ESPORTES EM DESCALVADO (Gerson Álfio De Marco/Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

COMISSÃO MUNICIPAL DE ESPORTES

Criada em 18 de março de 1970 pela Portaria de nº 10/70 Prefeito Deolindo Zaffalon, tendo como Presidente Daltayr Anacleto Pozzi, Vice-Presidente Luiz Carlindo Arruda Kastein, 1º Secretário José Antonio Miranda, 2º Secretário Sebastião Hansem, 1º Tesoureiro Antonio Paulo Adorno Galetti, 2º Tesoureiro João Roberto Bertini, Relações Públicas José Maria Constante Melki. Auxiliares: Isoldino Laurindo Monzani, Júlio Carlos Zóia, Luiz Fernando Zaffalon, Flávio Tadeu Zerbetto de Marco, Antonio Oswaldo Assoni, Rute Maria Pozzi Casati, Maria Aparecida Fioroni, Vera Lucia Quachio, Sofia Caucabene, Antonio Carlos Octaviano e Lisieux Tognetti.

 

A RAIA

            A raia, a corrida hípica, a dois, velho esporte provinciano do Brasil, até a quarta década do século atual. Duas trilhas retas, com 300 metros de comprimento, iniciadas na xeringa. A cada 100 metros uma quadra. A cada 50 metros, uma meia quadra. Assim, na ordem, a partir da xeringa: meia quadra, uma quadra, quadra e meia, duas quadras, duas quadras e meia e três quadras. Descalvado, como outros municípios do país, teve também, a sua raia. Na sua zona rural e na sede urbana. Na primeira, entre outras, a da Estação do Pântano. Na cidade, o local eleito para ela foi o Bairro de São Benedito. Aí, dos últimos dois anos do século XIX até o término deste século, existiram, precisamente, duas raias: uma, sentido leste-oeste, desde a implantação desse esporte hípico até finais de 1924; e outra, em sentido sul-norte, de 1926 até seu final. As corridas, as carreiras efetuavam-se aos domingos e com grande concurso de proprietários de animais e de aficionados. Havia, sempre uma corrida principal, logo de início, contratada com antecipação e, muitas vezes, dada a sua importância, com contrato lavrado em cartório. Corrido o páreo principal do dia, combinavam-se na hora, outros, chegando-se a atingir até, num só dia, o número de quinze páreos. Mas esses já eram páreos de animais de menores virtudes. Apostava-se muito em todos eles. Foram anos de intensa paixão hípica, festivas tardes domingueiras, nesta aprazível terra de bom café e de bons cavalos. E de boas mulas, pois Manuel Nobre (Manoel Baiano), era dono da famosa Mula Pampa, que arriscava corridas com cavalos, vencendo-os galhardamente. E quando isto sucedia, a raia era toda um gargalhar, uma festa diferente. Velha raia descalvadense, dos rápidos cavalos e da mula intromissora de Manoel Baiano!

 

POLO:

Descalvado que foi exportador de bolas de polo, já que a fábrica de propriedade da Família Pinca, era das únicas da América do Sul, teve uma equipe de polo, campeã brasileira em 1933, vice-campeã brasileira em 1934, campeão paulista em 1933 e 1939, vice campeão paulisrta em 1934 Sociedade Hípica de Descalvado, fundada em 1929 e extinta no ano de 1960. Mais tarde seria Campeão Mundial de Polo,  José Adão, que venceu vários torneios inclusive na Europa. Os maiores handicap de polo foram Glenan Leite Dias no ano de 1933 e José Adão no ano de 1960.

 

PROVA PEDESTRE NOSSA SENHORA DO BELÉM:

Idealizada no ano de 1956 pelo esportista José Geraldo Bertini, a prova ganhou nome, atraindo corredores de todas as regiões do estado. Efetuada anualmente no dia 7 de setembro, no período da manhã, com partida e chegada da Praça Barão do Rio Branco, no seu primeiro ano de realização, viu vencedor o atleta campineiro, Bertolino de Souza, que fez os 2.500 metros em 8’ e 2’’. Correram neste ano 22 esportistas. Em 1957, o mesmo número de esportistas, ainda em 2.500 metros, e vencedor o atleta descalvadense Mário Silva, com o tempo de 8’ e 50’’. Em 1958 o percurso foi aumentado para 3.500 metros, vencendo os 32 participantes, o atleta lemense  João Batista Penteado, no tempo de 8’ e 9’’. No final dos anos 60 a prova deixou de ser realizada.

 

BASQUETE:

A equipe feminina de basquete do Clube Esportivo e Recreativo Descalvadense, entre o final dos anos quarenta e início de cinqüenta, foi campeã duas vezes e vice-campeã uma vez do Troféu Bandeirantes. A descalvadense Maria Helena Cardoso foi jogadora e técnica da seleção brasileira de basquete. O atleta Cadum integrou a seleção brasileira masculina de basquete na década de oitenta.

 

FUTEBOL

(Francisco B. Lício escreveu no Jornal “O Comércio” no ano de 1970)

