INDÚSTRIAS E EMPRESAS DE DESCALVADO MAIS ANTIGAS: (Mário Ângelo V. Zambelli)

 

Usina Ipiranga de Açúcar e Álcool S/A - 1954

Socil Pró Pecuária S/A - 22/05/1968

            Sede atual - 01/11/1984

Royal Canin - 11/09/91

Mineração Jundú S/A

            03/02/59 - Início da extração de areia em Descalvado

            31/01/63 - Alterou de LTDA para S/A e mudou seus escritórios de São Paulo para Descalvado

Mineração Descalvado S/A - 08/1985

Mineração Cilnina Ltda - 14/11/91

Fábrica de Doces Zula - 1929

            Instalações atuais - 1953

Cooperativa de Consumo Popular - 1964

Cooperativa Agrícola Mista do Vale do Mogi Guaçu Ltda

            Armazém - 1961

            Fábrica de Ração Coperguaçu - 1964

            Frigorífico Avícola da Coperguaçu que abate o Coperfrango - 1978

 

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS MAIS ANTIGOS

E AINDA EM ATIVIDADE:

 

Drogaria  Central - 29/03/1929

Fábrica de Doces Zula – 1929

Casa Popular

 

BANCOS E CAIXAS

 

- Banco Popular de Descalvado ou Banco Comercial de Vicente Tallarico

(funcionou no Prédio localizado na esquina da Bezerra Paes com Guerino Oswaldo - Bar Mussolini);

- Banco Comercial do Estado de São Paulo – 1926. Funcionou em prédio localizado na esquina das ruas 24 de outubro com Coronel Arthur Whitaker defronte a Praça Barão do Rio Branco. No andar térreo funcionava a agência e o sobrado era residência do gerente e família. Curiosidade: Existe no local um cofre muito antigo, conhecido como “Casa forte”, que devido ao seu peso e tamanho, não pode ser retirado. Um dos gerentes do Banco Comercial, no período de 1933 a 1947, foi o senhor Hamilton Wood, pessoa muito conhecida e estimada.

- Caixa Econômica do Estado de São Paulo - 1919;

            - inauguração do prédio atual em 08/09/64;

- Banco Moreira Salles (atual Unibanco) - 1947;

- Banco Federal de Crédito (atual Banco ITAÚ) - 1953;

- Banco da Lavoura e Comércio (atual Banespa) - 1968;

- Caixa Econômica Federal - 1974;

- Banco do Brasil - 1978;

 

ALGUNS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS, BANCÁRIOS, ENTIDADES E AGENTES AUTÔNOMOS QUE JÁ ENCERRARAM ATIVIDADES (Luiz Carlindo Arruda Kastein – Mário Sebastião Bonitátibus)

 

Alfaiataria De Marco – Rapahel De Marco – Rua Bezerra Paes

Alfândega Descalvadense - Feliciano de  Salles Cunha - Rua José Bonifácio esquina com Bezerra Paes (fazendas, armarinho, chapéus, calçados, perfumaria, roupas feitas, arreios, ferragens, livros, objetos de escritório, louças, bebibas, secos e molhados. Também exercia o ramo de Comissário de Café recebendo em consignação café de qualquer qualidade, com adiantamento de 80% do valor à vista do conhecimento, representando a firma Dorso & Cia de São Paulo, estabelecida a rua Paula Souza, 5 e 7)

Ao Taco de Ouro de Antonio Nunes dos Santos

Associação Rural de Descalvado - fundada em 1946

Banco Comercial do Estado de São Paulo - fundado em 1926

Banco Federal de Crédito - fundado em 1953

Banco Moreira Salles - fundado em 1947

Boliche Descalvadense de Capitão Guilherme de Carvalho Whitaker;

Caixa Econômica Estadual - fundada em  1919

Casa Alfredo - 1943 - Rua José Bonifácio - Armazém

Casa Carvalho - 1881 - Rua Cel. Tobias, 66 – Armazém

Casa Fava – Avenida Guerino Oswaldo, 251 - Tecidos

Casa Nova de Marciel Vilela - Rua José Bonifácio, 604

Casa Sabonge - 1882 - de Irmãos Sabongi Av. Guerino Oswaldo Central Hotel - 1888 - Herbert Müller - Praça da Matriz, 38

Chalet de Loteria de Antonio José Martins – Av. Cel.  Tobias

Cooperativa dos Funcionários Públicos e Bancários – 1956

Fábrica de Arreios – Jonas B. de Castro – Av. Cel. Tobias

Fábrica de Carroças de Francisco Todescan – Rua Municipal

Fábrica de Macarrão Descalvadense de Carlos Mayese

Fábrica de Sabão de Américo Annovazzi – Av. Cel. Tobias

Foto Bazar Nacional de Ricardo Carandina

Loja da Syria de Miguel Sabonge - Rua Bezerra Paes – Tecidos

Lotérica Gato Preto – 1.944 – Rua José Bonifácio, 432

Marmoraria Descalvadense de José Paulini - Largo da Matriz, 23

Officina Mechanica de Jorge Blakburn - fabricava carroções

Photographia Mehler - 1900 - Nuno Mehler -  Rua Barão do Descalvado, nº 9

Salão Americano - 1900 - Eugênio Nocenzo - Av. Guerino Oswaldo

Sapataria Art-Nouveau de Pedro Sabbatini - Rua Cel. Tobias, 19

Serviço Funerário – Prestado pela Santa Casa de Misericórdia

 

AGENTES AUTÕNOMOS

Romeu Bonitátibus – Jornal Italiano Phamphulla;

Bicycletas New-Hudson, Máquinas de escrever Underwood e Gramophones RÇA Victor – de Gaveau e Schiedemayer;

Mala Real Inglesa (passagens) – de José de Campos Penteado

 

CONSTRUÇÕES MAIS ANTIGAS DE DESCALVADO (Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

- Igreja Matriz - 1832 (reformas em 1842, 1876, 1881, 1903, 1925, 1935)

- Estação ferroviária - 1882

- Residência de Paulo Casati Filho - 1883 -  Avenida Guerino Oswaldo, 423

- Caixa d’água da “Biquinha” – 1887 – Abaixo do armazém da Estrada de Ferro

- Mercado Público Municipal - 1887 (Demolido em 1948)

- Hotel Descalvado - 1888 - Praça da Matriz

- Residência de Alfredo Franzim - 1890 - Rua Barão do Descalvado, 485

- Sede Social da Paróquia - 1890(?) - Praça da Matriz

- Santa Casa de Misericórdia - 1895

- Coreto e Chafariz do Jardim Velho – 15/11/1900

- Prédio do CERD  - 1900(?) - Praça da Matriz

- Hotel dos Viajantes - 1900(?) -(fundado como Grand Hotel de Emílio Monte Forte) - Avenida Guerino Oswaldo, 20

- Grupo Escolar Coronel Tobias - 1911

- Prédio do Banco Comercial – 1926 (?)

Bebedouro dos Animais - Largo da Estação Ferroviária - 1948

 

ALFÂNDEGA DESCALVADENSE (Mário Joaquim Filla)

            Em muitas crônicas publicadas através do tempo na imprensa de Descalvado, foi citada a existência em Descalvado da famosa “Alfândega”, grande armazém de movimentação dos produtos produzidos no município, como, também, importação de artigos do exterior, mas dedicando-se, principalmente, ao comércio e exportação de café. No livro “Sertão Encantado”, aparece a informação sobre a “Alfândega”, já instalada no começo do século  e com sua localização referida junto a Estação da Estrada de Ferro Paulista. Depois fotos a mostram na Praça Nossa Senhora do Belém, na esquina das ruas Bezerra Paes com José Bonifácio.  É citado também, que Feliciano  de Salles Cunha que aqui apareceu no começo do século, ainda moço, foi um dos seus proprietários. Podemos deduzir então que Feliciano abriu a “Alfândega”, inicialmente como exportadora de café, em prédio ao lado da estação ferroviária, depois quando ampliou os negócios para armazém e importadora, transferiu-a para o prédio na Praça Nossa Senhora do Belém.

