer em breve, com a colonização que está afluindo para os estabelecimentos agrícolas do município. “Era uma claríssima referência às crescentes massas colônicas, mormente das peninsulares, na sua penetração de coragem e de sonho, em nossas fazendas que já iam se desfazendo das gregárias senzalas semi-carcerárias e que já iam riscando, em vários sentidos, os alvéolos domiciliares das colônias, colmeias de gente de gesticulada conversa dialetal. Em breve, iriam sofrer uma forte italianização os costumes, a fala e a culinária nacionais, principalmente. A última Câmara Municipal, já com alguns republicanos, legislava sem pressentir a inconclusão da Legislatura serena. Presidia-a Dorismundo de Almeida Lisboa e vereavam com ele, Francisco de Paula Carvalho, Dr. Salvador Meyer de Vasconcellos D'Aguiar, Dr. Cândido Augusto Rodrigues, Boaventura de Figueiredo Pereira de Barros, filho do Barão da Fonseca; Gabriel Amâncio Lisboa e Major Arthur Horácio D’Aguiar Whitaker, as profissões liberais e a cafeicultura politicando. Na administração da Justiça. judiciava o Dr. Leônidas M. de Toledo Lessae, à frente do Ministério Público, encontrava-se o Dr. José Vieira de Moraes. Quatro médicos clinicavam na cidade: os Drs. Miguel Arcanjo da Silva, Anastácio Vianna, Salvador Meyer de Vasconcellos e Antonio da Silveira Lima. Advogavam na Comarca, os Drs. Amâncio Guilhermino de Oliveira Penteado, Cândido Augusto Rodrigues, João dos Santos Saraíba. João de Cerqueira Mendes e o solicitador Justiniano Leite Machado, provisionado pela relação. Dois dentistas estavam estabelecidos com seus gabinetes: O Dr. Nicolau B. Nellie, presumivelmente francês e Antônio da Silva Ferraz, ambos a empolgarem o aterrador boticão primitivo e que tanto endolerecia as bruscas e frias extrações dentárias pré-anestésicas. Três hotéis atendiam munícipes e viajantes, estes já trazidos pelos comboios da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, ou pelas ajaezadas montarias das rendosas romagens de incansável tropear. Eram o Hotel das Famílias, de Justo Rodrigues; o Hotel Universo de Leolino Rodrigues de Figueiredo e a Casa de Pasto, de A. Delgado. No campo educacional era a seguinte a situação de Descalvado, então na chamada Instrução Pública, encargo do governo provincial, havia duas cadeiras do sexo masculino, com quase uma centena de alunos e regidas por Francisco das Chagas Ourique de Carvalho e Olímpio Catão, este, educador que iria se assinalar nos arraiais da Pedagogia paulista, anos mais tarde, com luzida presença em congressos e movimentos outros de teor educacional; e uma cadeira do sexo feminino , regida por Maria Lourença de Oliveira Catão, cônjuge do já citado Olímpio Catão, cadeira essa com quase oitenta alunos. Ao pedagogo moderno isto parece um acúmulo condenável de discentes em uma mesma classe, mas não devemos nos esquecer que estávamos ainda, naquele tempo, atrelados, pedagogicamente, ao Mutual System, ao Sistema Monitorial de Lencaster, consistente no ensino de avultado número de alunos por um só docente, socorrido este, em seu mister, por discípulos mais adiantados, os monitores ou decuriões. Na instrução particular, havia o Colégio Catão, do já mencionado Olímpio Catão, com ensino suplementar e secundário e já co-educativo; e uma escola primária, dirigida por Fidélis Fortunato de S. Carvalho. A vida social do tempo, regrada certamente pelos arraizados ditames da moral provinciana de então, pulsava no Clube da Lavoura e Comércio, fundado em 1874, na Sociedade Recreio Familiar, fundada em 1880 e na Sociedade União Democrata, cuja data de fundação ignora-se. Havia ainda, a Sociedade Dramática Aurora, para as encenações periódicas dos insubstituíveis dramalhões lusitanos, com lacrimejamentos femininos e intensa comoção musculina, na platéia; das gastas peças de nossa medíocre dramaturgia e das traduções ou adaptações do vitorioso teatro da França e da Itália. Eram o cinismo, a malfeitoria, a prepotência, a pecúnia, dominando quase todo o entrecho, para o alegrador final moralizante. De quando em vez, o patético era substituído, na ribalta, pela comicidade eram os embaraços jocosos dos personagens centrais, mormente do clássico caipira a ferir as regras mais elementares da gramática. O Padre Francisco Teixeira de Vasconcellos Braga, gaúcho, apascoava o rebanho católico. José Ferreira Martins, com tipografia