Descalvado, em toda sua história nunca foi uma potência futebolística, eis que sempre tivemos quadros medíocres, que apanhavam com regular habitualidade dos times vizinhos.         O povo adorava o futebol, que era uma das paixões da época, mas infelizmente nunca conseguimos montar um daqueles esquadrões, um daqueles quadros mitológicos, como o C.A.P. de Pirassununga, ou o Velo de Rio Claro. Sempre andamos por baixo, bem por baixo... Nos fins da segunda década, e princípios da terceira entre 1918 e 1922 tivemos a nossa melhor equipe, onde eram astros de grandeza sem par o Nando Galetti. “O menino de ouro”, o Jaburu o famoso atacante, terror dos goleiros, o Chico Mayese, e o inexcedível goleiro Xororó, que deixou atrás de si um fabulário. Certa ocasião, mesmo, chegamos a bater um famoso quadro da Capital, antigo São Bento, esquadrão notável, fato que foi, depois, glosado em prosa e verso; adaptou-se, até, uma letra nova à música em voga. “A Baratinha”, para cantar o feito homérico. Nos domingos de jogo, havia todo um cerimonial a ser observado: a velha Banda Santa Cecília, saia de sua sede, num quartinho no prédio da prefeitura, logo as três e meia da tarde, e fazia evoluções pelas principais ruas da cidade, executando os seus velhos e sussurrados dobrados; e à sua frente caminhavam gingando o corpo, em maneio de insuperáveis arqui craques, os jogadores do quadro local, todos uniformizados. E indefectivelmente, o goleiro caminhava de posse a bola, batendo-a vez por outra contra o solo, com monchalance, numa pose estudada de grande vedete... Em épocas mais recentes, pelos meados dos anos 20, o quadro local, o Guarani, bipartiu-se, em razão de briga interna, dando lugar ao nascimento do Clube Atlético Descalvadense. Este, à falta de campo para jogar, pois que o Guarani ficou com a posse da velha cancha, perto do grupo escolar, tratou de construir o seu pelos lados de São Sebastião. Sua sede era no famoso “Sobradinho”, de propriedade dos Mayese, na rua Cel. Tobias, naquele trecho de rua que, sabe se lá por que razão, era chamado do bairro Chinês.       Jogavam pelo Guarani nomes famosos de grandes craques, como o Humberto Casati, o dr. Mário de Moura Albuquerque, então Promotor Publico, os irmãos Rufo Tavares, e outros; enquanto que o Atlético, cujo patrono era o farmacêutico João Monteiro, dispunha dos jogadores famosos: Cristiano Ferraz, Chico e Toni Mayese, Nico Tambaú, Lauro Pozzi e tantos outros. A rivalidade entre ambos estendeu-se a todos os campos de atividade da cidadezinha, dividiu a população, e quem era do Guarani não falava com atleticano, e vice  versa. A aversão entre os dois bandos foi num crescendo tal até que elementos  neutros – e como eram poucos! – conseguiram uma confrontação direta entre os dois quadros, numa série de melhor das três. O Guarani  venceu a disputa, e o Atlético de mágoa, a partir daí, entrou em decadência, minguou, minguou até desaparecer de morte natural. Quando ele se extinguiu, o Guarani seguiu-lhe os passos e foi fazer-lhe companhia no além: morreu, também.          O futebol descalvadense entrou em compasso de espera, por longos anos.

CRAQUES DO FUTEBOL PROFISSIONAL:

Descalvado forneceu craques para o futebol profissional. Entre eles João Cardoso que jogou pela Ferroviária de Araraquara, João Roberto Giacomeli pelo Comercial de Ribeirão Preto e Flávio Tadeu Zerbetto De Marco pelo Guarani de Campinas. No ano de 1986 a equipe do Clube Esportivo e Recreativo Descalvadense sagrou-se campeã estadual da 3ª Divisão de Profissionais.

 

MAGELA E MOTINHA (Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

Anos 50. Magela natural de Casa Branca, recém formado no magistério, viria lecionar Geografia e História no Colégio Estadual de Descalvado. Magela o que tinha de inteligência e dinamismo tinha também de humildade e timidez.  Mestre muito bem relacionado com seus alunos, não demorou a se entrosar com os jovens  a ponto de logo aceitar um convite dos craques da cidade para um treino de futebol. Mas convidaram por convidar. Achavam até que o Professor seria motivo de palhoça, ainda mais quando apareceu no campo de treino com roupa emprestada, por sinal bem maior que seu físico comportava.  Qual não foi a surpresa, quando iniciado o treino, o Mestre provou ser também o professor da bola, no controle, nos passes, na finalização. Deu um show. A notícia correu de boca em boca, e não demorou a chegar aos ouvidos do técnico Berto do CERD, time principal da cidade e que na época disputava o campeonato amador regional, com grandes chances de conquistar o título. Foi aí que descobriram que Magela na sua humildade não havia dito que era jogador profissional, não havia chances de disputar como amador. Mas e o jeitinho descalvadense? Logo o técnico Berto buscou uma solução. No domingo o CERD enfrentaria um dos mais tradicionais rivais, o Atlético Santaritense e precisava vencer. O jogo seria em casa, no Estádio Antonio Carlos Guimarães, que ficava do lado do Ginásio Estadual. A presença de Magela seria fundamental para o time. A solução veio assim: Magela jogava de ponta esquerda. Inscrito no time do CERD como meia esquerda estava o jogador Motinha que continha muita semelhança física com Magela. Naquela época antes do início do jogo o Juiz da Federação Paulista de Futebol chamava os jogadores individualmente e conferia com a ficha de inscrição que continha a foto. Motinha que era bom de bola mas não tão craque quanto Magela entrou em campo com a equipe cerdeana. O Juiz conferiu as fichas. Tudo certo. Os jogadores do CERD foram então bater bola na gol que ficava logo ao lado dos vestiários. Foi quando Motinha sorrateiramente saiu de campo com destino ao vestiário, como se fosse ao banheiro. A troca de uniformes foi rápida e eis que volta em campo Magela com a camisa 10 de Motinha. O Juiz, nem tampouco os jogadores adversários perceberam. A torcida descalvadense partilhando, se portou condignamente e não gritava Magela, mas Motinha, mesmo quando aquele marcou os três gols na vitória de 3 x 1 sobre o Santaritense. O CERD se classificou com méritos. O Jornal O Santaritense divulgava na semana seguinte ao jogo: Atlético Santaritense cai em Descalvado frente ao futebol espetacular de Motinha... Berto e Magela deram um sorriso matreiro...
 

COMISSÃO MUNICIPAL DE TURISMO
 

Criada no ano de 1970 através de Portaria do Prefeito Deolindo Zaffalon, tendo como primeiro Presidente o Sr. Alberto Sundfeld.

 

SAÚDE (Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

Médicos:

- 1º Médico de Descalvado - Dr. Francisco Ezequiel de Meira Júnior que chegou em Descalvado aproximadamente em 1860.