 

SALÃO AMERICANO - (Mário Joaquim Filla)

            Salão Americano, à rua 13 de maio (hoje Avenida Guerino-Oswaldo) de propriedade de Eugênio Nocenzo e João Batista Salvador, desde a sua instalação nos primeiros anos do século até 1917, quando o segundo retirou-se com sua família, para a cidade do Rio de Janeiro. João Batista Salvador, italiano, era consorciado, em segundas núpcias, com D. Júlia Bevilacqua. Do primeiro consórcio, nasceram, entre outros, em nossa cidade, Prudente Bevilacqua, mais tarde maestro de música militar, em Lorena, neste Estado; e Francisco Bevilacqua, alto funcionário do Senado Federal, até anos atrás. Com a ida de João Batista Salvador, para a então Capital da República, o Salão Americano passou a pertencer a Eugênio Nocenzo que se associou a Vitório Salomão. Essa famosa barbearia de Descalvado, que durou até 1930, foi, enquanto existiu, a da elite fazendeira e urbana. Nela, eram servidos os grandes proprietários rurais daqueles tempos de fazendas repletas de cafeeiros e de famílias colônicas. Eram servidos os mais destacados comerciantes locais, as autoridades mais influentes, os representantes das profissões liberais, enfim, a gente de prol da cidade e do município. Havia os que tinham, em separado, suas navalhas próprias, máquinas de cortar cabelo, escovas, pó-de-arroz, perfumes e toalhas. Tudo devidamente acondicionado em gavetas individuais e, como se percebe, para uso exclusivo de seus proprietários e que eram muitos. Além de sua parte de barbearia com suas seis cadeiras, sempre ocupadas pelos seus inúmeros e constantes fregueses, o Salão Americano comerciava com perfumes, com cosméticos, com cigarros e charutos, com jornais e revistas. Entre os que trabalharam nele, por todo o seu tempo de existência, devem ser lembrados João Batista Salvador, Eugênio Nocenzo, Vitório Salomão, Satyro Vieira Lício, Itagiba Vieira Lício, Valentim Giorgi, Emídio do Espírito Santo, irmão materno de Eugênio Nocenzo; Lino Spanghero, José de Paula ( Juca Paulista) e João Batista Nunes. Naqueles tempos, trabalhava-se nos domingos e dias santificados, até às 15,00 horas. No Salão Americano, ao tempo em que eram atendidos ou enquanto esperavam ser atendidos, os fregueses fabulavam dos eventos do tempo, discutiam política local, nacional e internacional e, a princípio, trazidos por bem aparelhados trôles, com o tempo, foram sendo conduzidos pelos primeiros Ford, Oldsmobile, Buíck, Nash, Alfa Romeo, Lancia e Packard que o município conheceu, no advento do automóvel. E toda essa gente rica que tinha os melhores trôles de Descalvado, que possuiu os primeiros automóveis de Descalvado, eram destacados fregueses do Salão Americano, de Eugênio Nocenzo e Vitório Salomão e onde, além do atendimento para cortes de barba e cabelos, havia o perfume estrangeiro para ser adquirido, os jornais do dia, as revistas cariocas e o bom charuto da Bahia. A grandeza cafeeira de Descalvado, sem dúvida alguma, esteve bem representada pela fineza, pela amplitude e pela variedade do Salão Americano.

 

A ALFAIATARIA DO RAFAEL DE MARCO (Gerson Álfio De Marco)

            Rafael De Marco veio da Itália como alfaiate (e músico) e acabou como Serventuário da Justiça, na comarca local, titular do Cartório de Distribuidor, Contador e Partidor. Sabemos que residiu em Curitiba, no Paraná; e em Campinas, em nosso Estado, antes de vir para Descalvado, para integrar  a Banda de Música do Maestro Altério, rival do Maestro Buttera.

Como membro da Societá Fratellanza Italiana foi representante consular da Itália em Descalvado. Era o tempo em que as facções políticas mantinham suas filarmônicas, esmerando-se em compô-las de ótimos musicistas. Assim, de Campinas veio ele para a Banda do Altério que sabemos ter sido músico notável, clarinetista exímio, formado no celebrado Conservatório de Santa Cecília, em Roma. Era o ano de 1902, quando ele aportou em Descalvado para dela, jamais sair, até a sua morte em 1955. Casando-se com Santina Giorgi, com a responsabilidade de família, estabeleceu-se logo, com oficina própria. E sempre, a participar, com seu bombardino, das diversas corporações musicais de Descalvado, até 1920, quando abandonou, de vez, a Música. Sua Alfaiataria, sempre à Rua Bezerra Paes, durou de 1907 a 1945. E, durante todo esse tempo, foi local de obrigatória reunião de muitos descalvadenses, seus amigos. Nela, havia sempre o cavaco costumeiro, especialmente à noite, pois, naqueles tempos, trabalhava-se até às 20,00 horas. E até mais. Falava-se, ali, o Descalvado do tempo. E, com as novas locais, as do exterior: a Guerra Ítalo-Turca, a 1ª Guerra Mundial, a 2ª Guerra Mundial. As nossas revoluções: de 1922, 1924, 1930 e 1932. Fixemo-nos nos seus últimos anos. Era um velho ritual a reunião diária, à noite, dos habituais jogadores de víspora. Um parenteses, aqui: a partir das 20,00 horas, fechando a sua oficina, Rafael De Marco, abria o interior de sua casa, para um inocente jogo de víspora. Eram os seus amigos, mais recentes, mais velhos, num reunir alegre, desprovido de cerimônias. Os políticos do tempo: Dr. Sebastião Caiubi da Costa Soares, Dr. Victório Amadeu Casati, Paulo Casati e José Elias; os colegas do Fórum, Oscar Ferreira de Carvalho, Carlos Púlici, Antonio de Campos Camargo, Gabriel Lefcadito, o Juiz-de-Direito da Comarca, Dr. Herculano Ribeiro; o Pároco local, Padre Manoel Alves; Odorico Moisés da Silva, de tez negra, comprador de café, tenente da Guarda Nacional; o Dr. Anastácio Vianna, Romeu e Camilo Bonitátibus, Fernando Villa, Vicente César Casati, Alexandre Casati, Artur Casati, Orderigo Gabrielli, Pedro Belmarço de Oliveira e outros. A diária espera para a reunião lúdica, habitual era preenchida com a cavaqueira animada, na ante-sala da alfaiataria que era bem grande, registre-se de passagem, com suas quatro portas para o exterior. E, enquanto os amigos conversavam, Rafael De Marco alfaiatava para a sua freguesia urbana e rural. E ouvindo como todos, o Dr. Anastácio Vianna a exaltar a França, onde estivera estudando; Oscar Ferreira de Carvalho, com sua prosa escorreita, florida; o Dr. Victório Amadeu Casati, sempre com ditos espirituosos; Fernando Villa a recordar suas jornadas de artilheiro da 1ª Guerra Mundial; Camilo Bonitátibus a contar, com muito chiste, suas engraçadas anedotas; o Dr. Herculando Ribeiro, lembrando fatos de sua passagem por Itaporanga e Itararé; enfim, todos a dizerem sempre alguma coisa de sério e de cômico; a dizerem suas reminiscências, a comentarem os fatos mais significativos do cotidiano... E por causa de tudo isto, Rafael De Marco, pacífico, acolhedor, foi aprisionado por duas vezes, como revolucionário! Em 1924 e em 1930. Pelos políticos locais da oposição e pelo simples fato de que, entre os que se reuniam, em sua alfaiataria, havia os que eram contra Carlos de Campos, em 1924; e o Getulismo em 1930. Mas foram simples detenções, curtas e não molestadoras. Para encerrarmos, não poderemos deixar de fazer menção ao famoso banco da alfaiataria, pois, além das cadeiras onde se sentavam os interlocutores, havia, também, um banco de madeira que era ferido, constantemente, pelos canivetes de alguns dos freqüentadores do local, que depois de danificá-lo muito, em seu encosto e assento, providenciavam novo encosto e assento até danificá-los, de novo; e, de novo, trocá-los. Como uma fênix de ferro e madeira, o banco famoso renascia dos canivetes dos inábeis entalhadores!

