ENSINO:

 

ESCOLAS E PROFESSORES NO DESCALVADO DO SÉCULO XIX­

(Antenor Ervêu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello)

 

1 - Era o ensino de primeiras letras. denominação que recebia o ensino primário por ocasião da fundação do Desca vado, matéria relegada para plano securadário. É óbvio supor-se de que tudo se tratava e co­gitava, menos ao ensino de primeiras letras. Em 16 de Junho de 1826 um projeto de lei assinado por Januário da Cunha Barbosa, José Cardoso Pereira de Melo e Antonio Ferreira França dividia o ensino em 4 graus: pedagogias, liceus, ginásios e academias. “As pedagogias ou escolas de primeiro grau, ensinavam a arte de ler e escrever, princípias e regras de aritmética e conhecimentos morais físicos e econômicos indispensáveis em todas as circunstâncias e em­pregos. As meninas eram admitidas nessas escolas; sua instrução era a mesma e simultânea. Em cada povoa­ção havia uma escola e nas grandes vilas e cidades, havia mais de uma”. (Afrânio Peixoto – Noções de História da Educação). Ferreira França, em 1830, aventou que, em cada distrito de 100 fogos, houvesse uma escola de primeiras letras. Para ter-se uma idéia do atraso da época, basta dizer-se que uma estatística de 1872 acusava, para o Brasil, uma população de 9.930.438 habitantes, sendo que 8.365.997 eram analfabetos, ou 842 em 1.000 brasileiros não sabiam ler e escrever. Até 1875, os mestres escolas  eram improvisa­dos. Quem quisesse podia propor‑se para ensinar nelas. Pode‑se bem avaliar por estes informes como andavam as escolas da época. Azevedo Marques, em Apontamentos  da Província de São Paulo, escrevia: “A Instrução Pública Primária, ramo do Serviço Público, é dirigida por uma repartição  central, criada por lei provincial do ano. de 1852 e estabelecida na Capital com o  titulo de Inspetoria Geral da Instrução Pública”.“Na Província de São Paulo, em 1870, existiam, 346 cadeiras de primeiras letras para o sexo masculino; 208 cadeiras de primeiras letras para o sexo feminino;  existiam ainda 59 escolas particulares para ambos os sexos e 25 colégios de instrução secundária”. Ainda Azevedo Marques nos informa a respeito do Descalvado: “A população do Descalvado. em 1876, era de 5.709 habitantes,  sendo 1.339 escravos. Havia 175 fogos, 14 eleitores e 2 escolas de primeiras letras para ambos os sexos”. 2 - Não se pode com certeza afirmar em que data anterior a 1862, surgiu a primeira escola de ensino primário na Capela Curada e depois Freguezia do Descalvado. É de acreditar-se que, embora precário,  houvesse sido administrado o ensino de primeiras letras em um ou outro local do distrito, custeando os moradores da povoação um professor primá­rio particular leigo. Até 1862 são omissas as informações.

O primeiro professor de primeiras letras do Descalvado

3 - O primeiro professor de primeiras letras que abriu escola particular, no Descalvado foi FRANCISCO JOSÉ DE SOUZA, rapaz solteiro, de 29 anos de idade, que aqui  veio em 18 de Janeiro de 1862. Lecionou no distrito durante 2 anos. Em 1864 mudava-se  para outra localidade, deixando sua escola sem substituto. Com a mudança.do professor Francisco José de Souza para outra localidade, os alunas se dispersaram por falta de mestre e a Freguezia ficou perto de 3 anos sem escola.          4 - Em 1866 era instalada a Câmara. Em 10 de Dezembro desse ano, era recebida uma circular do Presidente da Província, com data de 27 de Outubro pondo em concurso as duas cadeiras pública, de primeiras letras de ambos os sexos criadas para a povoação.  A Câmara ordenou que o secretário afixasse o edital,  extraindo cópia.

5 - Os dois primeiros professores  nomeados para  o Descalvado pelo Governo da Província foram: JOÃO BAPTISTA DE OLIVEIRA SANTOS, com 26 anos de idade, e MANOEL LEÔNCIO DA SILVA AMARANTE, com 40 anos de idade. A vinda em Março de 1867, dos dois primeiros professores  públicos para a Vila, foi acontecimento social  de grande importancia e foi festejado. Em 5 de Julho de 1870, três anos após a nomeação, foram apresentados, à Camara, os títulos dos professores  públicos de primeiras letras dos sexos masculino e  feminino desta Vila e a Câmara mandou que fossem registrados na forma da lei. É interessante notar se que havendo classes masculina e feminina. ambas eram dirigidas por homens, em classes mistas, pois não se apresentou nenhuma professora para a cadeira feminina.

6 – Em Dezembro dei 1870, mudava se da Vila o professor João Baptista de Oliveira Santos Em Janeiro de 1871, o professor Manoel Leôncio da Silva também se transferia para outra localidade. Para preeencher as vagas  foram nomeados: Professor JOSÉ FERRAZ DE ARRUDA SÁ, com 52 anos de idade, casado, e Professor JOSÉ DE CASTRO PEREIRA, com 68 anos de idade, viúvo. A ata de 15 de Junho de 1873 diz: “Foi presente um requerimento dos professores públicos de primeiras letras de ambos os sexos desta Vila, relativamente para esta Câmara atestar se têm ou não cumprido com seus deveres. A Câmara deferiu a petição dos suplicantes atestando o seguinte: Atestamos que os professores públicos de primeiras letras desta Vila, de ambos os sexos, têm cumprido com seus deveres nas funções de seus magistérios. O que atestamos por nos ser requerido. Paço da Câmara Municipal, 15 de julho de 1873. (aa) Luiz Antônio de Souza Queiroz Filho, José Beltrão Pereira de Carvalho, Filadelfo Barbosa Adorno, Manoel Alves Correira Castro, Joaquim Mendes de Moura, Frederico Lima, Andrelino Augusto do Amaral.” Em 18 de Março de 1874, o professor José de Castro Pereira mudava se para Pirassununga, indo ocupar o cargo de agente do correio. A Câmara de Descalvado reclamou contra o fato e para substitui-lo foi nomeado o professor Florêncio Fernandes de Oliveira que, em 12 de.Julho de 1874, pediu sua transferência para Santa Rita do Passa Quatro, sendo-lhe esta cedida em Janeiro de 1875. Para essa vaga em 9 de Fevereiro de 1875, era pedida, ao Dr. Inspetor Geral da Instrução Pública, a nomeação de um substituto devendo ser este  do sexo feminino. Foi nomeada dona MARIA JOSEPHA DE AMORIM. É  da professora Maria Josepha de Amorim o seguinte requerimento, extraído dos documentos impor­tantes do Arquivo do Estado: (Tempo Colonial. maço 8 pasta 12):

“Exmo Senhor

Não havendo nesta Coletoria fundos provinciais para pagamento dos meus vencimentos como professora pública desta Vila, e sendo dificultoso receber pelo Tesouro nessa Capital, peço a V. Excia ordem para se me fazer suprir o pagamento pela Coletoria Geral, dando a devida ordem para este fim aos senhores Inspetores para este  fim aos  senhores Inspetores o darem ao Coletor.

      Deus Guarde a V. Excia

Bethlem do Descalvado 20 de Outubro de 1875.

Ao Ilmo e Exmo Senhor Dr. Sebastião José

Pereira – M. D. Presidente da Província.