- Outros médicos do início do século e seus consultórios:

- Dr. Cruz Abreu - Largo da Matriz, 22

- Dr. Anastácio Vianna - Rua Cel. Tobias

- Dr. Manoel Penteado - Rua Cel. Tobias 

 

Dentistas do início do século:

- Epaminondas Ferreira - Rua 13 de maio, 20

- José Alvim de Aguiar - Rua Bezerra Paes, 42

 

Doenças e Epidemias no Descalvado

de 1862 a 1890

(Antenor Ervêu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello)

Fundado em 8 de Setembro de 1832, o pequeno povoado de Descalvado viveu, nos seus primeiros 30 anos de vida, praticamente desaparelhado de recursos médicos e de enfermarias. Ao lado da variola, as icterícias, o sarampo a mamila e as febres que se transmitiam provavelmente em conseqüência de condições criadas pela alimentação e pelas águas de que se serviam os moradores de menores recursos, eram as doenças que, por vezes. se mostravam intensamen te dramáticas. Como não houvesse médicos apareciam os mezinheiros, os triagueiros, os benzedores e curandeiros para tratar desses males e mais das bexigas, priorizes, tabardilho, câmarasde sangue, nó nas tripas, espinhela caída e outras enfermidades. Esse estado se prolongou até 1870. De 1850, em diante, a varíola entrou no Descalvado e fez grandes devastações. Relata um viajante da época «que são morbos endêmicos  as bexigas, e é rara a pessoa a quem cometam, que não matem. São tão medrosos os habitantes do povoado a esse respeito que até desconfiam de ouvir falar nela. Desconfiava‑se quase sempre que nesse tempo a variola fosse introduzida no distrito do Descalvado, por negros procedentes do litoral ou das minas, comprados para servirem na lavoura. Houve pestes no Descalvado, principalmente a de 1889, que eram uma espécie de varíola de qualidade muito brava, começando pela garganta e pela língua, o corpo se cobria de uma espécie de lepra, as carnes se destacavam apodrecidas e com muito mau cheiro e o doente, entre três ou quatro dias. morria. 2 - Já em 1851, determinava o Juiz de Paz do disitrito com as prerrogativas que lhe eram peculiares, “que toda a pessoa que tivesse algum enfermo ferido de peste, lhe desse logo parte para que o doente fosse  retirado”. Uma Ordem Régia determinava “que no caso de haver morador acoitado bexiguentos em sua casa. ainda que o bexiguento tivesse saido, dali, há seis meses ou mais, devia o morador mandar limpar muito bem limpos e defumálos, por dentro com “bosta de gado”e depois de muito bem vasculhados, os cômodos da casa. Os lixos deviam ser queimados e não seriam postos na rua nem nos bêcos da cidade, em que era costume, mas deviam ser enterrados e a morada deveria ser rebocada com tabatinga por fora e por dentro, tendo-a primeiro aberto para que o ar fétido, dela saia.” Nos recuados tempos do Descalvado primitivo, a crendice andava de mãos dadas com a ignorância. Combatia-se a varíola com a cachaça. O sarampo também tinha seu remédio heróico na pinga. No combate ao sarampo e a escarlatina, usava-se a baeta vermelha que empregada em cueiros e cobertores, fazia “sair” a doença. De 1875 a 1887, houve vários casos de fe­bres, de sarampo, de tifo e de bexigas, sem que constituissem epidemias ou trouxessem pânico. Em 27 de Agôsto de 1882, Leocádio de Matos pedia a nomeação de uma comissão para entender se com o delegado de policia local e promover todos os meios a fim de evitar a propaganda da varíola que ameaçava o município. Foram nomeados, para esse fim, Leacádio de Matos e o alferes Isaías Pereira de Carvalho. Nessa mesma sessão, o Juiz Municipal Francisco de Paula Carvalho remetia, à Câmara, as contas havidas com as despesas de tratamento de uma variolosa iso­lada, na importância de 285$200, devendo deduzir-se dessa importância, a quantia de 125$600, produto de uma subscrição pública. Como não houvesse dinheiro, foi nomeada, novamente, outra comissão para angariar dinheiro, fazendo parte dela Leocádio de Matos e Antônio Camargo Neves. 8 - Em 6 de Maio de 1796, Edward Jenner, mé­dico inglês, teve a genial intuição de empregar o vi­rus do “cow-pox” para imunizar contra o “small-pox”. O método de Janner passou então a ser empregado em larga escala e, através de grandes dificuldades, foi se generalizando em todos os países civilizados, onde a vacinação contra a variola passou a ser exigida por lei. No Descalvado, a vacinação contra a varíola começou em 1887. Antes praticava-se a chamada “variolização” (já usada pelos chineses 590 D.C.) que consistia na inoculação, por instilação nasal ou por escarificação cutânea, de material colhido de pústulas variolosas. Obtinha‑se, nestas condições, uma doença relativamente branda e que deixava sólida imunidade. 9 - O vereador Boaventura de Figueiredo Perei­ra de Barros, que tinha um cuidado extremo pelo es­tado de salubridade do município, em 3 de Fevereiro de 1887, pedia à Inspetoria de Higiene da Capital, a remessa de alguns tubos de linfa vacinica. Essa linfa vacinica, em 11 do mesmo mês, chegava ao Descalvado, em dois tubos. Foi procedida a vacinação na cidade e nenhum caso apareceu nesse ano. No ano seguinte, em 10 de Maio de 1888, era solicitado o concurso do delegado de policia para ser removido um bexiguento que estava em tratamento na estrada que vai desta Vila ao Sertãozinho. A Lei Áurea sancionada em 13 de Maio de 1888, pôs em movimento a gente negra. Eram negros que saiam do município e que nele chegavam. Muitos vieram de zonas contaminadas e de terras batidas pela varíola. E de tal monta foi esse movimento, que em 4 de Julho de 1888, quase dois meses apos aquele evento cívico, foi necessário convocar uma sessão extraordinária da Câmara, únicamente para tratar-se do gravíssimo caso de varíola que estava grassando no município, principalmente nas fazendas dos senho­res Tenente Coronel José Ferreira de Figueiredo e Elisiário Ferreira de Camargo Andrade. Como o mal ameaçasse generalizar se, o vereador Boaventura, en­tão presidente da Câmara, indicou que se nomeasse uma comissão especial para escolher um local apro­priado para isolar os doentes que aparecessem ataca­dos daquela moléstia e que se oficiasse ao delegado de policia local, a fim de tomar as providências ne­cessérias para que o mal não se propagasse, convi­dando-se os médicos da cidade para administrarem a vacina, em dias determinados, na casa da Câmara. A comissão especial foi composta de Gabriel Amâncio Lisbôa, Durismundo Lisbôa e Paula Carvalho. Nessa ocasião, era solicitada, da Inspetoria de Higiene da Capital, novos tubos de linfa vacínica, tendo a refe­rida Inspetoria enviado essa linfa em 9 de Julho, ten­do a mesma distribuída aos médicos locais para aplicá-la. Como a varíola parecesse tomar caráter endêmico, no município, resolveu‑se, em 11 de agosto de 1888, solicitar os bons ofícios do doutor Mancel Teodoro de Macedo Soares residente em São Paulo, a­fim de que ele se dignasse vir até à Vila do Descalvado para proceder a vacinacão, concorrendo a Câmara com as despesas da viagem e estada do ilustre médico na cidade. Não se fez rogar o doutor Manoel Teodoro e, com toda a solicitude e urgência, veio ao Descalvado para o fim que fora convidado. Na sessão de 25 de setembro de 1888, por proposta do vereador Gabriel Amâncio Lisbôa, a Câmara resolveu dar um voto de agradecimento ao Exmo. Sr. Dr. Manoel Teodoro de Macedo Soares, pelos serviços de vacinação que prestou gratuitamente ao município e, também, um voto de agradecimento ao senhor Tertulino Guimarães pelos serviços que prestou auxiliando àquele. 10 – Gabriel Amâncio Lisbôa, Vice-Presidente da Cãmara comunicava em 18 de dezembro de 1888 que, havendo recebido denúncia do Sr. Dr. Cerqueira Lima, da existência, dentro da Vila de uma mulher italiana afetada de varíola e constando-lhe que essa italiana era colona da fazenda do sr. Elisário Ferreira, desse Município, incontinente autorizara o Procurador da Câmara, a retirar o doente da cidade e mandá-la para a fazenda de onde é colona, importando a despesa em 25$000. A varíola não recrudesceu e assim foi todo o ano de 1888.