           

O BAR DA DONA AURÉLIA (Gerson Álfio De Marco)

            Primeiros anos do século atual. Descalvado a exuberar na sua cafeicultura de três dezenas de milhões de cafeeiros espalhados por suas prósperas, bem povoadas fazendas. Sede urbana a oscilar, populacionalmente, entre três mil a quatro mil habitantes. Zona rural, com mais de vinte e cinco mil habitantes. Armazéns de secos e molhados em lugares estratégicos (comercialmente) para fornecimento de fazendas circunvizinhas. E algumas farmácias, na vastidão territorial de Descalvado riquíssimo e celebrado, como chão ubérrimo para café de especialíssimo sabor. Na cidade, na Rua Bezerra Paes, a Confeitaria do Filipinho. Não declinamos o seu nome de registro, por o ignorarmos, mas isto que é de primacial importância, como batismo comercial, pouco significa ante o batismo popular, sempre expressivo, sempre oportuno. Algo de íntimo, de muito carinhoso, até. Felipe João viera do Oriente longínquo, da lendária Síria. Coragem e laboriosidade oriental trazidos para Descalvado monocultura. Aqui, consorciou-se ele com D. Aurélia Valente, da operosa, benquista família Valente. Uma feliz união de dois estrangeiros, em terra estrangeira, mas terra de eleição. O casal abriu, em Descalvado, então, a sua confeitaria. Precisamente a Confeitaria do Filipinho, da denominação popular. Localizada defronte ao Cine Ideal, tornou-se ela o centro de reencontro dos descalvadenses, nos lazeres feriais e jornadas domingueiras. Havia, para todos, o bom vinho estrangeiro, a cerveja, empalhada: a gasosa, as latarias, os bons petiscos. E o bilhar, para as tacadas famosas do José Pimenta, o grande campeão dos seguidos torneios do intramuros, nos primeiros tempos; e a do José Manoel de Arruda (o Juca da Henriqueta), para os seus derradeiros lustros. E assim, o Descalvado se reunia, cotidianamente, na afamada confeitaria, conhecida, até a morte de Felipe João, por Confeitaria do Filipinho, como dissemos de início; e deste ano, até 1933, quando ocorreu a sua venda, como Bar da Dona Aurélia. Nos seus últimos anos, era o bar também, o seleto local de reunião dos enxadresistas locais do tempo: o Dr. Herculano Ribeiro, Juiz-de-Direito de Descalvado, por diversos anos; o Dr. Anastácio Vianna, filantrópico médico; os professores Antenor Erveu Bettarello e Pedro Elias; Romeu Bonitátibus, Alberto João Domingues, filho de Dona Aurélia; Januário Cúculo, conhecido amador teatral; e outros mais. Sem dúvida alguma, um lugar que entrou para a história de nossa cidade. Familiarmente acolhedor. Oásis de paz. Lugar dos diálogos dos descalvadenses de então, falando a sua política, a sua prosperidade, os seus anseios; as notícias do exterior; enfim o dia-a-dia da alegria e do luto de Descalvado daqueles tempos. E tendo sempre, entre outros, os famosos sonhos e pastéis que davam maior renome ao estabelecimento. E figura infalível, neste, a um de seus cantos, solitário em sua mesa, Antônio Valente, progenitor de Dona Aurélia, italiano de ótima cepa, na glória de sua velhice sadia e feliz tomando o seu costumeiro bicchiere de vinho peninsular. Como um nume tutelar do bom lugar do bom reencontro da boa gente de Descalvado de então!

 

A FARMÁCIA CENTRAL ( Luiz Carlindo Arruda Kastein)

            Inicialmente foi a Pharmacia Central do Ninico, “farmacêutico da boca do mato”,  como era costume dizer na época.  No ano de 1929, Benedito de Arruda Oliveira, adquiriu na Praça da República em São Paulo, os móveis e utensílios da Pharmacia Confiança, então em solvência, e os trouxe para Descalvado, abrindo a “Botica” na Avenida Guerino-Oswaldo, onde hoje é a Casa Fava. Pouco tempo depois viria adquirir o prédio à Rua Bezerra Paes nº 432, onde a farmácia, hoje Drogaria, funciona até hoje. Ali eram manipuladas as hervas de acordo com o receituário médico. Eram raríssimos os remédios industrializados. Fazia-se de tudo: chás, cápsulas, supositórios. E trabalhava-se sobretudo aos domingos. Os clientes chegavam das fazendas logo cedo, amarravam o animal nas argolas existentes na frente do prédio, entregavam as receitas e saíam para os programas da época: a missa na Matriz, as compras nos armazéns, as reuniões nos bares. Por volta das três horas da tarde, voltavam para a farmácia, recolhiam os remédios, que eram marcados em conta corrente, para pagamento a prazo de safra, muitas vezes atingindo um ano. Mas na época a inflação era baixa, e o comerciante suportava. Ninico tocou a farmácia até 1942, quando foi vendida para Carlindo Boller Kastein. A farmácia tomaria novos rumos, já nesta época os médicos mesclavam os remédios manipulados, com os industrializados. A farmácia se tornaria o ponto de encontro da gente daquele tempo, o farmacêutico, os médicos, os clientes, os amigos. E as novidades da época ali chegavam primeiro, nos papos descontraídos ao cair da tarde, trazidos ou pelos jornais, ou pelas notícias das poucas emissoras de rádio que eram precariamente sintonizadas nos enormes receptores valvulados que ficavam à frente de todos, no balcão principal da farmácia. E o Carlindo foi dos primeiros a possuir na cidade, o rádio Zenith, o gramofone, a rádio-vitrola,  a eletrola de alta fidelidade, o som estéreo, a televisão. E ali bem na frente do prédio o orgulho maior: as duas bicicletas Raleigh, com câmbio, importadas da Inglaterra. Bons tempos aqueles em que a residência do Carlindo ao lado da farmácia, permanecia com as portas abertas durante toda a noite. O freguês que tinha atendimento de 24 horas, entrava durante a noite,  casa adentro e ia despertar o proprietário na beira da cama. Contam-se casos pitorescos da época: as crianças que para irritar o atarefado proprietário da farmácia, vinham, a pedido de vizinhos gozadores, solicitar 500 gramas de “boller kastein” em pó. O cliente acometido de crise de dor de ouvido, que depois de adquirir uma caixa de supositório, consulta a receita médica e verifica a indicação “uso local”. No dia seguinte volta a farmácia e reclama: “Seu Carlindo, não foi fácil ficar segurando este supositório no ouvido”. O outro que depois de receber a indicação do farmacêutico para tomar um sonrisal para amenizar a dor de cabeça, volta confuso a farmácia, dizendo que não conseguira engolir “tão grande comprimido”. Muitos outros casos, perderam-se no tempo, a farmácia virou drogaria, e continua até hoje, no mesmo local, setenta anos depois, atendendo a gente descalvadense.

 

CERVEJARIAS DE DESCALVADO: (Gerson Álfio De Marco)

 

            Antes da grande industrialização da cerveja em São Paulo e no Brasil, e mesmo já iniciada esta, Descalvado sempre fabricou sua cerveja, até que, pela década de 20, fechou sua derradeira fábrica. Dada a grande população rural, na época do fastígio do café, às entradas da sede urbana, erguiam-se cervejarias de proprietários locais e todos fazedores de ótimos produtos, usando, para isso, entre os ingredientes necessários, alguns importados da Alemanha, a terra da cerveja por excelência.  Foi época de muita camaradagem, de constantes piqueniques e estes, especialmente nas proximidades das cervejarias. Sabe-se que naqueles tempos a segunda feira era dia de folga para os artesãos e, então, nesse dia, reuniam-se todos nas cervejarias descalvadenses, para uma festiva jornada de muito beber e comer. De 1890 até pouco mais de 1920, existiram em Descalvado as seguintes cervejarias:

 - Cervejaria Fumagali (Bairro de São Sebastião);

- Cervejaria Sassi;

- Cervejaria Tirolim (ficava às margens do Ribeirão Bonito, caminho da Fazenda  Ibicoara, propriedade da família Eugenio Anselmi);

- Cervejaria Gargantini de Guilherme Gargantini (Av. Cel. Tobias);

- Cervejaria Tamanduá de Pompeu Brambilla (Bairro do Tomanduá).

 

ENTIDADES ASSISTENCIAIS: (Gerson Álfio De Marco)

 

- Lar Escola Imaculada Conceição: fundada no dia 30 de março de 1905, nasceu para uma existência frutuosa, no campo da filantropia. Foi-lhe o inolvidável fundador, o então Vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Belém, Padre Manoel Rosa, com o apoio da Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria, supervisionadas pela Madre Cecília do Coração de Maria. Ao apelo do virtuoso sacerdote e da Irmã, levas de esforçados descalvadenses de então reuniram-se para a difícil obra. E a realizaram eles. Com imenso idealismo, com ingentes trabalhos, com adjutórios monetários e espirituais. Erguido, o asilo, destinado a meninas órfãs, foi ele entregue aos cuidados das zelosas Irmãs Franciscanas. E sob a direção destas, com a assistência espiritual da Igreja e a colaboração constante de todos, o tradicionalíssimo orfanato descalvadense foi vencendo os anos, as grandes dificuldades de todos os tempos, mas cumprindo, egregiamente, a sua subida missão.