A Professora Maria Josepha de Amorim”

8 - Em Janeiro de 1882 era removido a pedido o professor José Ferraz de Arruda Sá. Para preencher essa cadeira interinamente foi indicada dona Maria Arruda do Amaral Pedroso. Em Maio de 1882, era nomeado para o cargo de professor de primeiras letras Olímpio Catão um dos mais ilustres professores de todos os tempos. Em 12 de Novembro de 1882, a professora norma!ista dona Maria Lourenço de Oliveira Catão, professora em Lorena requeria permuta com a aluna mestra da Escola Normal Maria Josepha de Amorim, esta professora no Descalvado e consultava a Câmara a esse respeito A Câmara deliberou que se informasse ser de suma conveniência a permuta requerida visto como o professor da 2ª cadeira de primeiras letras desta Vila, Olimpio Catão é marido da pretendente. Em 29 de Abril de 1883 Olímpio Catão apresentava à Câmara, sua carta de nomeação de professor de primeiras letras para o Descalvado bem como a carta idêntica, de sua esposa sendo ambas registradas como de lei. Como não houvesse mobiliário para a classe fe­minina foi na sessão municipal de 29 de Abril, solicitado, ao Governo da Província, a quantia necessária para esse fim.

9 -  Até o ano de 1886, o Descalvado só teve duas escolas de primeiras letras, embora fossem reite­rados os pedidos de criação de mais classes. Na Sessão de 18 de Maio de 1886, foi pedida a criação de duas cadeiras de ensino, sendo uma para o Descalvado e outra  para o Porto Ferreira nessa ocasião sob a jurisdição descalvadense. Criada a cadeira de ensino no Descalvado foi nomeado para ela o professor FRAN­CISCO CHAGAS OURIQUE DE CARVALHO con­tando a cidade três escolas públicas.

10 ‑ Em 15 de Setembro de 1888 o Governo da Província pedia informações à Camara a respeito do munícipio do Descalvado, a fim de que fizessem parte do Dicionário Geográfico do Brasil, a ser editado tendo a Camara designado os professores Olímpio Catão e Francisco Chagas Ourique de Carvalho para em comissão darem as informações necessárias. Gabriel Amâncio Lisbôa, presidente da Câmara, pedia, ao Governo do Estado, em 20 de Janeiro de 1890, a criação de mais duas cadeiras de primeiras letras, sendo uma para o sexo masculino e outra para o sexo feminino. Nada conseguiu.

11 - Em Outubro de 1891, removiam se para a Capital Olímpio Catão e sua esposa dona Maria Lourenço de Oliveira Catão, após nove anos de permanência no Descalvado. A remoção do casal Olímpio Catão foi duro golpe para o ensino em nossa terra. Para as vagas verificadas foram nomeados os professores SEVERIANO JOSÉ DA CRUZ E ANTÔNIO VESPASIANO DE CARVALHO. O Vereador  Francisco Cardoso, em 11 de outubro de 1895, na Câmara, pedia ao Governo do Estado, a criação de cadeiras de ambos os sexos e se não fosse atendido o pedido, fossem criadas cadeiras municipais, elevando-se para esse fim, o imposto de captação. Da mesma forma, o vereador Sérgio Campos, indicava  à Câmara em 10 de abril de 1896, que se representasse ao Governo do Estado pedindo a criação de um Grupo Escolar, concorrendo a Câmara Municipal com a quantia que pudesse para esse fim. Em maio de 1896, diante de tanto clamor, era criada mais uma cadeira de primeira letras sendo nomeado para a mesma o professor JÚLIO DE ALMEIDA.

12 - Em Julho de 1886 eram atacadas as obras das Escolas Reunidas, onde hoje está instalada a Prefeitura Municipal, ficando concluídas em 27 de Agosto de 1897. Pelo vereador Francisco  Cardoso foi escolhido o dia 7 de Setembro desse mesmo ano para inauguração do prédio das Escolas Reunidas, ficando o Agente Executivo autorizado a traçar o programa das festas “observando a possivel modéstia e a despender com ela quantia que comportasse a verba das despesas eventuais do vigente orçamento”. Em 18 de Outubro de 1897 era providenciada a remessa feita  pela Secretaria. de Estado dos Negocios do Interior.

O ENSINO NA ZONA RURAL

13—A zona rural possuiu professores de primeiras letras, todos eles mantidos pelo bolso particular dos proprietários de imóveis rurais. As referências ofi­ciais são as seguintes: em 1871 ‑ BERNARDINO DE ALMEIDA GOUVÊIA veio ao Descalvado indo lecionar na Fazenda Santa Rita; em 1872 (20 de Janeiro) ‑ ALEXANDRE BOAVENTURA DE CASTRO com 30 anos de idade, foi lecionar na fazenda do Figueiredo, retirando-se em 1873; em Março de 1872, chegou FRANCISCO JOSÉ DAS CHAGAS indo lecionar no Bairro das Araras; em Janeiro de 1875 JOSÉ QUERINO RIBEI­RO com 28 anos de idade foi lecionar no Quarteirão da Olaria; em 1890, CARLOS AUGUSTO GREGÓRIO foi lecionar na Fazendinha.

O ENSINO  MUNICIPAL

14 - Embora os reiterados pedidos dos vereadores indicassem a necessidade da criação de escolas municipais esta, a escola municipal, só foi criada uma em 30 de Abril de 1899, sendo nomeada para a mesma a professora RAPHAELA MARTINS DE MELO. Só ern 16 de Fevereiro de 1900 é que foram criadas mais ­duas cadeiras primárias municipais, elevando se o seu número para três.

O Conselho Municipal de Instrução

15 - Para dirigir e fiscalizar o ensino nos municípios existiam os conselhos municipais de instrução compostos de elementos grados da cidade e eleitos pelos vereadores em escrutínio secreto. O Descalvado não fez exceção à regra e teve seus conselhos municipais de instrução. O primeiro Conselho Municipal de Instrução foi composto dos cidadãos Gaudêncio Quadros e Dr. Mi­guel Arcanjo da Silva, em 1884. Havendo este último desistido, foi preenchida a sua vaga em 2 de Julho de 1885 pelo Tenente Coronel Rafael Tobias de Oliveira. Em 9 de Setembro de 1887, em sessão extraordinária, era novamente eleito o Conseho Municipal de Instrução, conforme Circular do Governo Provincial de 22 de Agosto do corrente ano e Lei n° 81, de 6 de Abril de 1887  sendo eleitos: Tenente Coronel Rafael Tobias de Oliveira, fazendeiro, residente no município e José Rodrigues Penteado, também fazendeiro residente no Município. Em 16 de agosto de 1889 José Rodrigues Penteado dava-se por demitido do referido cargo “visto que sob o império da lei que reformou esse ramo do serviço público, viu ele, impossibilidade de obter a instrução pública, os resultados que tanto desejava”. Em 7 de fevereiro de 1889 o Tenente Coronel Rafael Tobias dava-se por demitido do cargo por acreditar “que a Instrução Pública sob o  império da lei que a reformou nunca obtera os resultados que ele e seu colega almejavam”. Por Portaria do Presidente da Província, datada de 6 de Março de 1.889 era designado o dia para a eleição da Comissão de Instrução Pública do Descalvado, o que se deu em 11 de Março de 1.889, sendo eleitos o Dr. Amâncio Guilhermino de Oliveira Penteado e Antônio de Campos Serra. O Dr. Amâncio Penteado exonerou‑se do cargo em 25 de Novembro de 1.889. Para o seu lugar foi eleito novamente José Ro­drigues Penteado. Antonio de Campos Serra solicita sua exoneração em 15 de Maio de 1890, sendo eleito para essa vaga Sisinio Deoclécio Pereira da Mota. Em virtude da ordem dada pelo Governo do Estado, em Circu!ar de 18 de Agasto de 1.890, e de acordo com os artigos 12  e 115 da  Lei nº 81 de 6 de  Abril de 1.887, procedeu-se à eleição dos membros do Conselho Municipal do Descalvado para o triênio sendo eleitos, em 6 de Setembro de 1890 o Major Policarpo Alves Normanha e Durismundo Lisbôa. Em 23 de Outubro de 1.890 o Major Policarpo A!ves Noro­nha, em oficio remetido à Camara Municipal pedia sua exoneração do cargo alegando ter motivos parti­culares que lhe vedam aceitar o cargo. Para a sua vaga foi eleito Francisco Paula Carvalho em 20 de Novembro de 1890. Em 4 de Julho de 1.891, Durismundo Lisboa pedia exoneração sendo eleito para substituí-lo Olimpio Catão. Como Olimpio Catão se achasse nessa época exercendo o cargo de subdiretor da Câmara dos senhores Deputados procedeu‑se à nova eleição, sendo escolhido o cidadão Augusto Arouche. Em 4 de Fevereiro de 1.892, Paula Carvalho pediu sua exoneração. Uma reforma na Instrução Pública acabou com o Con­selho Municipa1 de Instrução Pública.  O Regulamento da Instrução Pública, em 1898, criava o cargo de inspetor municipal, sendo atribuição da Câmara Municipal nomear uma pessoa, à altura do cargo. Como a Câmara não houvesse ainda desig­nado a pessoa, ocupou nos primeiros meses, o cargo o agente executivo. Pelo vereador Sérgio de Campos foi indicado para o pasto, o Dr Francisco Xavier de Souza e Castro, sendo unanimemente aprovado. Até 1.900, foi esse o inspetor do ensino no Descalvado, cargo que se denominava Inspetor Literário Municipal.