Epidemia de 1889

II - O ano de 1889 começou cheio de casos de febres não só dentro da cidade como em as fazendas e propriedades agrícolas do município. Assim foi durante os meses de Janeiro e Fevereiro. Em Março, a situação piorou muito, criando pânico. Em 25 de Abril, de tal maneira se alastrou o mal que a Câmara se reuniu extraordináriamente para «tratar unicamente de prevenir-se o aumento dos casos de fébres com mau caráter que se têm dado nesta população, por cujo motivo o povo está aterrorizado de tal ma­neira a ponto de acusar a Câmara de indolente porque dizem que ela não tem de forma alguma procurado promover os meios de prevenir o mal.» Era presiden­te da Câmara, nesse ano, os cidadão Cândido Augusto Rodrigues, um grande e digno batalhador da causa pública. Abrindo a sessão, em palavras exaltadas, o bravo descalvadense contestou essa afirmação, pois, disse, que sempre esteve vigilante a Câmara. Por sua iniciativa, afirmou, ainda há alguns dias atrás, alguns vereadores saíram, em comissão, a fim de visitar fábricas de cerveja, cocheiras, pocilgas, quintais de casas e outros lugares dos quais se suspeitavam que saissem “miasmas” pestilentos. E ficou constado que em alguns desses lugares, não existia limpeza, tendo a comissão ordenado que fossem removidos os lixos existentes, feita a lavagem e desinfecção das casas assim encontradas. Como o momento era de urgência e a situação quase calamitosa, o presidente pediu a cada vereador que expendesse seu ponto de vista. Paula Carvalho, em nome dos colegas, alvitrou que, nessa situação, melhor falaria um dos médicos da cidade, eis que o assunto era de salubridade e ao mé­dico era dada essa autoridade. Aprovado ponto de vista de Paula Carvalho, foi convidado o doutor Miguel Arcanjo da Silva, médico de maior renome na cidade e que já fora vereador, para esse fim. Presente o doutor Miguel Arcanjo da Silva, disse ele, depois de lhe ser exposto o fim para que foi chamado que “com efeito, a salubridade publica desta população não é boa, mas que não atingiu ainda o caráter medonho e atemorizador como se tem propalado. Disse mais que é verdade terem-se dado alguns falecimentos provenientes de febres biliosas com caráter tifóide e outras moléstias, aliás graves, mas que em sua consciência de médico afirmava que nem um caso de febre amarela se tem dado segundo se diz. Disse ainda que essas moléstias são próprias do tempo irregular em que nos achamos e produzidas pelo ar impuro que respiramos. Por essa causa e para minorar o mal e diminuir sua causa, convinha que houvesse muita limpeza nas ruas, nos quintais e nas casas, sendo estas desinfectadas por meio de drogas apro­priadas. E feito isto, nada mais poder‑se ia exigir, a não ser a total desinfecção feita por grandes chuvas torrenciais e continuadas». Aceito o ponto de vista médico do doutor Miguel Arcanjo da Silva, que se pôs à disposição da comissão, imediatamente se constituiu uma comissão de vereadores para percorrer a cidade e examinar as casas, quintais e ruas, fazendo parte da comissão o ilustrado médico. De tal forma se conduziu o doutor Miguel Arcanjo da Silva, nesse afã, que cambaleou enfermo para morrer logo no ano seguinte, em 17 de Julho de 1890, com 43 anos de idade. A comissão, investida de poderes extraordinários, vasculhou o Descalvado todo. As cocheiras, as pocilgas e galinheiros foram fechados. Os animais de sela e de tiro foram removidos para os pastos. Nenhum porco ficou nos chiqueiros da cidade e as aves do­mésticas foram soltas nos quintais, queimando‑se os galinheiros. As casas eram imediatamente desinfectadas, apenas algum morador demonstrasse a menor indisposição orgânica. Os doentes eram removidos para o lazareto velho, um velho prédio que ficava para o lado debaixo dos trilhos da estrada de ferro, passando pelo local que se denominava “buracão”. As famílias que possuiam propriedades agricolas, haviam, há tempo, abandonado a cidade. A tristeza to­mou conta da povoação e os enterramentos dos mor­tos eram feitos de qualquer modo, mesmo sem caixão e quase sempre às escondidas. Havia doentes que morriam à falta de qualquer socorro ou tratamento. 