 

- Lar EDUCACIONAL DESCALVADO (Fundado por espíritas em 14/10/1962 como Lar “Joaquim Timótheo do Amaral”  depois Lar do Menor  Desamparado e finalmente como Lar Educacional Descalvado.

 

LAR SÃO VICENTE DE PAULO:

 

Inicialmente Asilo São Vicente de Paulo.

- 25/07/1937 - doação do terreno pela Paróquia Nossa Senhora,

- 23/08/1937 - eleição da primeira diretoria, que ficou assim constituída: Diretor, Reverendo Padre Luiz Soriano; Mordomo, Lázaro Timótheo do Amaral; 1º Secretário, Octaviano Camargo Júnior; 2º Secretário, Oscar Ferreira de Carvalho e Tesoureiro, Sr. Carlos Púlici.

- 08/09/1937 - solenidade de inauguração.

 

ASILAR:

(mantido pela Igreja Evangélica Assembléia de Deus)

- 1971 - doação do terreno nas margens da rodovia SP-215 pela Sra. Regina Haleprian Antunes

- 08/09/78 - solenidade de inauguração

 

CINEMAS DE DESCALVADO:

 

- Cinema Campos - 1910 à 1930

- Cinema Biju - 1910 à 1913

- Cine Ideal - 1913

- Cine Central - 1930

- Cine São José - (Empresa Achilles Tognetti)

- Cine Belém - (Empresa Antonio Pádula Netto Ltda)

            - funcionava no Centro Pastoral - 1964 à 1966

- Cine Umuarama.

 

CINEMA

(FRANCISCO B. LÍCIO escreveu para o Jornal “O Comércio” no ano de 1970)

            Houve época em que o velho Descalvado, chegou a ter várias casas de cinema em funcionamento, entre, outras, o “Bijou”, no local onde mais tarde residiu a família “Juvenal Macedo”, o do Capitão Campos à rua Cel. Tobias, etc. Com a construção do novo e moderno Cine Central, feito com a observância de todos os recursos técnicos de então, os demais passaram a definhar, desaparecendo aos poucos. A então chamada “arte muda”, ou “sétima arte” era a coqueluche da população, tão carente de distrações. O cinematógrafo - nome completo, como se usava dizer estava em sua fase áurea, com a nascente indústria americana começando a sufocar a européia, até então senhora indiscutível do mercado mundial. As Francesca Bertini, as Pina Menichelli, os Max Linder, passavam a ceder a vez às novas e esportivas Pearl White, às Mary Pichford “a namorada da América”, e o próprio Charles Chaplin. Um vento de renovação varria a arte cênica. Descalvado, como todo o mundo, foi preso do furor cinematográfico; só se falava em cinema, só se vivia o cinema; comentavam-se os filmes da véspera, e esperava-se em agonia os filmes da noite. A atual voga da tele-novela nem de longe consegue lembrar o monoideismo gerado pela paixão do cinema. E filmes havia que deixavam marcas profundas, os velhos dramalhões lacrimogênios, que a memória coletiva retinha para sempre, constantemente a comentá-los e a compará-los, numa dissecação constante de suas melhores e mais emocionantes cenas.     Quem jamais ousaria esquecer o inolvidável “Honrarás Tua Mãe”, onde no meio de profundas lágrimas chegava-se à conclusão irrefutável de que o bem sempre triunfa sobre o mal, e de que todo vilão será um dia castigado? E os filmes em episódios, em série, riquíssimo filão recém descoberto, que eram projetados aos pedaços semanais, trazendo em suspenso a todos, com os perigos que os inimigos, sem moral e sem escrúpulo, invariavelmente procuravam inflingir ao simpático e cavalheiresco herói? Como se sofria com as agruras e desditas do Wilian Farnum, do Hoot Gibson, do Buck Jones! E como se ria com as trapalhadas do Chico Bóia do Haroldo Loyd, do Carlitos... E o velho e elegante James Jim Jeffries, outrora campeão mundial de box dos peso-pesados, mas que interpretando o seriado “O Homem da Meia Noite” deixava-nos a todos nós humilhados e vencidos, com a sensação da nosso pequenez e fraqueza! Os filmes eram anunciados com grande antecedência, em cartazes coloridos, colocados no saguão do cinema; e proclamados em programas volantes, distribuídos de porta em porta pela molecada, em troca de uma entrada grátis, bem como apregoados, pelas enormes tabuletas de zinco, colocadas estrategicamente em certas esquinas.            Foi a grande época do “divismo”, em que se murmurava reverentemente, quase com unção, o nome dos grandes astros e estrelas. Bastava um filme qualquer do Tom Mix para abarrotar o cinema, por mediocre que fosse o enredo. O grande astro da época e, também de todos os tempos, era Rudolph Valentino, um italiano de cabelos lisos e negros, cheios de vaselina como os de um cantor de tango, e olhar languido de mormaço, que com seus esgares d’olhos punha a loucura nas cabeças femininas. Morreu em 1926 deixando viúvas a milhões de mulheres em todo o mundo, inclusive em Descalvado. Pouco tempo após a sua morte, um ou dois meses se tanto, o Cine Central exibiu, num Domingo, a uma de sua fitas “A cobra”, em que ele trabalhou com Nita Naldi. Ao serem apagadas as luzes, para o início do espetáculo, e quando a máquina projetou na tela a figura esguia e morena do falecido divo, a assistência toda, num só impulso, como se houvesse sido combinado, pôs-se de pé, e saudou-o postumamente com uma prolongada salva de palmas!... Ah! Descalvado .Ó têmpora, ó mores...     Pelos meados, do ano de 1930 o cine sonoro apareceu por aqui, com a fita “Alta Traição”, como Emil Jannings no papel de Ivã, o Terrível. Foi um frêmito, um “frisson”, como se usava dizer, quando se súbito, a voz gutural do tedesco gritou lá do fundo da tela – “Pahlen! Pahlen!”             Havia espetáculo todos os dias, começando às oito horas, com exceção dos sábados e domingos, quando eram dadas duas sessões, às 7 e às 9. Os cartazes anunciavam, pomposamente, duas “soirèes” às 7 e as 9 horas. Aos domingos, à tarde não havia vesperal e sim “matinèe”. Adorava-se o francês, língua da gente. Sendo as fitas completamente mudas, existia o costume de faze-las acompanhar por música um acompanhamento musical arrancado a um velho piano desafinado. Entretanto, época houve, quando o Vaninho era o dono do cinema, que os espetáculos eram acompanhados por toda uma orquestra, o famoso “Jazz Band Caramujó”, onde pontificavam musicalmente o Chico Mayese, o Degobi, o Hildebrando Todescan, o Pedrinho Penati, e outros nomes. Com o aparecimento do cine sonoro, desapareceu a música “viva” das salas, substituida, no intervalo das sessões por uma “potente panatrope elétrica” como diziam os anúncios. Era notável, na época, que as fitas se dividiam em várias, partes, comunentes, seis, sete ou mais pedaços, cada um deles correspondente a um rolo de celulóide. Anunciava-se assim: hoje a fita tal,  em tantas partes. Projetada uma das partes, era necessário interromper o espetáculo, para descarregar a projetora, enrolar em um novo carretel a parte exibida, e carregar de novo a máquina. Tudo isso levava uns 5 a 10 minutos. Acendiam-se as luzes, os casais de namorados guardavam melhor compostura, e a população masculina projetava-se em avalanche, em direção aos dois bares fronteiros, o da dona Aurélia e do Ernesto Rusca, para tomar café, comer pastéis, sanduíches, bolos, balas, doces e o que mais aparecesse; o cinema dava muita fome...