A Obrigatoriedade do Ensino

16 ‑ Em 30 de Abril de 1889 recebia a Câmara Municipal uma circular da Secretaria do Interior em que se fazia expressa a determinação da obrigatorieda­de do ensino primário. A Câmara Municipal respondeu não ser possível tornar efetiva a obrigatoriedade do ensino primário pela razão de só existirem na cidade, 4 escolas, estando, todas funcionando com número.de alunos superior à lotação marcada no Regulamento.

Didática e disciplina nas Primeiras Escolas

17 - Não vamos aqui descrever esse capítulo que mais pertence à História da Pedagogia. Todavia, em rápidas pinceladas, reproduziremos uma escola de pri. meiras letras nas primeiras eras descalvadenses: Alunos em excessiva quantidade, em média 50 ou 60 em cada classe todos de 7 a 16 anos de idade, alguns até com mais anos. Disciplina rígida da palmatoria. Quando a palmatória não vencia, havia os castigos de pé nos cantos da sala, o castigo de ajoelhar­-se em cima de grãos de milho e de ficar sem beber  água o dia inteiro. Quadro negro pequeno dependurado na parede. Cada aluno possuia uma ardósia (lousa), onde escre­via graças a um lápis próprio de pedra. Os exercícios após sua feitura eram apagados com cuspadas na ardósia, pois as pequenas esponjas embebidas de água secavam-se logo. Os alunos se sentavam em bancos compridos, alguns sem encosto, o que derreava o menino ou a menina. As carteiras ou bancos escolares eram de táboas toscas, alguns de velhos caixotes. O método de aprender a ler era o de silabação; para a aritmética, o método era o da cantoria, cantado por um decurião (aluno mais adiantado) e acompanhado, em côro pela classe toda. Sobre a mesa do professor não faltava o par de orelhas de burro com que se fantasiava o aluno preguiçoso ou vagabundo. A hora de recreio era a hora do diabo a solta. Era o recreio em plena via pública com correrias, gritos e brigas tremendas. Improvisavam-se brinquedos que, via de regra, eram pandemônios.

 

AS PRIMEIRAS LETRAS EM BELÉM DO DESCALVADO (Gerson Álfio De Marco)

            Lá está numa das atas de 1866 (na primeira sessão legislativa da primeira legislatura descalvadense) que fosse afixado, na porta principal da Matriz, edital para contratação dum professor de primeiras letras. Era o poder público a chamar para si a responsabilidade da instrução popular no lugarejo boca-de-sertão, ora elencado entre os municípios da Província.  O aludido edital, foi, portanto, a carta de Caminha da pequena história de nossa educação provinciana. E antes?Antes, não era o caos, pois, como nos ocelos rurais, no povoado de poucos fogos e a crescer lenta, mas esperançosamente; a galgar, o socalco de freguesia, em 1844, a saltar desta para o viso da plena emancipação política, em 1865, mestres houve e sempre: alguns pedagogos pouco letrados, tais como quase todos os do tempo, e a cobrar, com certeza, magro dinheiro pelos seus rudimentos da língua vernácula e pela sua aritmética que fazia poucas incursões além das quatro operações fundamentais ou alguns ocasionais educadores a mestrar seus próprios parentes no ádito do próprio lar, preceptores de pau-a-pique, e saídos da própria família ou vindos do extra-muros. Não era o caos (dissemos) mas não havia começado ainda a nossa história educacional. Os abnegados alfabetizadores eram naus de eterna presença nos mares da descoberta, mas sem aproamento na terra nova, isto é, não professoraram sob a chancela do poder. Seu magistério  era transitório e de emergência. Conhecido o conteúdo do edital (voltemos a ele) surgiu o interessado e contrataram-no. Quem? Não lhe mencionam o nome as atas subseqüentes e nem se fez encontradiço qualquer documento que o mencionasse. Nem lhe guardou o nome, também, a tradição local. Pena, porque assim poderíamos batizar um logradouro descalvadense com o nome de nosso proto-mestre primário urbano. E seu método? Naturalmente, o de seu tempo: o ladainhar contínuo do be-a-bá memorizador, as recapitulações enfadonhas, o papaguear em coro da rígida tabuada. Ou, quiçá, mestre jovem, progressista, a se contrapor aos colegas mumificados na rotina dum ensino pouco ativo, já usasse esse pequeno avanço didático que foi o método da leitura repentina do luso Castilho e tentado, sem êxito algum, em nossa Pátria, pelo seu próprio criador, em 1855, a convite do Marco Aurélio bragantino? Ignoto seu nome e desconhecido o seu método, mas, certamente, benéfico o seu professorado neste extremo urbano da Província e que era a aldeola de potético topônimo: Belém do Descalvado.

 

A Evolução do ensino em Descalvado (Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

- Contratação do 1º Professor pela Câmara Municipal - 1866

- Colégio Catão de Olímpio Catão

- Colégio Santo Antonio

- Collegio Coração de Jesus para meninos e meninas, de propriedade de Maria Jorgensen do Amaral com curso primário e secundário - Rua Cel. Tobias, 33 - Início do século.

 

GRUPO ESCOLAR CORONEL TOBIAS:

 

 

- Criado pelo Decreto 09/02/1903 

- Instalação provisória em 17/02/1903, no antigo prédio da Câmara Municipal na Avenida Guerino-Oswaldo.

- Instalação Solene 31/03/1903

- Inauguração do prédio atual 1911

- 1º Diretor: Francisco Conceição

- Primeiros professores: Getúlio Nogueira, Francisco Conceição, Orestes Oris de Albuquerque e Olímpia Arruda.