própria, editava o seu  semanário “O Descalvadense”. Desse jornalista nada se sabe a não ser que era republicano convicto. Olímpio Catão editava o seu “A Tenda”, também semanário. Nele também, queimava a chama do republicanismo. Seis comissários de café revendiam as copiosas safras municipais. Três fogueteiros fabricavam rojões e bombas para o foguetear citadino e rural e para a gabada pirotecnia concluidora dos festejos profano-religiosos, com os gabados castelos-de-fogo e as girândolas. Nove lojas de fazendas, ferragens e armarinho e quarenta e um armazéns de secos e molhados atendiam cidade e campo, este então já densamente povoado. Dois boticários aviavam, incansavelmente, as clássicas receitas da farmácia galênica. Duas padarias forneavam para a população urbana. Dois bilhares estalidavam em tacadas de ociosos diurnos e de jogadores noturnos na desocupação do post-trabalho. Seis oficinas de alfaiataria vestiam os corpos masculinos de urbanitas e rurícolas. Um ourives atendia homens e mulheres com seus acebolados cronômetros, alianças nupciais e ornatos da tafulice feminina. Duas bandas marciais congregavam o discipulado local de Euterpe: a Santa Cecília e a Recreio da Mocidade, nascidas certamente nas faixas partidárias, políticas, do Município. Sonoras oposições de entusiastas sustentadores. Cerca de trezentos fogos enchiam os logradouros urbanos, esses com lúridos lampiões de esquina a aclararem as noites tranqüilas. E a Igreja Matriz, dominadora e pesada, torreava ao meio de tudo. Era esta a Belém do Descalvado, nos meados novembrinos do ano republicano de 1889. Nesse mês e ano, nem mesmo o pugilo acomodado e infecundo dos republicanos locais acreditava na iminente degringolada incruenta das instituições monárquicas nacionais. Nosso Partido Republicano, moderava ao acalanto da música dum sonho longínquo, num semi-adormecimento de desânimo. O Partido Republicano de Descalvado, foi fundado ao que parece no ano de 1873. Constituíram-lhe o núcleo iniciador Antônio de Camargo Campos, Gabriel Amâncio Lisboa e Frederico Ernesto de Aguiar Whitaker. Mais tarde, uniram-se a eles José Rodrigues Penteado, Leopoldino de Arruda Paes, Olímpio Catão, o mestre; e José Ferreira Martins, o jornalista. No dia 16 de novembro de 1889, o telégrafo trazia notícia alvissareira, para a plêiade estupefata dos portadores do barrete frígio em Descalvado, enchicharrados nas inesperadas fulgurações de políticos a galgarem o poder municipal; e estupidificava os monarquistas ferrenhos, como os nossos dois barões (da Fonseca e de Descalvado) e o Dr. Amâncio Guilhermino de Oliveira Penteado, mais tarde anti-florianista opiniático, tanto de merecer, o talonamento dos adeptos do Marechal-de-Ferro, até dentro da propriedade agrícola paterna, Fazenda Graciosa, na gravíssima crise nacional de 1893, guerra civil fragorando no país. Caíra o Bragança; não desestimado dos brasileiros. O Positivismo acadêmico de Benjamim Constant e a espada pacífica de Deodoro vieram sombrejar o dia solar do império paternalista, a baloiçar-se, pouco contestado, na rede mansa da aceitação apática. Em Descalvado, musicou-se no evento altíssimo da inesperada republicanização pátria. Orou-se grandiloqüentemente e os rojões dos três pirotécnicos locais explodiram saudações aéreas aos republicanos da ex corte e de São Paulo e festejaram a queda brusca e cataclísmica da grei bragantina municipal e que se encovilara no desencanto e na frustração, jogada das alturas do poder antigo por aquele cambapé da história que se resumiu numa parada militar não domingueira, centrada pelo grito desafiador de Deodoro. Aos republicanos históricos uniram-se (não fosse o homem essa ventoinha girável ao sopro de todos os ventos) os costumeiros adesistas, gente que, antes, havia sorrobado longamente os homens do Império locais, mormente os nossos dois barões (o da Fonseca e de Descalvado); o primeiro rurícola, encastelado em sua Fazenda, a atual Fazenda do Barão, assim chamada, depois, por sua causa; e o segundo, típico barão urbano. No dia 16, os republicanos descalvadenses distribuíram à população, três boletins, dando a notícia do fato consumado. Sabe-se que Arthur Diderichen (parece-nos um saxônio ou filho de saxônio) mandou imprimir nas oficinas do semanário de José Ferreira Martins, 500 boletins, convidando os habitantes de Descalvado, para uma