CINEMA CAMPOS
(Mário Joaquim Filla)


            Quando o cinematógrafo explodiu nos anos plácidos do final do século XIX e começos do atual, Descalvado exuberava, agricolamente. O Município era intensamente povoado e a sede urbana ostentava uma vida comercial altamente próspera, conseqüência direta de sua celebrada cafeicultura. A moda, as conquistas técnicas, as modificações operadas nos grandes centros nacionais refletiam, aqui, nas suas devidas proporções. E, assim é que o cinema, o cinematógrafo, como soíam chamar os do tempo dizendo a palavra exata da ciência sem a mutilação posterior, surgiu entre nós, na sua simplicidade inicial e no seu grande impacto sobre a nossa cidade provinciana. A primazia do espetáculo cinematográfico cabe ao Capitão Augusto de Oliveira Campos, político militante, entre nós; Prefeito Municipal em 1923 e 1924 e Vereador em triênios anteriores. Sua casa de exibições situava-se na atual Avenida Coronel Rafael Tobias, em prédio ainda existente e que vizinha a residência e casa comercial do sr. Moycir Rusca. Mais de duas centenas de cadeiras em salão relativamente grande, para a constante e entusiasta platéia do tempo. A tela, de tamanho médio e as máquinas de operar, atrás daquela. O primeiro operador em Descalvado e, precisamente, nesse cinema, foi Emílio Conti, oficial ferreiro que trabalhava na Oficina Todescan. Após cada parte da película, a tela era molhada, quando havia, então, regulares intervalos, uma vez que, naqueles tempos, as exibições não eram contínuas, mas sim, parte a parte. Nesses intervalos, enquanto o operador preparava a nova parte, comentava-se intensamente o já exibido testemunhando-se os grande episódios históricos mostrados, as cenas profundamente impressionantes dos filmes trágicos ou dramáticos ou os lance cômicos dos grandes comediantes. Os espetáculos eram anunciados através de tabuletas móveis, retangulares, que se colocavam nas partes principais da cidade, ou seja, nas esquinas de maior presença popular no cotidiano da cidade. As folhas locais faziam, também, anúncios dos filmes da semana. E o cinema, várias vezes por semana, fazia a delícia do descalvadense daqueles anos e só aparições quase trimestrais de circos de cavalinhos e de touros roubavam então, por alguns dias, parte da fidelíssima platéia do Cinema Campos, o nosso primeiro cinema. Não se sabe exatamente a data de seu início e encerramento de atividades, mas existia ele, já, na primeira década do século e já não existia mais, nos fins da década de vinte. Contemporâneo do Cinema Campos foi o Cinema Biju que, porém iniciou suas atividades um pouco mais tarde e, em 1913, na Rua Bezerra Paes, defronte a Casa Popular, onde durante muitos anos funcionou o Cine São José, depois Umuarama, surgiu o Cine Ideal. Este no ano de 1913. Na histórica tela do Cinema Campos, Descalvado assistiu à consolidação do cinematógrafo. Nela, desfilaram, por alguns lustros, os grandes da sétima arte da época: Lida Borelli, Francesca Bertini, Maria Jacobini, Pina Menichelli, Maria Melato, Tina Di Lorenzo, Bella Hespéria, Eleonora Duse, Leda Gys, Itália Almirante Manzini, as grandes divas; e Alberto Capozzi, Túlio Carminatti, Luciano Albertini. Maciste, do cinema italiano, o predominante; Gabrieli Robine, Darah Bernhardt, Regina Badet, Rigadin, Robinet, Tontolini, do cinema francês, estes três últimos, grandes comediantes; Dorothy Dalton, Mae Marsh, Bessie Barriscalle, Enid Bennet, Lilliam e Dorothy Gish, Teda Bara, Mary Pickford, Pearl White, Florence Laurence, Mabel Normand, Blanche Sweet, Robert Harron, Owen Moore, Lionel Barrymore, Arthur Johnson, do cinema norte-americano. Neste, Chaplin  iniciava sua fulgurante carreira histriônica, ao lado de Roscoe Arbackle (Chico Bóia), Hary Langdon, Ben Turpin, e para suplantar o notável gaulês, Max Linder. O western começava a despontar com William S. Farnum e Harri Carey. E os filmes do tempo? A história, o drama, a tragédia, o idílio. Lucrécia Bórgia, Messalina, Cleópatra, Francesca da Rímini, Monna Vanna, Beatrice Centri, Cabíria. Os últimos dias de Pompéia, Madame Tallen, Quo Vadis?, Perdidos na Escuridão, Assunto Spina, do cinema italiano; O Assassinato do Duque de Guise, Elizabete a Rainha da Inglaterra; os Três Mosqueteiros, Jocely Monte Cristo, O Mestre das forjas, Mães Francesas, Eu Acuso, Fantomas, do cinema francês; As Aventuras de Dollie, a Marca do Fogo, O Despertar duma Nação, Intolerância, Civilização, Por Amor ou por Ouro, Após Muitos Anos, Edgar Allan Poe, do cinema norte americano. A tudo isto assistiu o habitué descalvadense, daqueles velhos tempos iniciais. A tudo isto e ao que não citamos. Logo após a primeira guerra mundial, Descalvado recebeu  a visita de Alberto Capozzi,  o grande astro italiano da época, numa jornada inesquecível. Nesse mesmo dia, ele, o augusto visitante, assistiu no Cinema Campos, a um de seus filmes! Eram bons tempos esses do cinema a começar, com exibições fragmentadas com tela molhada de quando em quando? Cinema mudo, pejado de letreiros? Certamente que sim para os do tempo e que, nele, tinham a sua grande coqueluche. -Hoje tem cinema? Que vai passar? Era só ler o hebdomanário da cidade ou a tabuleta na esquina mais próxima. Numa dessas, tabuletas, na esquina da então rua 13 de Maio (hoje Guerino-Oswaldo) com a Coronel Tobias, está o anúncio procurado: “Cinema Campos. Hoje - Film em 4 partes - Coração de Mulher”.

 

CURIOSIDADES (Mário Ângelo V. Zambelli/Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

PRIMEIRA CERTIDÃO DE NASCIMENTO: Uma menina com o nome de Maria nascida em 30 de julho de 1876, filha de Napoleão Feliciano de Araújo;

 

PRIMEIRO ATESTADO DE ÓBITO: Registrado na data de 4 de dezembro de 1875 da escrava de nome Constantina;

 

PRIMEIRO CASAMENTO: de Francisco Dresler e Ana Luiza de Campos datada de 17 de janeiro de 1889;

 

PRIMEIROS FOTÓGRAFOS:

            Nunes Miller e João Vendramine

 

FOTÓGRAFO CONTEMPORÂNEO -

            Ricardo Carandina. Sua primeira foto foi tirada de Octaviano Pinca em 3 de março de 1941. Sua primeira reportagem fotográfica foi a da inauguração do Coreto da Praça Nossa Senhora do Belém em 27/04/1941

 

LEIS E FATOS CURIOSOS (Luiz Carlindo Arruda Kastein)

 

TÍTULO DE RECONHECIMENTO

            Pela lei nº 30/62 de 29 de agosto de 1962, o então Prefeito Municipal Deolindo Zaffalon, com a aprovação da Câmara instituiu a distinção de caráter individual sob a expressão “TESTEMUNHO DE RECONHECIMENTO E APREÇO”, destinada a homenagear descalvadenses e pessoas outras que contribuíram para o progresso da comuna. Decorridos mais de trinta anos, ninguém até agora, descalvadense ou forasteiro, mereceu a honraria.

 

BALANÇA PÚBLICA -

            Pela lei nº 12 de 2 de março de 1964, o então Prefeito Prof. José Ramalho Gabrielli com autorização da Câmara, deveria adquirir uma balança, para que colocada em praça pública, servisse a população, “em suas verificações de gêneros alimentícios e outros adquiridos para a sua mantença cotidiana”.  Embora a lei não tenha sido revogada, decorrido tanto tempo, nossa praça principal, continua sem a balança.

 

SELO PARA COBRANÇA DE IMPOSTO SOBRE DIVERSÕES PÚBLICAS

            Pela lei nº 14 de 4 de dezembro de 1957, o Prefeito Jayme Regallo Pereira, deveria mandar confeccionar selos adesivos, que serviriam para arrecadar 5% do valor cobrado por ingresso de casas de diversões (cinemas, teatros, circos, parques, clubes, exposições, feiras, etc). Até hoje os selos não foram implantados, e a municipalidade deixa anualmente de receber considerável quantia de dinheiro com parques, circos e festas como a do Peão e a FECID.

 

DESCALVADO AJUDOU A CONSTRUIR O CORCOVADO

            Em meados do ano de 1923, a Câmara Municipal de Descalvado e muitos descalvadenses, coordenados pelo Padre João Baptista de Carvalho, doaram contribuições em dinheiro para o Monumento ao Cristo Redentor do Rio de Janeiro.

 

UM CANHÃO PARA DESTRUIR DESCALVADO

Contam que o Tenente Coronel Alfredo D’Aguiar Barros, proprietário da Fazenda Santa Maria - grande produtora de café, daí o título de Tenente Coronel, foi dono de uma carreira política conturbada, uma vez que eleito Vereador em 3 legislaturas (1905-1908/1911-1914/ 1914 -1917 e 1917-1920), renunciou em todas elas. O povo decepcionado com suas renúncias não o reelegeu quando tornou a se candidatar. Revoltado refugiou-se em sua fazenda, onde contam adquiriu um canhão e mirou para a cidade, com a finalidade de destruí-la. A Praça Luiz Celso Antonio no Jardim do Lago, possui uma réplica do canhão, rememorando o acontecimento.