 

Foi através de um Decreto do Presidente do Estado, Dr. Bernardino de Campos e também pelo Secretário Encarregado dos Negócios do Interior e Justiça, Dr. Bento Bueno, na data de 9 de fevereiro de 1903, criado o Grupo Escolar Coronel Tobias. Em 17 de fevereiro de 1903, dando cumprimento às ordens recebidas do Presidente do Estado, o Inspetor Escolar, professor Emílio Mário de Arantes, em reunião numa das salas onde funcionavam as escolas, deu posse aos adjuntos, porteiro e servente, anteriormente nomeados. Depois de haver distribuído os alunos pelos três anos de cada seção, de acordo com o seu adiantamento, e traçado os planos para a instalação solene do grupo escolar em data a ser posteriormente marcada, o sr. Inspetor deu por encerrada a reunião. Aos 31 de março de 1903, com a presença do Inspetor Escolar, sr. Emílio Mário de Arantes, representantes da Câmara Municipal, do Fórum e de muitas pessoas gradas, achando-se presentes também todos os alunos devidamente uniformizados, teve início o desenvolvimento do programa para a instalação solene do Grupo Escolar “Coronel Tobias”. Dentre os momentos marcantes da solenidade, destaca-se um pronunciamento de gratidão efetuado pelo diretor interino, - na época - Sr. Francisco Conceição: “De longa data que a idéia da criação dum Grupo Escolar aqui era com carinho afagada pelas pessoas a que se acham confiados os destinos dessa terra. E nessa campanha de conquistas do mais elevado dos desideratus, devemos lembrar os nomes das seguintes pessoas que sempre firmes, sem se deixar vencer pelas dificuldades de ocasião trabalharam até conseguir o triunfo completo da idéia: Capitão José Quirino Ribeiro, quem primeiro cogitou de tal tentame, fazendo deste seu ideal a conversação predileta em todas as oportunidades, até que suas idéias foram formando prosélitos na sociedade descalvadense e sempre nesse terreno trabalhou até conseguir o seu fim - a criação do Grupo Escolar. O Coronel Tobias, o Dr. Machado, digno Promotor Público da Comarca, o Coronel Joaquim Aranha, também deixaram nesta luta consignados serviços de reais merecimentos, pelo que a mocidade há de sempre recordar-se agradecida desses beneméritos do bem estar do futuro da pátria.” Com o passar dos anos, e o número sempre crescente de alunos, as autoridades estaduais da época, resolveram para um melhor atendimento das necessidades do ensino, construírem um amplo e elegante prédio e que foi inaugurado em 1911. Desde então relevantes serviços tem prestado o Grupo Escolar; tendo inclusive abrigado em seu recinto, o Ginásio Estadual, criado em 1948 e a primeira turma de professores pela Escola Normal de Descalvado, em 1952.

 

GINÁSIO:

 

- Criado pelo Decreto-lei 17085 - 08/03/1947

- Instalado em 01/03/1948 com o nome de Ginásio Estadual de Descalvado, funcionando no prédio do Grupo Escolar Coronel Tobias,

- Em 04/05/51 pelo Decreto 1005 passou a denominar-se a partir de 25/05/51 Escola Normal e Ginásio de Descalvado com inclusão de uma classe de pré-normal,

- Em 14/12/52 Inaugurado o prédio na Praça 8 de setembro com a presença do Governador Dr. Lucas Nogueira Garces,

- Em 12/02/1953 foi criado o curso primário anexo que foi instalado em 02/03/53.

- Pelo Decreto Lei 1065 de 20/03/53 passou a chamar-se Colégio Estadual e Escola Normal de Descalvado,

- Em 28/10/65 pelo Decreto Lei 90064 passou a chamar-se Instituto de Educação Estadual José Ferreira da Silva.

- Pela Resolução nº 13/76 de 22/01/76, passou a denominar-se E.E.P.S.G. José Ferreira da Silva.

 

ESCOLA DE COMÉRCIO:

 

- Escola Técnica de Comércio - Fundada em março de 1959 por Domingos Gentil que obteve junto ao Dr. Nunes Leal, Ministro-Chefe da Casa Civil do Presidente Juscelino Kubitscheck, a autorização para o funcionamento da escola, documento que trouxe consigo e entregou diretamente ao Delegado de Ensino de São Carlos,o que permitiu a implantação imediata daquele estabelecimento de ensino, que inicialmente funcionou no Grupo Escolar Coronel Tobias. Deve-se destacar  que durante o primeiro ano de atividades da escola, não foi cobrada nenhuma mensalidade dos alunos matriculados, correndo todas as despesas, inclusive a remuneração dos professores, por conta do sr. Domingos Gentil, sem qualquer subsídio dos Poderes Públicos. No ano seguinte com a proibição pela Secretaria da Educação de utilização de prédios públicos por escolas particulares, foi adquirido pelo Sr. Domingos Gentil um imóvel na rua Bezerra Paes, 134 que adaptado, abrigou a Escola de Comércio dentro das exigências legais, cuja fiscalização competia a Inspetoria de Ensino Profissional  de Campinas. Esta adadptação do prédio também  feita pelo Sr. Domingos Gentil veio permitir a vinda para Descalvado  do Centro Educacional SESI-205 que ali funcionou de 1964 a 1972.

Corpo docente inicial: Diretor Dr. Antônio Bucco; Professores: Antônio Schlittler, Juvenal Passos Nogueira, Osmar Apparecido Seraphim, Álvaro Macedo, Sebastião Cereda Sabongi, Jacira Godói Barbosa Pupo, Antônia Tenan Schlittler, Dida Silva Guidorizzi, Lourdes Rodrigues, Nair Ravasi e Neide Dupas Pinca.

- Foi contituido o Grêmio Estudantil que recebeu o nome do Prof. Lázaro de Alcântara Camargo, em homenagem a este educador que deveria fazer parte do corpo docente, mas faleceu em 02.07.1959.

- Em 1962 formou-se a primeira turma e a escola passou a denominar-se Colégio Comercial de Descalvado.

- Depois recebeu o nome de Escola 08 de Setembro - funcionando na Unidade Municipal Profª Antônia Tenan Schlittler no período noturno.

 

APAE - ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DO EXCEPCIONAL

 

- Escola Helen Keller

- l5/08/70 - Fundação em reunião realizada no salão nobre do Ginásio Estadual, sendo escolhido seu primeiro Presidente o Sr. Arlindo Zóia. Na  mesma oportunidade o Prefeito Municipal Deolindo Zaffalon procedeu a doação de um terreno onde seria edificado o prédio.

- Primeira professora: Maria Aparecida Fioroni Kastein, nascida em 15 de agosto de 1949 e falecida em 8 de fevereiro de 1995. Lecionou durante vinte e cinco anos até obter sua aposentadoria, quando também veio a falecer, com apenas 45 anos.

 

ESCOLA DE DATILOGRAFIA

 

- Primeira escola oficial registrada:

- Escola de Datilografia Descalvado - 15/04/1969 - Diretor Luiz Carlindo Arruda Kastein - Registro do Departamento de Ensino Técnico do Estado de São Paulo sob nº 2581/D. Funcionou inicialmente a rua Bezerra Paes nº 333 e depois a rua José Bonifácio nº 606.

 

- UNIDADE ESCOLAR PROFª ANTÔNIA TENAN SCHLITTLER

 

- CENTRO EDUCACIONAL SESI 205

 

- Criado em fevereiro de 1964, funcionando até 1972 na rua Bezerra Paes, 134 no prédio do Colégio Comercial de Descalvado, adaptado e cedido pelo Sr. Domingos Gentil. Depois transferiu-se para a rua Dr. Cândido Rodrigues nº 20, na Unidade Municipal Profª Antonia Tenan Schlittler, construído pelo Prefeito Deolindo Zaffalon. Mantém o curso de 1º grau (além da educação formal, há aulas de iniciação profissional) com 22 classes, num total de 850 alunos.