12 – As drogas mais comuns, nesse tempo, eram o sal amargo, maná sene, ruibarbo, linhaça, vidros de Opodeldock, vermífugos, láudano, balsamo tranqüilo, óleo de meimendro e de amêndoas, arnica, além dos remédios caseiros como o purgante de Leroy, o xarope de agrião e os preparados de limão com ferros velhos “que se misturavam contra a opilição”, e as pomadas e ungüentos. A essas drogas podiam ser acrescentadas as Pílulas Paulistanas, anunciadas com tanta insistência nos jornais de meados do século XIX, de cujo preparador e de cujas qualidades dizia a Revista Paulistana, da Capital em 1857: “O senhor Carlos Pedro Etchecoin, residente nesta Província, há quinze anos depois de muito trabalho e longas experiências, conseguiu, com o auxílio de plantas vegetais, formar umas pílulas que denomina PAULISTANAS, com as quais se propõecurar todas as enfermidades, ainda as mais crônicas, e também a mortífera febre amarela”. 13 – Como a capacidade do lazareto velho fosse diminuta em leitos, os doentes eram esparramados de qualquer modo sobre velhos colchões e sobre esteiras estendidas no chão. O medo fez com que ninguém procurasse Descalvado nessa fase. Os produtos da lavoura não vinham para a cidade e esta se ressentia disso, pois começaram a escassear os gêneros de primeira necessidade. A epidemia que grassou no Descalvado, em 1889 também apanhara outras cidades A vista disso e porque a Assembléia Provincial estivesse reunida extraordináriamente para o fim de decretar medidas que prevenissem futuras invasões de epidemias que assolaram Santos e Campinas o vereador Francisco de Paula Carvalho propunha, em 20 de Maio de 1889, que se representasse perante aquela Assembléia Provincial a fim de que fosse dotado o Descalvado da verba de 40 contos de réis para o abastecimento de água para a cidade, principal elemento para a futura garantia da sa lubridade pública. Em fins de maio a epidemia decresceu, e a cidade pode respirar aliviada,desse tremendo pesadelo. 14 – Ainda sob o aturdimento dessa calamidade, a Câmara reuni-se em 27 de maio. Nessa sessão o vereador, Durismundo Lisbôa indicou à Câmara que, à vista do modo louvável com que se portou o atual zelador do cemitério desta cidade senhor Domingos Soares de Barros Melo, durante a quadra calamitosa por que passamos, devido a epidemia que reinou nesta população, conservando-se ele sempre firme e pronto no desempenho do seu cargo a qualquer hora que fosse procurado, proceder esse que talvez não se en­contrasse em outra qualquer pessoa no seu lugar e na ocasião péssima que venceu devia ser dada, ao mesmo zelador a gratificação de 50$000 pelos bons serviços prestados e que ainda continua a prestar. Essa indicação foi aprovada unanimamente. 15 - A varíoa continuou porém na cidade, embora em forma benígna, a fazer uma ou outra vítima.­ Uma delas foi Maria Flávia Grassi, a menina que de­clamou em presença de Sua Majestade Dom Pedra II, quando de sua visita à cidade; e que faleceu vítima de febre em 19 de Julho de 1889. 16 ‑ Em 2 de outubro desse mesmo ano era  enviada, pelo Governo Provincial a quantia de 50$000 para acudir os atacados de varíola na cidade. Como ainda continuassem os casos de varíola, em 25 de Novembro de 1889, foi pelo Dr. Inspetor de Higiene da Província, autorizada a despesa na importância de 2 contos de réis para atender a todos os casos.

Um caso pinturesco durante o recolhimento dos doentes

I7 -  No acesso da epidemia, quando eram removidos os doentes de suas casas respectivas para o velho Lazareto, eram comuns os casos de roubos e assaltos. Um dos doentes recolhidos ao Lazareto, desconfiando de que, durante a sua ausência, os amigos do alheio lhe revistariam a casa não temendo a moléstia, levou. consigo, todos seus pertences. Era ele Braulio José Pompeu. Ao sair do hospital dos variolosos reclamou esses objetos, tendo lhe sido apresentado pelo enfermeiro Bento Antônio dos Santos, um diminuto número de obietos. Reclamou Bráulio José Pompêu em solene estrilo ameaçando céus e terras, contra a espoliação de que foi vítima reclamando, da Câmara a indenização Esta à vista de sindicância procedida, deu razão à vítima e mandou que lhe fosse paga, pelos cofres públicos da municipalidade a quantia de 350$000 certa de que alguém, dentro do lazareto, levara em uma hora trágica como aquela, os pertences de Bráulio José Pompêu.

Fim da epidemla de 1889

18 - Em 20 de Janeiro de 1890 era apresentada à Intendência Municipal (pois a Câmara fôra dissolvida em 15 de Novembro de 1889), a conta das despesas havidas com o hospital dos variolosos sendo essas despesas na importância de 4305$940.  Dava se como finda a epidemia.