 

OBRAS LITERÁRIAS QUE CITAM DESCALVADO

           

            “A filha do Boticário” de autoria de Wilson Moreira da Costa, cita o Grupo Escolar Coronel Tobias, a Avenida Washington Luiz (Guerino-Oswaldo), as 3 primeiras farmácias, o Cel. Benedito Fermino dos Anjos, o prédio do CERD.

            “Sertão Encantado” lançado no ano de 1977, de autoria de José de Salles Cunha Júnior, cita o trabalho pioneiro e desbravador de Feliciano de Salles Cunha , dono da Alfândega Descalvadense, empresa exportadora de Café que no início do século ficava ao lado da estação ferroviária.

            “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus, é o diário de uma favelada do Canindé, as margens do Tietê em São Paulo. Em uma rápida passagem conta a história de Policarpo, um nortista que residia na favela e se aventurou com a prima de sua mulher. Quando esta descobriu Policarpo e a prima foram para Descalvado., levando todos os móveis, deixando só a cama para a mulher traída.

            “Apontamentos de viagem” de Joaquim Leite de Moraes, narra a passagem do Imperador Pedro II por Descalvado.

            “Letras Acadêmicas” Volume 4 da Academia Jundiaiense de Letras, no conto “Precioso Encontro” narra a busca que o Padre Benedito Antonio Jahnel faz aos móveis que pertenceram aos seus descentes na Fazenda Mato Negro de Descalvado, na época do apogeu do café.

            “A Estrada do Mogi Guassu - A História dos ramais ferroviários de Descalvado e de Santa Veridiana” de Ralph Mennucci Giesbrecht, narra a história da Estação Ferroviária do Bairro do Butiá em Descalvado.

            “Mestres, Santos e Pecadores: educação, religião e ideologia na Primeira República brasileira” do escritor descalvadense Marco Antonio Pratta”

 

 

OBRAS HISTÓRICAS SOBRE DESCALVADO

-         “História do Descalvado” de Antenor Ervêu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello);

-         “Descalvado de 1809 a 1996 de Sonia Belli;

 

UM CACHORRO DIVULGOU O NOME DA CIDADE

            Na década de 70 uma divulgação comercial veiculada nos grandes jornais brasileiros sobre o “Canil Descalvado” localizado em Curitiba e especializado em “pointer inglês”, divulgava o nome de nossa terra quando informava que possuia o reprodutor e raçador mais difundido no Brasil, o tri campeão Xingu de Guaraituba de Descalvado. Por mais de vinte anos o “Canil Descalvado” de Sebastião Lima dos Santos, criou “pointers ingleses” e dali saíram inúmeros campeões e os entendidos consideravam a linhagem Descalvado como o que havia de melhor na criação animal. O fato é que tomando parte em todas as exposições do genero, os produtos do “Canil Descalvado” de Curitiba que eram constantemente citados nas revistas e jornais especializados no assunto, divulgavam o nome da cidade.

 

FILME NACIONAL FOI RODADO EM DESCALVADO

            No ano de 1963 a famosa dupla sertaneja  “Tonico e Tinoco” escolheu o Município de Descalvado para a filmagem de  “ Lá no meu sertão”, de João Salvador Peres e José Peres, cujas cenas foram tomadas na Fazenda Santa Maria de propriedade da família Pozzi, estradas e outros locais como o Salto do Pântano. Contracenaram inúmeros descalvadenses, principalmente na “festa do arraial”.

 

MÓVEIS RÚSTICOS FABRICADOS EM DESCALVADO

 

            O filme “Um caipira em Bariloche” produzido e estrelado por Mazzaropi, foi mobiliado em várias cenas, com móveis rústicos fabricados em Descalvado por Antonio Cazarim, um artezão que utilizando toras, dormentes, madeira velha, tocos retorcidos, madeiras de medidas irregulares, as transforma em estantes, mesas de todos os tamanhos, cadeiras, espreguiçadeiras, bufes, barzinhos, cofres, pia batismal, abajur e uma variedade de móveis, que foram exportados para diversos países como Argentina, Estados Unidos, França, Índia e Suiça dentre outros.

 

SERVIÇOS PÚBLICOS (INÍCIO)

 

Serviço de Correio:

1865 – Estabelecido serviço de correio particular

1867 – Correio público com entregas de 15 em 15 dias;

1871 – A entrega da correspondência passou a ser de de 5 em 5 dias;

1885 – Com o advento da ferrovia a entrega passou a ser diária;

Mercado Municipal - 1888

Matadouro Municipal - 1891

Serviço de água - 1898

Serviço de luz elétrica - 1902

Serviço de esgotos -1912

Serviço telefônico sistema a magneto - 1908

Serviço telefônico automático - 1966

Serviço Municipal de Televisão - 1970

 

CORREIO NO DESCALVADO

(Antenor Erveu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello)

 

1865 – Estabelecido serviço de correio particular

1867 – Correio público com entregas de 15 em 15 dias;

1871 – A entrega da correspondência passou a ser de de 5 em 5 dias;

1885 – Com o advento da ferrovia a entrega passou a ser diária;

1 - Poderá imaginar, o cidadão que, diariamente, rece­be sua correspondência por intermédio da Agência do Correio local, como seria recedida a correspondência, se houvesse, nos idos de 1832, em nossa terra? Havia cor­reio público nessa época? Como seria transportada a correspondência?

Vejamos o que nos diz Azevedo Marques, em apontamentos Históricos da Província de São Paulo, 1° volume, a páginas 207: “O estabelecimento de correio na Ca­pitania de São Paulo foi proibido por ordem régia de 26 de Abril de 1730, dirigida ao capitão‑general Antonio da Silveira Caldeira Pimentel. Somente em 28 de Julho de 1.798 foram criadas por bando (pregão público), manda­do lançar pelo capitão‑general Antonio Ma­nuel de Melo Castro e Mendonça, as pri­meiras linhas de Correio público, sendo uma entre a Capital e Santos e outra en­tre a Capital e o Rio de Janeiro. A l4 de outubro de 1.800, o mesmo capitão‑general estabelecia linhas de correio público entre a Capital e as vilas de Itú, Paranaquá e São Sebastião. Leis posteriores ampliaram este importante ramo de serviço.

2 - Da descoberta do teritório descalvadense em 1809, por Nicolau Antonio Lobo e Agostinho José Alves de Amorim até a fundação do povoado, em 1.832, por José Ferreira da Silva, não se cogitou de Correio na terra. Quando havia necessidade de enviar uma correspondência, o necessitado o fazia através de um mensageiro próprio até a Vila de São João do Rio Claro de onde havia uma correio, estabelecido desde 1812 de acordo com determinação legal. Esse correio fazia o percurso de Rio Claro à Capital, de quinze em quinze dias. Se o assunto fosse muito urgente, mais valia ir-se até o destino e tratá-lo pessoalmente, pois entre a ida e a volta da carta havia espaço de tempo de um mês no mínimo.

3 - De 1810 a 1864, durante uro quar­to de século, no Descalvado, o serviço de correio entre.a Villa e São João do Rio Claro era feito de favor. Aproveitava‑se  sempre a ida de algum fâmulo (criado) de fazendeiro, escravo ou capanga para que este, juntamente com a correspondência que con­duzia, postasse mais a do missivista. E havia datas certas para essa entrega. Essas datas conduziam com o primeiro dia do mês e a segunda quinzena do mês.

4 ‑ Progredia a olhos vistos o Descalvado. Sua lavoura era um prodigio de tra­balho e os cafezais cobriam o vasto terri­tório ao mesmo tempo que as culturas de cana de açúcar, fumo e cereais. A Freguesia estava bem povoada e já se falava em instalar Câmara Municipal. Estava‑se em v esperas de tornar‑se Vila a Freguesia. Foi nesse afã de colméia laboriosa que um particular, o cidadão Placidino Joaquim da  Mota, teve a iniciativa de instalar, em 1865, por conta própria, o correio. Era um ser­viço feito a expensas próprias, uma linha intermediária, que corria de 15 em 15 dias ligando Belém do Descalvado a São João do Rio Claro.