reunião às 17,30 horas na Câmara Municipal, para a escolha de um comitê de segurança pública, para mantença de ordem e tomar as primeiras medidas de uma administração republicana. Lendo-se a notícia em “O Descalvadense”  já mencionado, sente-se na expressão comitê de segurança pública, um odor revolucionário do 89 francês, mas sem o sangue de Paris. Pura macaqueação política e indigência do poder criativo no frasear. Na sala de sessões da Câmara Municipal, em prédio esquinar erguido entre as atuais ruas Orderigo Gabrielli e Cel. Arthur Whitaker, Arthur Diderichen, com a palavra, disse das razões da reunião (a escolha do já mencionado comitê de segurança pública), e exaltou o grande acontecimento histórico e fechou sua fala entusiasta, vivando longamente, na exaltação à República, a Deodoro, aos chefes republicanos, ao Exército, à Armada e ao Estado Federal de São Paulo, desbatizado de província. Encerrado o seu vivório, responsado animadamente pelos presentes, Arthur Diderichen entregou a presidência da reunião ao republicano Antonio Augusto Bezerra Paes, glória do partido em Descalvado, na expressão do jornal relator dos festejos. Indicou-se a princípio, três conspícuos cidadãos para comporem o comitê de segurança pública, mas, por fim, ante o grande número de indicações, o comitê viu-se constituído por dez membros. Não lhes colhemos os nomes. E o dia 16 de novembro findou entre taças de champanha e bebedeira geral, espocar de foguetes e entre vivas e amplexos fraternais. No dia 17, os festejos prosseguiram. Jorrou, de novo, o champanha entre os homens importantes; cervejou-se e os incorrigíveis perdedores de martelos de pinga encontram, nesse dia, bolsas mais liberais. Os rojões estrondejaram, outra vez, no ar citadino. No dia 19, domingo, ao anoitecer, músicos percorreram as principais vias públicas, enchendo os ares de marchas e dobrados e executando a Marselhesa defronte das casas dos mais considerados republicanos. Mais foguetada e ladainhado e vivar republicano. À porta de seu jornal “A Tenda”, orou Olímpio Catão e a noite entrou adormecendo vencidos e vencedores. No dia 20, reuniu-se a Câmara Municipal para o reconhecimento oficial da República. às 17,30 horas, no Legislativo, presentes nacionais e estrangeiros, a mesa deliberativa, composta pelos vereadores Durismundo de Almeida Lisboa, Francisco de Paula Carvalho e Gabriel Amâncio Lisboa, era presidida pelo Dr. Cândido Augusto Rodrigues, renomado advogado descalvadense e que, usando da palavra, disse que a sessão tinha por objetivo celebrar o advento da República no Brasil, criticando duramente a organização municipal do Império e dizendo esperar da República recém instituída a liberdade plena do município e que aceitava ele o atual estado das cousas como fato consumado, aguardando o pronunciamento da Nação na Constituinte que iria ser convocada. Terminada sua oração de júbilo e de fé republicana, o presidente solicitou ao secretário da sessão fosse lida a circular do dia 16, enviada pelo Governo Provisório do Estado de São Paulo à Câmara Municipal, submetendo a mesa à deliberação dos edis, para que estes se pronunciassem sobre ela. A vereança por  unanimidade, aderiu ao Governo Republicano e exteriorizou-lhe o apoio pleno. O Vereador Gabriel Amâncio Lisboa, propôs, com plena anuência de seus colegas de vereação, fossem enviadas as felicitações do Legislativo ao Governo Provisório do Estado de São Paulo e colocado um livro, na sala de sessões, para receber as adesões dos munícipes. “Terminado este ponto capital da sessão”, narra-nos “O Descalvadense”, “pediu a palavra o Dr. João dos Santos Saraíba, advogado no fôro desta cidade e leu a adesão escrita e assinada pelo cidadão Major Policarpo Normanha, antigo membro do ex-Partido Liberal, declarando em termos frisantes estar pronto e às ordens do Governo Republicano. Em seguida, o Dr. Saraíba fez vista retrospectiva  da história pátria e por ¾ de hora usou de seus recursos oratórios na tropologia nacional, e congêneres de outras nações antigas e modernas.” Interessante a redação de José Ferreira Martins, no noticiar o discurso do gabado causídico Dr. Saraíba. À palavra deste, seguiu-se de José Floriano de Camargo, aluno da Escola Militar e que, fazendo um paralelo entre a monarquia que se extinguira e o regime republicano, encomiou, ardorosamente, o último e gritou vivas