 

- Escola E.E.P.G Padre Orestes Ladeira - 08/09/1981

 

- EMEF profª  Dirce Sartori Serpentino - Jardim Albertina

 

- escola estadual prof. francisco fernando faria da cunha (catito) - jardim do lago

 

- escola estadual profª thereza dos anjos puoli - bairro de santa cruz

 

- Escola Estadual Mário Joaquim Filla - Usina Ipiranga

            Em 1944 foi fundada a Escola Mista da Fazenda Boa  Vista, cujo inspetor escolar era Joaquim De Marco. Em 1961 passou a denominar-se Escola Mista da Usina Ipiranga, em 1962 Escola Mista Municipal da Usina Ipiranga, em 1968 Escola Masculina Municipal da Usina Ipiranga, em 1970 Escola de Eemergência - EME-21 da Usina Ipiranga, em 1975 Escola Mista da Usina Ipiranga, em 1976 EEPG Isolada da Usina Ipiranga, em 1979 EEPG Agrupada da Usina Ipiranga, em 1983 EEPG Agrupada Jornalista Mário Joaquim Filla, em 1988 EEPG Jornalista Mário Joaquim Filla. Em 1987 a escola passou a funcionar no atual prédio. Em 1993 conta com uma classe de pré escola municipal e 1º grau estadual com cbi, cbc, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª 8ª séries, suplência 1 no períoodo noturno e a EEPG São José de Jacutinga que está vinculada a esta unidade escolar contando com uma classe de 1ª a 4ª séries com funcionamento na Fazenda Paraguai.  Seus diretores: 1979 Tereza Manarim Redondo; 1989 Mercedes Geronymo; 1991 Elizabeth Traldi Torrezan; 1992 Luciano Ivo Tognetti; 1992 Maria Leia Furini; 1993 Sandra Aparecida Bortoletto Penteado Rosindo. Esta escola atende a comunidade da Usina Ipiranga e  também as fazendas vizinhas: Batalha, Itaoca, Tamandaré, Caridade, Saltinho, Venda, Santa Maria, Jacutinga, Paraguai, Santa Aurélia, Cajurú, hoje com aproximadamente 500 alunos, com funcionamento nos 3 períodos.

 

PRIMEIROS PARQUES INFANTIS

 

            Durante a administração do Dr. Jayme Regallo Pereira, em 1959, foi construído o Parque Infantil Maria Grassi, na Praça Dr. Luciano Esteves. Hoje o local é a Rodoviária Municipal. Parque Infantil do Largo de Santa Cruz dos Operários, construído pelo Prefeito Prof. José Ramalho Gabrielli em 1966, possuía como grande atrativo um velho bonde da CMTC de São Paulo, relíquia histórica dos transportes coletivos da capital paulista e do Brasil. Parque Infantil Paulo Roberto Jordão, localizado no Jardim Belém, inaugurado em setembro de 1967 pelo Prefeito Prof. José Ramalho Gabrielli. Seu nome é uma homenagem a uma inesquecível criança descalvadense, falecida prematuramente, filha do casal José Benedito Jordão e Dona Helena Ibanez Jordão. Hoje é a Escola Municipal Paulo Roberto Jordão.

 

- Escola Municipal Renata Salzano Gentil - Centro

 

PROFESSOR DESCALVADENSE É PATRONO DE ESCOLA ESTADUAL EM UCHOA

            Pelo Decreto Estadual nº 5.951 de 4 de abril de 1975, o Grupo Escolar da cidade de Uchoa passou a denominar-se Professor Pedro Elias, nascido em Descalvado no dia 7 de agosto de 1900 e falecido em Araraquara no dia 1º de setembro de 1972. Em Descalvado foi professor na Escola Rural da Fazenda São João da Aliança de 1926 a 1928, Escola Rural da Usina de 1928 a 1934 e Grupo Escolar Coronel Tobias de 1934 a 1936. Foi Diretor do Grupo Escolar de Guapiaçu de 1936 a 1939 e Diretor do Grupo Escolar de Uchoa de 1939 a 1960.

 

PROFESSORA MARLEY PINCA FONSECA ASSONI, PRIMEIRA PROFESSORA A INCLUIR "CONHEÇA DESCALVADO" NO CURRÍCULO ESCOLAR

 

Filha de Waldomiro Pinto Fonseca e Clementina Pinca, nascida em 27 de setembro de 1951 na cidade de Cajuru - Sp, veio para Descalvado com 6 anos. Formou-se no Curso de Pedagogia de Licenciatura Plena e Administração Escolar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "José Olympio" de Batatais. Lecionou nas escolas isoladas das fazendas Santa Justa e Bonanza e nas escolas estaduais José Ferreira da Silva, Padre Orestes Ladeira e Coronel Tobias. Destacou-se no ensino por ter sido a primeira professora da região a implantar o Método Construtivista que consiste na alfabetização sem o uso da cartilha, aproveitando para tanto o que a criança traz de seu meio ambiente. Através deste mesmo método introduziu no currículo escolar da 4ª série a coletânea "Conheça Descalvado", resgatando as raízes, para conhecimento da história da cidade.

 

PROFESSOR MÁRIO FRANCESCHINI, DOUTOR EM LETRAS COM DISTINÇÃO (Jornal “O Comércio” - 11/11/78)

            “A “Universidade de São Paulo” através de seu Departamento de Pós-Graduação, conferiu ao Prof. Mário Franceschini, professor de português da EEPSG José Ferreira da Silva de nossa cidade, o título de “DOUTOR EM LETRAS”, com distinção, no dia 27 de outubro de 1978, quando ocorreu a defesa de sua tese “LUXURIA E ARARITIA NA FICÇÃO CAMILIANA”, apresentada à Cadeira de Literatura Portuguesa, do Departamento de Letras, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP - Universidade São Paulo. Constituiram a banca examinadora que lhe atribuiu a nota 9,6 os seguintes professores doutores: Antônio Soares Amora, Isaac Nicolau Salum, Massaud Moisés, Júlio Garcia Morejón e Duilio Colombini. O fato teve ampla repercussão em nossa cidade onde o professor Dr. Mário Franceschini gozou de geral estima, principalmente também junto a EEPSG José Ferreira da Silva que, por longos anos, se beneficiou da elevada inteligência e grandes dotes de educador que irradiavam da pessoa do grande mestre”.

O professor Mário Franceschini nasceu na cidade de Cabreúva (SP) em 27 de julho de 1.920. Iniciou a sua carreira em órgãos da imprensa da Capital do Estado. Entre maio de 1.944 e março de 1.945 trabalhou na Empresa Jornalística Folha da Manhã Ltda, no jornal Folha de São Paulo. Depois trabalhou no Jornal de São Paulo no período de abril de 1.945 até o início de 1.948, de volta à Folha de São Paulo permaneceu por mais 4 anos, de agosto de 1.948 até outubro de 1.952, como revisor de textos. O início do exercício no Magistério Secundário deu-se em 17 de agosto de 1.951 quando ocupou a cadeira de Latim como professor substituto no Colégio Estadual e Escola Normal Nossa Senhora da Penha em São Paulo onde lecionou até 12 de outubro de 1.952.  Formou-se em Letras no ano de 1.953 pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo. Concursado escolheu Descalvado, onde lecionou no Instituto de Educação José Ferreira da Silva de 13 de setembro de 1.952 à 20 de maio de 1.983 quando aposentou-se. Casado com a professora Alzira Campos, teve dois filhos Silvio e Lauralice. Faleceu na cidade de Ribeirão Preto no dia 25 de março de 2.002. Seu corpo foi velado na Câmara Municipal de Descalvado, num reconhecimento ao Emérito Educador, Cidadão Honorário e colaborador do Legislativo como revisor da Lei Orgânica do Município, Código de Posturas e Regimento Interno. O Professor também colecionou vários títulos ao longo de sua vida acadêmica, além da Licenciatura Plena em Letras Clássicas (latim e grego), pela USP, realizou cursos de Filosofia e Teologia em seminário e especializou-se em Linguística. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Descalvado.