5 - Instalada a Câmara Municipal, em 1866, tratou ela do problema perante o Governo Da Província. Este não se fez de rogado e, em 18 de Dezembro do mesmo ano, em circular assinada pelo Presidente da Província, pedia informações a respeito do serviço em nossa terra. Das informações enviadas pela edilidade descalvadense, re­sultou, em 1.867, ser criado o correio público, sempre com a remessa de correspon­dência de l5 em 15 dias. Foi nomeado como primeiro agente  Joaquim da Cruz Pimentel.

6 – Em 11 de Janeiro de 1870, a Câmara fazia uma representação ao Gover­no da Província a respeito de ser estabe­lecido o correio para o Descalvado, de 5 em 5 dias, a exemplo de outras localidades “visto que a Vila com  grande produção agrícola, merecia esse melhoramento.” Em 30 de Junho de l871, era, pela Administra­ção Geral dos Correios de São Paulo, pedida, à Camara, a indicaçã de uma pessoa para o cargo de agente dos correios,. Visto ter‑se vagado esse lugar, devendo ser indicado para o lugar uma pessoa idônea. Pelo vereador Tenente Rafael Tobias de Oliveira foi indicado o cidadão Placidi­no Joaquim da Mota que já ocupava e bem desempenhara o cargo, tendo‑se em conta que foi ele o introdutor do correio em nos­sa terra, expendendo, para isso sacrificios sem conta. A indicação de Placidino foi recebida por unanimidade, resgatando-se dessa forma uma velha dívida de gratidão. Um mês após essa indicação, era nomeado Placidino Joaquim da Mota agente do Correio em Descalvado. Ainda na sessão de 30 de junho, cogitou-se de solicitar novamente ao Administrador Geral dos Correios de São Paulo, fosse estabelecido um estafeta de 5 em 5 dias, visto que o mesmo já existia em Pirassununga, não ficando por isso muito dispendioso.

Devemos acrescentar que do ano de 1.871 em diante, o correio não seguia mais via São João do Rio Claro, mas sim via Pirassununga.

7 - O cargo de agente do Correio na Vila não era espinhoso. Espinhoso era o cargo de estafeta ou condutor da mala pos­tal. Este fazia o trajeto a cavalo para Pi­rassununga, pela antiga estrada que ligavas as duas cidades, passando pela fazendas Santa Rosa, estrada cheia de lugares pro­pícios para assaltos e emboscadas. Várias vezes foí o estafeta surpreendido em seu mister em plena estrada, escapando algu­mas vezes pela velocidade do animal de sela e sendo surrado, outras vezes, sob a alegação de que levava valores e de que esses valores deviam ser entregues aos assaltantes. Nao houve, felizmente, caso de morte nesses assaltos. O cargo do estafeta era geralmente imposto pelo poder público a seus apaniguados. De vontade livre, nin­guém o aceitava, pois era um cargo de sa­crificio e muito perigoso. Mais perigoso se tornava o cargo quando a correspondência remetida tinha fundo político e uma das facções timbrava no afã de que essa correspondência não chegasse a seu termo. Ocasiões houve que seguia a mala postal acompanhada do estafeta e mais dois ou três capangas do partido político no poder. Eram os tempos heróicos.

8 - Novamente o cargo de agente do Correio tornou a vagar‑se, em Junho de 1.871. Para esse fim, em 13 de Julho do mesmo ano, a Câmara pedia providencias perante a Administração Geral dos Correios no sentido de ser nomeado um agente, pois o efetivo não mais podia exercer o cargo por sofrer de «delirium tremens». A nomeação recaiu em um protegido, dado a valentia. E tantas fez Esse valentão, trans­formando a agência do Correio em sua propriedade,destratando a partidários e a adversários, que a Câmara, em 9 de Feve­reiro de 1.875, pedia a sua exoneração, «eis que sabia dos maus tratos por ele infrin­gidosa todos que procuravam a sua cor­respondência, devendo ser nomeado, para essa vaga, o cidadão Domingos Soares de Barros Melo, cidadão probo e benquisto de todos, estando equidistante das forças po­líticas descalvadenses. E durante muitos anos, ou melhor 15 anos, o Correio do Descalvado esteve entregue a esse cidadão. Apenas houve uma mudança do transpor­te da mala postal. Em 1.881, com o advento da Estrada de Ferro Paulista, o correio passou a ser diário e não mais a cavalo. Era ele transportado em vagão da linha férrea. Grandes benefícios trouxe o correio diário com a entrega todos os dias da correspondência. Já a família descalvadense recebia e lia, diariamente, os jornais da Capital e a nossa agência do Correio aumentou de movimento. O serviço do correio era exercido pelo agente e um condutor de malas que também fazia o serviço de entregador domiciliar da correspondência.

À vista do incremento recebido, tra­tou o poder público administrativo da  vila de solicitar o concurso de mais um entregador de correspondência domiciliar. O pedido foi feito em 1.882. Só em 1.889 é que foi atendido. No dia 5 de Abril de 1889, era convocada extraordináriamente a Câ­mara para o fim único de informar o se­guinte, a fim de ser dado mais um entre­gador de correspondência à cidade: 1º)- Qual o número de habitantes da cidade, de ruas, largos, travessas e becos? 2.°)‑Qual o vencimento a pagar a ca­da carteiro de acordo, com: as condições de vida na cidade? Pela Câmara foi dada a seguinte resposta: 1°) - A população desta cidade (em 3 de Abril de 1.889) orça seguramente em pouco mais de 5.000 almas e o município em 12.000. Tem a cidade 25 ruas, 5 largos, 600 casas, sendo 150 de comércio.

2°) - O vencimento do carteiro, segundo as condições de vida da vila deverá ser de 50$000 mensais. E, acrescentava a informação: É preciso entretanto atender-se que mais de 7.000 pessoas se servem desta agência por intermédio dos comerciantes e de muitos. particulares, os quais se prestam obséquio­samente a receber a correspondência das pessoas residentes fora da cidade. A Câmara aproveita a oportunidade para ponde­rar que é importantíssimo o movimento, desta agência, a qual rende mensalmente calculado pela média, a importância de 500$000. Por isso a sua elevação à cate­goria de segunda classe será de inteira justiça, segundo o artigo 117, parágrafo segundo, do Regulamento citado por V. S.”

10 - Em 10 de Julho de 1.889, era so­1icitado ao Administrador Geral dos Correios de São Paulo, a criação de duas agências postais na linha férrea da Com­panhia Agrícola Descalvadense, sendo uma na estação do Salto o e outra na estação da Aurora. Devemos aqui esclarecer que o ramal férreo da Aurora foi construído pelos fazendeiros descalvadenses que lhe deram o pomposo título acima. Posteriormente foi ele vendido à Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A Estação do Salto passou a denominar-se estação do Pântano.

11 - Em 1.° de Maio de 1890, o Governo do Estado de São Paulo informava à Camara Municipal de Descalvado, que, em data de 26 de Fevereiro de conformidade com o artigo137, parágrafo 2º do Regulamento de 26 de Março de 1886, havia enviado ao Diretor Geral dos Correios de São Paulo, a proposta para a elevação da agência do Correio do Descalvado, para a segunda classe. Em 9 de Outubro desse mesmo ano, em adendo  a essa informação o Governo do Estado respondia, à Câmara Municipal, que a elevação de classe da agência do Correio local, era atribuição do Ministério da Instrução Pública Correio e Telégrafo que determina, por portaria, anualmente, a sua classificação, sendo que para o corrente ano, já foi ela expedida em 20 de Julho próximo passado. Comunicava, outrossim, que a Administração Geral dos Correios, atendendo ao aumento de trabalhos da agência desta cidade, em tempo, solicitou, ao respectivo Ministério, a elevação do vencimento de 1.200$000 para 1.800$000 o que foi concedido e se acha em execução.

12 - Finalmente, em 15 de janeiro de 1.891, era comunicado, à Câmara Municipal haver sido a agência do Correio local elevada para a segunda categoria e estabelecido um estafeta para o ramal férreo da Aurora. De 1892 a l900 ano que nos serve de limite para a Historia do Descalvado, nada mais houve de importante a  respeito do correio em nossa terra.

Nas décadas de 40 e 50 a agência do Correio funcionou na rua Bezerra Paes, defronte a Praça da Matriz;

Na década de 60 funcionou na Avenida Coronel Rafael Tobias, quase confluência com a avenida Guerino-Oswaldo;

No ano de 1971 foi inaugurada sua agência na rua José Bonifácio, próximo a estação rodoviária.