O Novo Lazareto

19 – Sendo acanhado e impróprio para as funções de hospital de isolamento, o velho lazareto já citado, cogitou a Intendência Municipal de construir um novo isolamento tendo sido escolhido para esse fim um terreno que fica atrás do cemitério novo. Hospital que ficava nos campos do cidadão Manoel Gaio, e que foi demolido na década de 40. A idéia foi do intendente Luiz Tomaz Nogueira da Mota, tendo sido votada a importância de 2000$000 para a construção, em 15 de maio de 1890. A construção do novo hospital se prendia ao receio de que eclodissem novas epidemias e essas apanhassem novamente desprevenido o Descalvado. Não era infundado o receio. 

O estado de salubridade publica no Descalvado, de 1890 a 1893

20 - Foi de apreensões o estado de salubridade, nesses três anos. As noticias eram as piores que vinham de todos os quadrantes Falava‑se em febre amarela em varíola, em epidemias que grassavam por toda a parte, não escapando a Capital da República e do Estado. Estudavam-se os meios de debelá‑las ou de atenuá‑las No Descalvado, restabelecida a Câmara e dissolvida a Intendência Municipal, tratou ela de precatar‑se contra qualquer surto epidêmico Como houvesse dentro da cidade quatro fábricas de cerveja e se julgasse que as dejeções das fábricas de cerveja dessem causa aos miasmas (na época era o termo empregado na suposição de que existiam miasmas) pestilentos, a comissão de Higiene da Câmara indicou e a Câmara aprovou a lei ordenando que essas fábri­cas se removessem do perímetro urbano Insurgiram-­se contra a medida, os proprietários, mas nada conseguiram. Em Dezembro de 1892, era ordenado que se mudassem as fábricas. como medida de higiene pú­blica. Uma dessas fábricas mudou-se para o bairro do Tamanduá; outra instalou‑se no sítio do Tirolim; uma terceira foi para o bairro de São Sebastião e a quar­ta fechou suas portas, vendendo sua maquinária. 21 - Como ocorresse um ou outro caso de febre e a opinião pública andasse bastante sobressaltada, descobriu‑se que outro perigo para a saúde pública estava no consumo de melancias vindas de fora do mu­nicipio, já impregnadas de miasmas. Em 14 de Janei­ro de 1893. depois de ouvido o Dr. Delegado de Higiene do Município, era proibido importarem-se melancias de fora do município para nele serem vendidas. O infrator seria multado em 50$000. Com todas essas medidas tomadas não foi possível evitar que viesse nova epidemia. 23 - Desta vez grassou, pela primeira vez, no Descalvado, a febre amarela com todo o seu cortejo insidioso. A febre amarela, doença infecciosa aguda endêmica em certos paises tropicais (África, América Central e América do Sul) onde acomete sobretudo os estrangeiros recém chegados, faz sua aparição no Des­calvado com todo o seu poder mortífero. Coincidiu sua aparição com a entrada de grossas levas de imigrantes em nosso município Os primeiros casos se de­ram em propriedades agrícolas. Não houve dúvidas quanto à sua presença. Os dois períodos perfeitamen­te distintos da febre amarela foram constatados. O primeiro, o período da infecção propriamente dito que dura de 2 a 3 dias e que coincide com o período em que o vírus circula no organismo. O segundo período o período da intoxicação, depois de passadas 48 ou 72 horas, em que a febre cai, o doente sente uma grande sensação de alívio, porém, logo depois a temperatura sobe novamente e surgem sintomas de uma grave intoxicação hepatorrenal caracterizada essencialmente por albuminúria, icterícia e hemorragias (vômi­tos negros). 24 - Logo aos primeiros sintomas, os médicos de Descalvado encontraram dificuldades no diagnóstico clínico, pois os sintomas nada tinham de característico: febre, tonturas fortes, dor no corpo todo, especialmente nas pernas e nos músculos lombares, vômitos alimentares biliosos e epistaxes. Quando, porém surgiram as intoxicações hepatorrenais com as hemorragias e vômitos negros, não houve dúvidas. Daí a grande confusão que adveio nessa época, mixto de terror e de defesa própria. 25 - A descoberta de um animal sensível permitiu, em 1928, a Stokes, Bauer e Hudson, o reconhecimento do fato anteriormente assinalado por Marchoux e que a febre amarela era produzida por um vírus. Na época de 1893, porém, era a febre amarela atribuida a diversos micróbios dos quais se destaca vam pela importância especial que lhes foi empresta do o Bacilo Icteróides, um bacilo do grupo paratífi co. E o tratamento da febre amarela obedecia a pres­crição nesse sentido. Havia mais o sentido de prevenir do que de remediar. E por isso era justificado o medo da gente naquela época. A febre amarela, contraída, matava sempre. Hoje temos a vacina antiamarílica para prevenir, mas no recuado ano de 1893, nada existia. E corria de boca em boca que a febre amarela não perdoava o doente e que nos hospitais de isolamento, para abreviar esse mal, os doentes bebiam “o chá da meia noite”, eufeminismo que significava que eram envenenados. A febre amarela tomou conta do Descalvado. Os moradores como de outras vezes, possuíssem ou não propriedades agrícolas, acharam de melhor alvitre fugir da cidade. Era comum a fuga de uma cidade para outra que não estivesse alcançada pela peste. Medidas drásticas eram tomadas contra os estranhos que aparecessem. Esses deviam se acoitar bem porque, caso descobertos, eram enviados de quarentena ao Lazareto. Para ter-se uma idéia do terror que campeou na cidade, basta dizer-se que, embora convocada pelo seu Presidente, a Câmara Municipal ficou fechada durante seis meses de pânico, de luto e de tristeza. De 22 de abril a 7 de outubro de 1893, as portas da Câmara cerraram-se.