à República e ao Governo do Estado de São Paulo. E, ente aclamações e intenso júbilo, findou a jornada comemorativa do dia 20 de novembro, em Descalvado, palco histórico a Câmara Municipal, decorada com flores e ostentando, ao fundo, entrelaçadas, a bandeira da República e a de São Paulo. E a grande noite descalvadense desse memorável dia baixou sobre o cansaço de festa dos veementes oradores, dos erguedores de brindes, nas campanhadas solenes; e dos menos afortunados, que haviam se encharcado de cerveja ou mesmo bebericando a aguardente do pobre, engargalando-a, ebrirridentes. Os republicanos começavam a governar o Município. Muitos monarquistas antigos afinaram seus instrumentos de hinos apoteóticos ao Império, com os dos da jovem orquestra republicana, a hinar à Pátria Nova. Alguns deles se encaramujaram num ostracismo definitivo. A cultivarem um saudosismo heróico. E os nossos dois barões encolheram-se, dignamente, na sua baronia extinta.
 

A IMIGRAÇÃO ITALIANA (Mário Joaquim Filla)

 

            No fim do século XIX, o movimento abolicionista associado à expansão cada vez maior do café, foi o estímulo para a vinda de imigrantes, principalmente italianos, para o município de Descalvado. O recenseamento de 1886 informa: “Neste município de Descalvado, vai superando, com grande facilidade, a transformação do trabalho, pois que aumenta, extraordinariamente, a colocação de imigrantes em propriedades agrícolas, sendo, talvez, dentro dos municípios da Província o que maior número de colonos conta”. Na época de 1890 a 1910 o município de Descalvado recebeu, aproximadamente, cerca de 3.000 famílias provindas do norte da Itália. Com isto, a população municipal, elevou-se, rápidamente, para quase 30.000 em 1900. A laboriosa colonia italiana, a quem Descalvado, sempre e por sempre deve render o seu reconhecimento e a sua homenagem, veio substituir, assim, num extraordinário afã de trabalho o braço escravo, trabalhando, inicialmente, sob obrigações de “colonos”. aparecendo, depois, a oportunidade da pequena propriedade, fato bastante auxiliado quando, o governo da Província, em 1884, estabelece lei de “dar preferência” aos contratados para a formação de pequenas propriedades, dispondo-se a vender aos imigrantes, lotes próprios para a cultura de café, cessando, a partir daí, a grande propriedade, no aparecimento dos primeiros minifúndios”. De 1906 a 1910 crises de superprodução de café; geadas em 1918 e com o esgotamento do solo a população começa a se deslocar, notadamente para o interior do Estado, a procura de novas terras, acompanhando, sempre, o avanço do café, ocasião em que verifica-se uma diminuição gradativa da população atingindo-se índices, os mais baixos, iniciando-se, depois, novos acréscimos de acordo com as fases do Município. De uma forma ou de outra, em fases auspiciosas ou enfrentando as surpresas de novas épocas, o fato é que, está bem patente na História de Descalvado, a valiosa colaboração da mão de obra italiana.