 

AS LETRAS SOB O SOL DE DESCALVADO (Gerson Álfio De Marco)

            Excluindo-se alguns nomes alteados (que os há), não serão letras maiores, talvez, com algumas presenças obrigadas nos áureos salões dos florilégios, com a durabilidade das reedições a ratificarem glórias conquistadas nos odeons da crítica mais credenciada. Letras menores (aceitemos) embora, na generalização, possamos cometer injustiças (e é quase certo que as cometeríamos) a alguns brilhantes cultores da prosa e do verso. Menores (acolhamos a adjetivação), mas letras, artesanato cerebral e nada despresíveis, é certo, porque de bons operários da língua, com os alforges de caminhadas artísticas entestados de cultura e a marcarem momentos de criação, nos dias de nossos dias municipais. Não é nosso intuito fazermos um trabalho de crítica, para o qual confessamos nosso despreparo, sarrafaçal que somos do altíssimo mister que reclama as credenciais da estese, da cultura maior e do dom. Fosse de crítica e o pudessemos fazer, restringiríamos o número dos focados; mas sendo um labor de relacionamento geral (pretende sê-lo), sai o trabalhador para uma respingadura imensa, nas lavouras do tempo. Move-nos, na empreitada, o desejo de registro, estudando nossa terra sob um novo ângulo, os dos cultores das letras; faceta essa sua não estudada ainda, parece-nos; mas iniciativa altamente interessante, acreditamos. Daí a razão de tentarmos a obra, atraídos pelo assunto e sem pretender esgotá-lo, na matemática dos somáveis; e sem assiná-lo pela acuidade de crítica, pois, para tanto, falta-nos fôlego, engenho e arte. E, assim, falaremos de homens que escreveram, sub sole nostro; descalvadenses natos ou não e ajustando, dessa maneira, o assunto, ao titulo deste trabalho. Saiamos, então, a campo, para o nosso afã de colheiteiros, na messe longa dos anos. Ousamos afirmar que nossas letras, estas na acepção deste trabalho, nasceram com a nossa imprensa. Então vagiram elas presença nas duas últimas décadas do Segundo Império. Aceita-se a “Imprensa de Descalvado”, como o nosso primeiro jornal, fundado que foi ele em 1884, por Olímpio Catão que, para cá, viera para reger cadeira de primeiras letras em 1883. Pedagogo, orador, jornalista, teatrólogo e contista, Olímpio Catão nascera na cidade de Lorena, em nosso Estado de 4 de fevereiro de 1850, vindo a falecer, em sua cidade natal, em 10 de novembro de 1908. Formado em 1876, pela Escola Normal da Capital, exerceu o magistério em Lorena, Descalvado e São Paulo. Tomou parte ativa no Primeiro Congresso Pedagógico realizado em São Paulo, em 1896. Em Descalvado, onde residiu, de 1883 a 1889, além de regente de classe de primeiras letras, como já se disse, fundou ele uma escola secundária, o renomado “Colégio Catão”, bem como a “Imprensa de Descalvado”, onde deixou o registro de sua cultura e de sua excelência como jornalista. Entre nós, escreveu a maior parte de sua produção: “Contos a Esmo” (contos); o “Orgulho”, “Ressuscitada”, “O Negro”, “A Pobreza”, “O Diadema da Virgem”, “Manifestações” e “Minha Sogra”, dramas e comédias ao gosto do tempo, mas que dão testemunho do espírito inventivo do autor e de seu bom domíninio do idioma. Depois de Olímpio Catão, paladinaram, em nossos jornais, ora por seus ideais políticos, ora fazendo literatura simplesmente, José Ferreira Martins, pugnante republicano e fundador de  “O Descalvadense”, o primeiro jornal desse nome, pois houve um segundo, mais tarde); Antônio Luiz Fabiano, em seu hebdomadário, “Cidade do Descalvado”; Eurico Saldanha, de pena fustigadora; Cândido Augusto Rodrigues, dono de estilo ameno; Amâncio Penteado, sarcástico, em política; informadíssimo em religião; polemista inveterado, nesses campos; Estevão Sul-Mineiro, bom fixador do cotidiano, Dr. Amâncio Penteado Filho, de sólida cultura jurídica e estilo forte... De Eurico Saldanha, diz-se que escreveu os versos de uma revista, “Descalvado Nu”, com música do Dr. Amâncio Penteado. Disseram-me contemporâneos de sua exibição que era altamente chistosa, de versos belíssimos, de música álacre. No princípio, nota-se, pois a predominância dos jornalistas. Depois deles, vieram os poetas; depois dos jornalistas, estes preponderantemente políticos, por isso mesmo verrineiros, combativos, jocosos; e que não fariam má figura (não exageramos em dizê-lo), se transplantados para os nossos tempos, para os nossos jornais, mesmo os das grandes cidades, acolchetados à tônica da contemporaneidade. O hábil manejo da língua (é inegável isto, basta lê-los); o brilho da frase, o felicíssimo desenvolvimento da argumentação; a harmonia, a propriedade e ora o farpear as deficiências e ora o ironizar feliz, nos encorajam à afirmativa. Depois deles, os poetas, dissemos. Mas antes de falarmos deles, falemos do grande Euclides, esse uma glória já firmada, em nossa literatura maior. Há biógrafos que afirmam que o extraordinário escritor brasileiro tenha escrito o começo de sua obra estupenda, na Fazenda Trindade, em nosso município e de propriedade de Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, seu pai. Uns avançam que a primeira parte dela, A TERRA; e outros ainda mais. A TERRA e o HOMEM. Outros aceitam que, nesse imóvel descalvadense, apenas delineou Euclides seu glorioso livro. Dessa opinião é Silvio Rebelo que diz, na biografia do inclito filho de Cantagalo e de sua autoria, quando acena para os tempos posteriores à luta de Canudos: “Assim, requereu licença e seguiu para Belém do Descalvado, onde o pai, havia algum tempo possuía uma fazenda - a Fazenda Trindade. A família lá se encontrava, logo que partira em agosto. Tudo era de prever que nos ares do Belém do Descalvado  e despreocupado dos deveres burocráticos, recobrasse cedo a saúde, a energia e os ânimos perdidos. Mas não descansou nessas férias forçadas. Planejara antes escrever um livro sobre a campanha, ainda quentes as impressões...” Mais adiante, diz o mesmo biógrafo, no rastro do assunto: “É perfeitamente aceitável que, no seu retiro, em Belém do Descalvado, dois ou tres meses não se sentisse Euclides seguro para escrever, como se supõe, as duas primeiras partes de OS SERTÕES: a TERRA e o HOMEM, talvez, tivesse esboçado apenas a terceira sobre a luta...” Discordam os biografadores, nesse campo obscuro da vida do escritor famoso; mas uma coisa é certa, porém; em Descalvado, bosquejou ele a sua obra magna e pode-se afirmar, até, sem temor, que aqui,  escreveu muitas das páginas magistrais de seu celebrado livro. Saindo de Descalvado, levaria ele, sem dúvida alguma, muita coisa acabada e pronta para aformar a magnífica saga das caatingas; Falado do imenso Euclides, que em nossa opinião, escreveu sob o nosso céu, voltemos aos poetas, aos nossos poetas. Pelos idos de 1890, estabeleceu-se em Descalvado, com consultório médico, um filho do Rio de Janeiro, Dr. Anastácio Vianna e que andara, já formado, pela França, especializando-se nos hospitais gauleses. Além de sua alta competência médica (clínica geral, especializações nas moléstias dos ouvidos, olhos e garganta) trazia ele, consigo uma bem melódica lira. Positivista, amigara-se com os pontífices da escola comtiana no Brasil e com os quais se carteava; literato era amicíssimo de Alberto de Faria, o imortal. Romântico ainda, mas com o parnasianismo, dominante então, pronto para arrebatar-lhe o plectro e, dentro das duas escolas e da temática do tempo, ele versejou com firmeza e até com certo encanto. Eis um exemplo de sua arte, no  soneto que são genuflexadas turibulações à dor materna e depois no poema chorando a morte de sua filha Landa:

DOLOROSAS

Tenho pena de vós, mães desoladas,

Quando vos morre um filho, o vosso encanto!