Episódios dessa calamidade

27 - Funcionava um novo lazareto atrás do cemitério novo, que começou a funcionar em fins de 1892. Era o novo hospital amplo e acomodava muita gente. Todavia, dado o número de doentes, logo se mostrou deficiente. Como o mal hovesse tomado to­da a cidade, eram conduzidos ao isolamerito somente os indigentes e os moradores da zona agrícola que não tinham recursos médicos nas fazendas de café. A mortalidade foi grande Diariamente os mortos eram transportadas de carroça para o cemitério novo sendo en­terrados na ala esquerda, onde ainda hoje existem covas rasas que abrigam os mortos da febre amarela de 1893. Como o número de mortos fosse grande, fizeram-se valas comuns, mas o difícil era o enterramento, pois o único coveiro da época, não tendo si­do atendido em seu pedido de aumento de ordenado, feito em 1890, julgou mais preciosa sua vida do que o cargo e, ao aparecimento da epidemia deixou o cargo, fugindo da febre. E ninguém, mesmo com promessa de aumento de ordenado quis nessa fase, o cargo de coveiro.Houve uma fase aguda em abril e agosto, em que os mortos eram muitos e o problema do enterramento confiado só a um, ao zelador do cemitério. O zelador do cemitério, Silvestre José da Silva, se desdobrou. Fazia covas profundas e largas que eram enchidas de cadáveres quase até à boca, forra­das de cal virgem. Cadáveres da zona agrícola eram, transportados, à noite, em carroções e carros de boi e deixados à porta do campo santo. E então, deu-se o caso doloroso de insepultos os cadáveres serem devorados, em parte pelas aves de rapina, já postadas nas cercanias e atraidas pela acentuada decomposição da matéria orgânica. Em julho, acometido de um mal súbito o zelador do cemitério não pode continuar durante uma semana a desempenhar esse tremendo ofício. Como os condutores de cadáveres despejassem sua carga à porta do cemitério sem a coragem de to­car nos mortos, tal era o pavor de todos, e como não houvesse quem praticasse o enterramento, de uma feita diante do estado deplorável, nauseabundo e té trico de tres cadáveres semi devorados e no último estado de decomposição foi ateado fogo à carga huma na e enterraram‑se os restos carbonizados.

FIM DA EPIDEMA

28 - Em Setembro a peste começou a declinar de intensidade. Em Outubro, salvo um ou outro caso, a situação era de desafogo. Em 7 de Outubro, fun­cionou a Câmara Municipal. Pelo seu Presidente foi dito “que a Câmara deixou de funcionar em vista da epidemia que grassou e os senhores vereadores se recusaram a reunir se, o que era justo”. O vereador Sérgio de Campos, em 7 de Outubro de 1895, dois anos após a epidemia, ainda recla­mava, ao Governo do Estado, medidas que viessem sanear a cidade. Em 20 de abril de 1897 o Jornal “O Estado de São Paulo”, publicava a seguinte notícia sobre a Febre Amarela em Descalvado: “O Inspector Sanitário, Dr. Paulo Bourroul tem tomado várias medidas na cidade de Belém do Descalvado” no intuito de combater a epidemia de febre amarella que alli está agrassando com toda a intensidade. Durante a semana finda falleceram alli 9 pessoas víctimas da febre. Terça-Feira chegou de Ytú o Dr. Gouvêa, medico da hygiene que vem a esta cidade auxiliar na extincção da doença”. Foi somente em 13 de Julho de 1897 que a Câmara Municipal autorizou a desapropriação de um terreno para nele ser instalado o Desinfetório da cidade, desinfetório que funcionou perto do Armazém de Cargas da Estrada de Ferro Paulista. Até ao ano de 1900 não houve epidemia. Essa só reapareceria, em 1902 na forma de febre amarela.

 

Santa Casa:

- Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Descalvado - 08/09/1894

- Eleição da 1ª Mesa - 02/06/1895,

- Inauguração oficial com a entrada do 1º doente - 04/11/1895

- 1960 à 1973 - construção da nova ala

- 1982 - Inauguração da Maternidade.

 

HISTÓRIA DA SANTA CASA: (Conto de Luiz Carlindo Arruda Kastein, baseado em registros de livros da Santa Casa)

 

             Descalvado em 1891 era governado por um Conselho Consultivo, sob a presidência do Dr. Anas­tácio Vianna, já que dois anos antes em 1889, com a Proclamação da República, o Marechal Deodoro da Fonseca havia dissolvido as Câmaras Municipais. Dentre os membros do Conselho, figurava o nome de Francisco de Paula Car­valho, homem   profunda­mente religioso e que aproximou ainda mais seus vínculos com a Igreja de Nossa Senhora do Belém a partir de seu casamento com a irmã do Pároco Fran­cisco Teixeira de Vascon­cellos Braga. Os registros não constam onde nasceu Paula Carvalho, mas sabemos a data: 23 de dezembro de 1842. Em 1846, ainda criança veio para Descalvado. Um fato preocupava muito a este homem. A cidade possuía meia dúzia de hotéis e cinco pa­darias, quinze armazéns na ci­dade e dezessete nas fazendas, duas tipografias, três fábricas de cerveja, duas bandas marciais, quatro clubes, quatro escolas, quatro far­mácias, dois bilhares e quarenta e quatro tabernas, mas nenhum hospital. E o que era pior, vínhamos do grande surto da febre amarela, que  em 1885 obrigou a construção do novo cemitério, mais afas­tado da cidade, o mesmo de hoje. Existia ainda na en­trada da cidade, ao lado da ponte do Ribeirão Bonito, o "Lazareto" retiro de do­entes que costumavam co­letar esmolas, daqueles que chegavam à cidade, com canecas na mão,  daí a al­cunha dada aos descalva­denses de "canequinhas". Francisco de Paula Carvalho, possuía um estabelecimento co­mercial na então Rua Uru­guayana (atual Cel. Rafael Tobias, havendo controvérsia se na esquina com Barão do Descalvado ou José Bonifácio), ponto obrigatório de palestras dos homens da melhor sociedade descal­vadense da época. Corria o mês de abril de 1891, esta­vam reunidos Paula Carva­lho, Cel. Antonio Alves Aranha, Major Arthur Horácio D’Aguiar Whi­taker, Antonio Augusto Bezerra Paes e José Rodri­gues Penteado, quando o primeiro deu a idéia de se fundar uma casa de refúgio aos enfermos pobres, e fi­cou combinado de levarem adiante a idéia.             Tão fundo se fez sentir neles o desejo de pôr em prática o plano, tão convictos se achavam de que podiam contar com o apoio de muitos outros, que desde logo se lançaram a campanha, que em pouco tempo oferecia resultados animadores. Paula Carvalho, propugnador da obra, doou o terreno e elevada quantia em dinheiro, promoveu a construção do edifício e dirigiu o serviço até o fim. O belo prédio leva fortes traços  de engenharia maçônica, embora Carvalho, católico fervoroso e cunhado do Pároco, com toda certeza não pertencesse à Ordem. Naquela época maçonaria e igreja trilhavam caminhos opostos.           Em 8 de setembro de 1894, a convite da co­missão de iniciativa, reuni­ram-se muitas pessoas a fim de deliberar sobre a formação de uma socie­dade que se incumbisse de gerir os negócios da insti­tuição, cabendo a Presi­dência ao Cônego Elisiário Martins Pedroso, outro be­nemérito da terra descalva­dense.  Nesta memorável Assembléia declararam constituída a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Descalvado, nomeando-se uma comissão para ela­borar os seus estatutos, para cuja composição fo­ram proclamados o sacer­dote Pedroso e os doutores Alencastro Reis e Amâncio Penteado. Antes de encer­rarem a sessão com justiça inseriram em ata a gratidão aos cinco membros da comissão de iniciativa.            Quase um ano de­pois, em 2 de junho de 1895, houve nova reunião, na qual foram aprovados os estatutos e eleita a pri­meira Mesa Administrati­va, cujo mandato durou desde então, até o final do ano seguinte, ficando assim constituída:

Provedor - Francisco  Paula Carvalho

Secretário - Dr. Amâncio Penteado

Tesoureiro - Landulpho  Bezerra Paes

Procurador - Severiano João da Cruz

Mordomos - Francisco de campos Serra, José Maria­no de Faria, Joaquim Mar­tins Pimenta, Major Arthur Whitaker, Sérgio Arruda Campos, Joaquim Cândido Filho, Cel. Antonio Alves Aranha e José Rodrigues Penteado. Em 31 de agosto do mesmo ano, o Provedor Paula Carvalho, angariou mais donativos, para a montagem do Hospital. Toda a obra orçou oitenta contos de réis, quantia vultuosa para a época.  Depois de tudo organizado, fez entrega à Mesa Admi­nistrativa, que começou a exercer as suas funções, inaugurando o Hospital com a entrada do primeiro doente em 4 de novembro de 1895. Paula Carvalho, veio a falecer em pleno exercício do cargo de Pro­vedor, com apenas 54 anos, em 13 de junho de 1896. Está enterrado no jazigo de nº 4, do lado direito da ala principal de entrada de nosso Cemitério. Para completar o mandato de Paula Carva­lho, foi escolhido José Rodrigues Penteado, outro vulto de projeção na vida municipal, o qual, reeleito, exerceu a provedoria até 1897. A Santa Casa fun­ciona no prédio edificado por Paula Carvalho, na Avenida Bom Jesus nº 381 até hoje. Por volta de 1960, os dirigentes da Ir­mandade da Santa Casa, iniciaram a construção de uma nova ala, que foi concluída em 1973. Em 1982 foi inaugurada a ma­ternidade. Para escrevermos esta história,  pesquisamos os pri­meiros livros da Santa Casa de Misericórdia e de sua  Irmandade, atas da Câmara Municipal, jornais da época, e artigos deixados pelos historiadores, Prof. Gerson Álfio De Marco e Antenor Beta­rello e pelos jornalistas Mário Joaquim Fi­lla Paulo Belli  e Milton Timótheo do Amaral. Nenhum registro fixa o ano de 1893, data inserida na frente e ao alto do prédio da Santa Casa, até hoje. O início da cons­trução ocorreu em 1891, a constituição da Irmandade em 1894, a entrada do primeiro doente em 1895, com o prédio ainda em construção.

 

AS IRMÃS FRANCISCANAS E A ASSISTÊNCIA HOSPITALAR:
 

            Estreitamente vinculada à vida da Santa Casa, está a Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria. pelo muito que tem feito em prol da assistência hospitalar em Descalvado. Desde o início do século prestam serviços ao hospital, quando em 1904 a fundadora da Congregação, Madre Cecilia do Coração de Maria, aceita o pedido da Mesa Administrativa da Santa Casa e envia a primeira Comunidade para assumir a direção interna do hospital. No livro do tombo da Congregação há o seguinte registro: “Aos 20 de fevereiro de 1904, chegou a Revda. Madre Cecília do Coração de Maria, Fundadora e Superiora Geral da Congregação, a quem a Mesa Administrativa propunha tomar a direção interna da Santa Casa. Vinha acompanhada da Irmã Canuta e de uma menina educanda do Lar-Escola Coração de Maria, Cesira Maria Graciano, que mais tarde entrou para a Congregação, recebendo o nome de Irmã Clara. Hospedaram-se em casa do padrinho de Madre Dorotéia, ao que parece Capitão João Nunes, enquanto se preparava o hospital. Aos 22 do mesmo mês, a Madre Cecília aceitou a direção, assumindo ela mesma, o cargo de Superiora, para o que viajava diversas vezes entre Piracicaba e Descalvado, trazendo as irmãs para o serviço.” Descalvado, portanto, depois de Piracicaba, foi a primeira cidade que sentiu a influência benéfica do coração apostólico da Madre Fundadora e suas filhas espirituais.

 

Pronto Socorro:

- Inaugurado - 29/05/1992

 

Farmácia mais antiga em funcionamento:

- Drogaria Central - 29/04/1929

 

Farmácias que encerraram atividades:

- Pharmácia do Globo de Emigydio Vieira Bastos - Rua Bezerra Paes

- Pharmácia Italiana - Rua 13 de maio, 26

- Farmácia São José de Joaquim Meziara - Rua José Bonifácio

- Farmácia Bianchi de Octávio Bianchi - Rua 24 de outubro


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