 

A VIDA DOMÉSTICA E ALGUNS COSTUMES ALIMENTARES DO SÉCULO XIX NA REGIÃO ( Prof. Manuel Pereira de Godoy)

 

            Para as necessidades diárias da vida doméstica, a família contava, geralmente com pouco mobiliário: um guarda-roupa (raridade), um ou alguns baús para guardar toda a roupa; uma cama de casal (e as de solteiro), com colchão de capim ou de palha-de-milho, travesseiros de paina ou de pena de pato; uma mesa tosca com bancos ou com cadeiras com assento e encosto de tábua torcida e trançada, ou de couro cru trançado; quando o chefe da casa tinha algumas posses, então, havia uma sala de visitas com cadeiras melhores. Em geral, na sala de visitas, a um canto, ficava o pequeno oratório familiar com o santo ou os santos preferidos de cada casa, com um pequeno vaso com flores e, até, um copo com azeite e uma pequena vela vocativa acesa. Na cozinha dos mais pobres e até dos mais abastados, havia o fogão e o forno separado e à lenha. Grande parte dos utensílios de cozinha e de mesa era de ferro, de barro queimado e de madeira, como as gamelas, feitas de raízes; colheres, garfos e pás de pau, de caxeta, madeira branca, mole e que não dá gosto à comida.  Em nenhuma casa podia faltar o pilão, de vários tamanhos e para diversas utilidades: descascar arroz, moer o café em grão torrado, fazer paçocas de carne seca com farinha de milho e de amendoim torrado com farinha de mandioca. Na maioria dos quintais e na zona rural existia um poço perto de cada casa, com sarilho em corda e balde para tirar água de beber, para lavar louças e panelas e roupas, para cozinhar, etc. A comida principal e diária do passado, foi o arroz e o feijão, acompanhados de farinha de milho. Como “mistura” às refeições eram usadas carnes de caça, de vaca e de porco, lingüiças, torresmo, couro de porco frito e bem pururuca, ovo frito e em forma de farofa com farinha de milho ou de mandioca, peixe frito, assado ou ensopado, palmito do mato, pão e biscoito feitos em casa. Como doces: doces de leite e em pedaços, de abóbora, de cidra, de coco, de mamão, de figo, de pêssego, pés de moleque, cidrões e rapaduras e saborosos sequilhos e biscoitos de polvilho azedo, bolos e broinhas de fubá. O leite era tomado de manhã com café e alguma mistura como mandioca cozida, biscoitos e polvilho, etc. Nos domingos e dias especiais, a mesa era mais rica e farta com frango de panela e cheio, assado ao forno de lenha, leitoa e o cabrito assados, o cuscuz de frango. Do leite faziam deliciosos queijos, requeijões e coalhadas, consumida ao natural, ou com açúcar e goiaba bem mole. Faziam também arroz-doce e a canjica. O sal usado era o “sal grosso”, pilado em pequenos pilões pelas famílias. Bebidas: aguardente de cana, cerveja importada da Inglaterra em garrafas de argila queimada, vinhos e licores de Portugal, e vinhos da Itália. Geralmente o café era servido bem cedo entre 4 e 6 horas, o almoço entre 9 e 10 horas, e o jantar entre 14 e 15 horas. A noite entre 18 e 21 horas era servida a ceia, uma espécie de segunda janta.


Voltar