Sacrário da ternura, ó mães maguadas!

Tenho pena de vós, urnas de pranto!

 

Almas de amor, singelas, delicadas,

Escrínios do sorriso meigo e santo,

Sois as níveas magnólias perfumadas,

Sorrindo aos tenros filhos que amais tanto!

 

Mas que entoais saudosas melopéias,

Tão místicas lembrando ignotas plagas,

Quando embalais vossas carícias louras,

 

Como os lagos embalam as ninféias,

Ao som murmúrio das cerúleas vagas,

Tenho pena de vós, mães sofredoras!

 

FILHA MORTA

(Poema do Dr. Anastácio Vianna à sua filha Landa, falecida com apenas 18 meses em 9 de outubro de 1905)

 

I

Salteadora traiçoeira, entrou-me a doença em casa

E as garras encravou no corpo pequenino

Da pobre filhinha a arder como uma brasa!

Percebida, porém pelo materno tino,

A mãe o alarme deu, como ave que adivinha

O perigo no ar de um gavião ferino

 

Começamos a luta, eu e o morbo tremendo.

Era o corpo da filha o campo da batalha,

E eu lutava a chorar por ouvi-la gemendo.

 

De seu peitinho a pele um cáustico estraçalha

Para ver dos pulmões se arrancava o inimigo,

Que outros pontos tomando, o seu furor espalha.

 

Correu em meu auxílio um bom colega e amigo,

Armando do arsenal magnífico da ciência,

E bateu-se também como um herói antigo.

 

Para o mal embargar nenhuma providência

Faltou, fizemos tudo, os mestres consultando,

Nem uma falta só nos magoa a consciência.

 

Fizemos-lhe um martírio, embora nós chorando,

Para salvar enfim a mísera criança,

Que a moléstia feroz nos ia conquistando.

 

Atropela-se a luta, o monstro cresce, avança

E, as forças dominando, arrebata a mesquinha

Ao colo maternal e a nós toda a esperança!

 

Fria sem vida, jaz minha pobre filhinha!...

 

II

Ó bruta natureza despiedada!

Ó destino das coisas inconsciente!

Porque cortaste a vida a essa inocente

No começo da estrada!

 

Ontem inda criaste-a e hoje a mataste!

Porque  extinguiste a aurora antes do dia!

Vésper no céu formosa ainda,

E a estrelinha a sorrir logo apagaste!

 

Não deverá ser ela quem chorasse,

De joelhos, ante o túmulo paterno.

Se existisse um juiz supremo e eterno

Que esse mundo guiasse?

 

A ordem não seria dar o filho

Sepultura a seus pais, já fatigados

De viver, e, da vida aposentados.

Irem na cova procurando o trilho?

 

No entanto assim não foi. Esta que apenas

Era o dia formoso alvorecendo,

Ave implume a sonhar manhãs serenas

No ninho paternal, lá foi morrendo!

 

Porque ma deste então, ó Natureza!

Se o amor de pai me deste tão profundo?

Que encanto mais, que mais outra beleza

Nos enche o coração cá neste mundo?

 

Mãe egoísta, que vens de vez em quando

Roubar os nossos cândidos filhinhos,

Sem piedade de quem fica chorando,

Invejosa de os ver tão bonitinhos!

 

Leva-a para o teu misterioso seio,

Mãe de todos e tudo! A minha hora

Também virá de entrar no mesmo veio,

Para surgir de novo em nova aurora!

 

Leva-a! Porém, ó Madre! forma dela,

Se tens de revivê-la, a flor mais linda.

De uma planta também não vista e bela,

Cujo aroma jamais sentiu-se ainda.

 

III

Move a desgraça o peito dos humanos

Solidários na dor que desconforta.

Vi-o agora nos trances mais insanos,

Ante os despojos da filhinha morta!

 

A caridade humana vem fluindo

Como um suave caudal consolador,

E alheio sofrimento compartindo,

Trouxe brandura à minha grande dor...

 

Quantas mães a cuidar do meu anjinho!

Umas flores lhe traz, outra lhe talha,

Como se fosse ao seu próprio filhinho,

Uma elegante e esplendida  mortalha!

 

Aqui um ramalhete esta prepara

Com o feminino, incomparável gosto.

Costura aquela a vestimenta rara,

E todas choram, todas de desgosto!

 

IV

Enfeita o caixão da minha Landa

De saudades e trevos;

Trevos três folhas, eu três filhos tinha.

A morte uma colheu mais tenrazinha,

Que era a minha alegria, os meus enlevos!

 

Duas agora são as folhas na haste

Do trevo d’alma cheia de ansiedades...

Entressachai, mulheres caridosas,

Aos goivos, cravos, violetas, rosas,

Minhas tristes saudades...

 

Pronto! – Fechai o lindo caixãozinho

Do meigo lírio morto,

Levai, amigos meus, levai à terra.

Esse cofre que o amor de um pai encerra...

 

Chave das alegrias de minh’alma,

Fechou-me na tristeza desta vida

E lá se foi! Quem há de na alvorada

Trilar gazil na casa sossegada,

Patativa querida!

 

V

Nove de outubro! Ó treda escuridão!

Tarde cheia de dores!

Noite cheira de horrores!

É minha sexta-feira da Paixão!

 

Manhã de dez, sem sol! Dia funéreo

Em que vais, tu sozinha,

Dormir, cara filhinha,

Lá num berço sem luz do cemitério!

 

Onze horas da manhã... Adeus querida Landa!

Pedaço de minh’alma! Aurora de meu lar!

Deixas-me nesta dor que nunca mais se abranda

E vais longe de nós numa cova morar!

 

Adeus, filha adorada! A cama é lá tão fria!

Vais num quarto sombrio agora adormecer

Onde não entra o sol, onde não chega o dia!

Onde não sei também se irás sofrer...

 

Adeus! Vão te levando ao cemitério agora...

Deixaste para sempre o teto de seus pais

Onde eras a alegria, o meigo riso, a aurora!

Não te veremos mais! nunca mais! nunca mais!

 

Contemporâneo do Dr. Anastácio Vianna, poetou, entre nós, até os primeiros anos do século atual, o descalvadense, Dr. Francisco Zoelo de Oliveira Penteado, grande advogado e culto professor secundário. Filiado ao parnasianísmo, dentro da rigidez de suas regras, foi bom poeta. Trabalhava a língua com esmero, conhecendo-a a fundo. Juiz de Direito da Comarca, de 1923 a 1927, o Dr. Augusto Alvaro de Carvalho Aranha, chegara a esta cidade com a aura de esplêndido vate. Natural do Estado de Sergipe, formara-se pela nossa tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Durante sua permanência em Descalvado. Carvalho Aranha publicou dois de seus tres livros de poesia: VISÃO DAS HORAS e POEIRA DE MEU CAMINHO, enfeixando neles, muitas de suas composições escritas entre nós e entre as quais o seu belíssimo soneto FLUXO E REFLUXO, dedicado ao Padre João Baptista de Carvalho, então Vigário de nossa Paróquia e já nos grandes ensaios de seus altos vôos de oratória sagrada e profana. Transcrevemos, a seguir, esse seu bem acepilhado tetradecástico:

 

Doi-me a cabeça e à minha boca explode

O sarcasmo febril e o sangue gira

Como um raio veloz; ode por ode,

E carme a carme, escuto a minha lira.

 

Eterno mar, o espírito sacode

Uma idéia, outra idéia... Ora delira,

E ora, porque em seus cíngulos não pode

Tudo envolver, em trêmulos, suspira.

 

Rugem, na vaga, as cóleras do Oceano,

Saem, das ondas, doloridas notas,

E então a espuma é o pensamento humano;

 

Palpita aqui, desfaz-se, além, em máguas

E nós passamos, míseras gaivotas,

Mas, ai! não cessa o soluçar das águas!

 

A partir da segunda década deste século até nossos dias, escreveram, para os nossos jornais, sob o nosso céu, filhos prediletos das Musas, Sebastião Penteado, de lira simples e apaixonada; Oliveira Pimenta, de arte igual à daquele; Lázaro Ferraz de Camargo, de bem cuidado metro, de presença constante nos nossos semanários: Antenor Erveu Betarello, com muitos grandes momentos líricos; João Lima Santana, nordestino que se radicou em Descalvado, dando-nos belas poesias ora de plena obediência aos nomes da arte artiga, ora na evasão dos versos livres; que pontificou, também, em nossa imprensa e que, mais tarde, residindo na capital do Estado, foi jornalista de alto gabarito nas grandes folhas paulistanas; José Alcides Mendes, um filho do Ceará e que, sob o pseudônimo de “Marquez do Ceará”, poetizou amor e acrósticos felizes de muitas belas descalvadensesdo tempo; Eduardo Simões, soldado brilhante da poética renovada na rebeldia da Semana da Arte Moderna de 1922, de grande reputação nos arraiais paulistanos da poesia desparnasianada; Valentim Valente, de muita sensibilidade, de grande ternura, mormente nos seus versos amorosos e apaludido prosador, com sua ANITA GARIBALDI, romance, história, lirismo; Mário Joaquim Filla, de grande inspiração e autor de “Noite de Wassanaar” e “Ciranda dos Anjos”; Flávio Tallarico, poeta genuíno, com vitoriosa estréia com seu livro “Poemas do Momento Angustiado”; Daise Fante Tallarico (Salambô) com algumas produções excelentes de fortíssima tônica social. De 20 para frente, com trabalhos exalçáveis, freqüentaram a nossa imprensa, continuando a velha tradição dos combativos e brilhantes jornalistas do passado, o Dr. Luciano Esteves dos Santos Júnior, Juiz de Direito da Comarca de 1920 a 1922, com encantadoras crônicas e com páginas de alto saber jurídico; o Padre João Baptista de Carvalho, coadjutor e vigário da Paróquia de 1922 a 1926, também notável orador sacro e que, na ocorrência das festas do centenário de nossa independência política, em 1922, proferiu altíssima oração comemorativa da efeméride; seu irmão Oscar Ferreira de Carvalho, notável latinista e profundo conhecedor do vernáculo, autor de exaustivo trabalho sobre o sacerdócio e lido, com muitos apalusos, perante o antístite diocesano, D. Paulo de Tarso Campos e cultos sacerdotes católicos; e autor também de publicável trabalho sobre a questão romana, em 1926, quando o governo italiano de então e a Santa Sé se reconciliaram no terreno político, epilogando a cinqüentenária questão político-confissional; Celso Rodrigues, com alguns contos com trama e moralidade orientais; José Ambrósio de Souza, com bons artigos sobre temas do cotidiano... No concernente à oratória religiosa, no culto católico, ocuparam-lhe o púlpito, em Descalvado, do início do século até os dias atuais, fortes na doutrina e fluentes na palavra, os Padres Francisco de Paula Lima e Manoel Francisco Rosa; o Cônego João Osório Marcondes, de tradicionalíssima família de sacerdotes do Vale do Paraíba; o Padre Salomão Vieira, português, de prédicas florejadas, na mais lídima tradição lusitana; o Padre João Baptista de Carvalho, depois frei franciscano, uma das mais  alevantadas vozes da tribuna sagrada da História da Igreja, em Descalvado; o Cônego Manoel Alves, de grande eloqüência, com arrebatados sermões; o Monsenhor José Canônico, muito atualizado post-conciliarmente e ferindo a fundo os temas de suas homilias e sermões. Na Igreja Presbiteriana, local, culto e eloqüente, ergue sua voz de pastor, o Reverendo Matatias Campos Fernandes. Na nossa imprensa, hodierna, colaboram, com  destaques, aqui residentes, entre outros, o Prof. Mário Franceschini, de nosso Colégio Estadual e Escola Normal, o Prof. Matatias Campos Fernandes, também desse tradicional educandário; o Dr. Glenan Leite Dias e o Monsenhor José Canônico. Mário Franceschini é dono de invulgar cultura e, escrevendo para os nossos jornais, especialmente para os estudantes, estadeia, em seus trabalhos, os imensos cabedais de seus conhecimentos valtíssimos, ao tempo que os apresenta em linguagem ática, com profundeza de conceitos e focalizando os mais diversos assuntos, com sua ciência e garbo. Matatias Campos Fernandes, em seus escritos, onde a tônica é a evangelização, é de estilo brilhante, cultivado, forma e fundo numa feliz conjunção resultando em beleza. O Dr. Glenan Leite Dias, abalizado médico em nossa cidade e decano deles, vem colaborando, em nossos semanários, com interessantes reminiscências. O Monsenhor José Canônico tem escrito para a nossa imprensa, artigos de caráter religioso, em geral; e alguns de cunho histórico, descalvadense e tudo com encanto de forma e fundo. Um descalvadense nato e que, há tempos atrás, quando de suas periódicas visitas à terra natal, escrevia para seus jornais, é o Dr. Dárcio de Arruda Campos, o consagrado Matias Arrudão, de “O Estado de São Paulo”, de nossa capital. Para os nossos jornais, nestas ocasiões, escreveu o mencionado jornalista sobre diversos assuntos e sempre com o vigor que caracteriza sua prosa e com aquela exuberância e aquela versatilidade que o faz assinalado na grande imprensa paulistana. O Dr. Dácio de Arruda Campos é autor de diversas obras e entre as quais uma de polêmica a respeito da paternidade da invenção do aeroplano. Voltamos da respigadura, com o dever cumprido. Não egrégiamente, com certeza, mas é verdade que o apanhador visou à perfeição, em seu trabalho, almejando recolta plena, sem um fruto pendente, perlongando as lavouras. Lacunas há, neste descozido trabalho e nós as confessamos, mas cremos ter relacionado, nele, as vozes mais representativas da prosa e do verso, descalvadenses natos ou não e que fizeram vivrar suas liras provincianas e falar a doce língua portuguesam sob o nosso claríssimo sol meridional. Acabando de nos ler, alguns talvez indaguem: necessária a obra? Para nós, acreditamos que sim, respondemos. Literatos maiores, menores, isignificantes os nossos? Responder-lhes-emos, reiterando palavras preambulares: não quizemos fazer crítica literária, fazendo aflorar algumas culminâncias; mas sim História. História literária, desprenteciosa, de registro somente. Mínima, liliputidiana, na extensão. Altíssimos, mediocres ou inferiores os arrolados, foram eles, é certo, penas que escreveram, sob o nosso sol, para diversas gerações, a atual inclusa e com os fervorosos aplausosde todas. Os focados são nomes certos na nossa pequena, acanhada, particularíssima História literária. Intamural. Urbana. Indo para seus noventa anos.

 

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL:

 

- Fundada em 28/03/1944, pelo Decreto-lei 108, do Prefeito Amasílio Pozzi, frente ao incentivo do Dr. Manoel Carlos da Costa Leite, Juiz de Direito da Comarca e principal propugnador da criação e progresso da Biblioteca Pública Municipal, sendo a mola mestrado empreendimento, desenvolvendo os mais variados expedientes para o seu eficiente funcionamento, inclusive com o seu regimento e estatutos. A primeira bibliotecária que temos registro foi Conceição Aparecida Aranha Monteiro.                                                                       

- Denominada Biblioteca Pública Municipal Prof. Gérson Álfio De Marco, pelo Decreto-lei 739, de 20/12/1977, do Prefeito Mauro Benedito de Lima

- Inauguração do prédio atual - 14/02/1992 pelo Prefeito Mauro Benedito de Lima


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