 

MERCADO MUNICIPAL

(Antenor Ervêu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello)

 

1 - Importância considerável na alimen­tação dos primitivos moradores do Descal­vado, em seus primeiros anos de fundação deve ter sido o produto da caça e da pcs­ca. As cinco casinholas em redor da rús­tica Capela, em 1.832, tempos depois aumen­tadas em número de edificações para trin­ta ou quarenta taperas, abrigavam aventu­reiros afeitos à alimentação selvagem, prin­cipalmente à pesca. Comia‑se nessa época pouco e mal.

2 ‑ Nos rios que correm pelo munici­pio, o Ribeirão do Pântano, o Ribeirão Bo­nito e o Rio Mogi‑Guaçú e em suas lagoas marginais, pescou‑se muito, desde os pri­meiros tempos, embora muitas vezes essa pesca se fizesse por processos bárbaros, aprendidos com os indios: o envenenamento das águas com timbós ou tinguins, cascas de ervas maravilhosas, tão fortes que nos rios onde se botava a casca ma­ravilhosa, não ficava peixe vivo. Quando não era o timbó, era a armadilha chamada pari, cerca de taquara ou de cipó estendi­da de margem a margem, ou então redes adredes preparadas de arrastão, onde caiam peixes grandes e pequenos. O Rio Mogi­ Guaçu, nas épocas de chuvas, e enchentes, formava inúmeras lagoas marginais. (Quan­do as águas baixavam e se retiravam pa­ra o leito primitivo, imensa fauna de pei­xes ficava habitando essas lagoas, na imen­sa maioria peixes curimbatás. Essas lagoas eram varridas a peneiras e a redes quando a água não era profunda e cada lagoa da­va centenas de quilos de peixes (quando as águas não ofereciam essa facilidade, o timbó fazia sua aparição, Era esse peixe posto a secar ao sol e salgado quando possível. Fazia‑se farinha de peixe e quase sempre se preparava a paçoca de peixe, velha comida dos habitantes de então. Ainda por este tempo havia, em algumas fazendas de cana de açúcar, alambi­ques que distilavam aguardente. Era a aguar­dente, então, o remédio heróico contra a varíola e o sarampo.

6 - Agravou‑se de 1850 a 1855, a si­tuação de abastecimento de gêneros de pri­meira necessidade e, portanto, agravou‑se a possibilidade de uma alimentação sadia e variada para seus habitantes. Os proprie­tários de fazenda possuíam produtos de suas terras e deles se utilizavam. Mas e os demais moradores? E aqueles que não possuíam terras para cultivá‑las? Urgia adqui­rí‑las. Onde ? Aparecem, como resultado dessa situa­ção alarmante, os primeiros mascates foras­teiros, mas estes vendiam semente, bugi­gangas e tecidos. Para os gêneros de pri­meira necessidade foi preciso que o poder público (o Juiz de Paz da Freguesia, a exem­plo do que ocorria em outros povoados, vilas e cidades desse tempo, permitisse o estabelecimento de Casinhas para esse fim. O que eram essas Casinhas no  Descalva­do? Eram construções toscas de paredes de taipas que serviam de prédio para a venda de secos e molhados. Nessas Casi­nhas eram vendidos os gêneros de primei­ra necessidade dentro de uma desordem e sujeira sem par. Era o toicinho com o ar­roz, o feijão com a farinha, tudo no chão imundo, atraindo moscas e outros insetos ­num tremendo cheiro nauseabundo. Esse estado de coisas não se modificou senão em 1860, quando o Juiz de Paz com pode­res de almotacés, julgou propício o momen­to de por ordem na desordem. Então as mercadorias mereceram prateleiras  e não caixotes e certos produtos passaram a me­recer melhor guarida, não ficando expostos aos insetos e aos ratos. Foi só com o ad­vento da Câmara Municipal, em 1866, que se deu maior impulso à higienização das Casinhas, transformando‑as em vendas e empórios. As contínuas epidemias de varío­la e de febres malígnas que na ocasião não se sabiam de onde provinham, cons­tantes nesse recuado tempo de nossa his­tória, deram maior incremento ao desejo de por‑se um paradeiro à sujeira das ven­das e, então, a Câmara Municipal usou de suas prerrogativas máximas e ordenou aos fiscais da edilidade que zelassem pela saúde da coletividade. Data daí a melhor disposição dos armazéns de secos e molhados de nossa terra.

7 – Em 1.870, depois de uma manifestação de febres malignas, cogitou-se da criação de um Mercado Público para nele se venderem em feira ou mercado público, os gêneros do país, em todos os dias úteis, das 7,00 às 5,00 horas da tarde e aos domingos até ao meio dia. A Câmara tomou a si o encargo de construir o mercado público, mas nada fez.­

E parece ter‑se esquecido da idéia, pois durante longo tempo não se rememo­rou mais o fato. Foi somente em 18 de Fevereiro de 1.877 que a Câmara deliberou aceitar, depois  de  construídos, os cinco quartos que se comprometeu a edificar o cidadão João Honório Alves Ferreira, ofe­recendo, à Camara Municipal, o uso dos ditos quartos mediante um aluguel módico. Para opinar a esse respeito, foi designada uma comissão de vereadores que devia orçar o aluguel pelo menor preço. Foram construidos 5 quartos e inaugurados em 3 de Julho de 1.877, com o pomposo título de Praça do Comércio. Nada mais eram do que a reprodução melhorada das velhas Casinhas que já aludimos, pois as Casi­nhas haviam sido condenadas ao fecha­mento. Durante 6 anos serviu a Praça do Comércio. Todavia o Descalvado crescia muito e a Praça do Mercado não lhe bas­tava. Em 20 de Setembro de 1883, os ve­readores Aguiar Whitaker e Evaristo de Campos Leite indicaram à Camara que mandasse construir uma casa que servisse de mercado para a vila e que nele sejam vendidos todos os gêneros e se não for possível a fatura da referida  casa, seja  o mercado instalado em uma casa ou local apropriado para esse fim, como melhor en­tender a Câmara, devendo a Câmara no caso de passar esta indicação, dar as pro­vidências precisas a fim de que seja formu­lado o seu regulamento, regulamento que deverá funcionar no próximo ano futuro de 1884, a 1° de Janeiro. Aprovada a in­dicação, foi nomeada a seguinte comissão para tratar do caso: Vereadores Gaudên­cio Quadros, Evaristo de Campos Leite e Aguiar Whitaker.

8 - Parece que havia empenho na cons­trução do mercado. Assim é que em 6 de Outubro desse mesmo ano, a Comissão de Obras Públicas da Câmara apresentou o seu parecer sobre a casa para o mercado, na forma seguinte: «A comissão de Obras Públicas desta Câmara Municipal, tendo procurado, em di­versos pontos da vila, um local apropriado para o Mercado, só encontrou, que se pres­tasse para esse fim, o prédio e terreno do senhor José Joaquim Rodrigues que, pro­visóriamente poderia preencher os requisi­tos exigidos para uma praça de mercado».

Posto em discussão o parecer foi apro­vado, ficando designado o doutor Miguel Arcanjo da Silva de entender‑se com o proprietário da casa a fim de saber se o mesmo quer alugá‑la à Câmara para esse fim. Saiu‑se bem do encargo o dr. Miguel Arcanjo da Silva, pois tudo caminhou favoravelmente e, em 17 de Dezembro des­se mesmo ano, em vista da informação prestada pelo presidente da Câmara, de tomar‑se por aluguel a casa de José Joaquim Rodrigues para servir provisoriamente de Praça do Mercado, ficou deliberado encarregar-se o Procurador Municipal de contratar com o proprietário debaixo de instruções que a edilidade lhe forneceu. Foram designados os vereadores Dr. Miguel Archanjo e Gaudêncio Quadros de redigirem o regulamento para o mercado. Esse regulamento foi aprovado na sessão de 10 de janeiro de 1.884, devendo entrar em execução a partir de 1º de fevereiro desse mesmo ano. 

9 -  O mercado, a titulo provisório, funcionou no prédio de José Joaquim Ro­drigues Todavia dado o surto de progres­so do Descalvado, ainda não satisfazia. Disso deu o grito contra, o vereador Boa­ventura Figueiredo Pereira de Barros, em 14 de Fevereiro de 1.887, indicando que, achando‑se aprovado um regulamento para o mercado, a Câmara nomeasse uma co­missão para escolher o local apropriado para esse fim. Essa comissão composta dos vereadores Barbosa Leite e Durismun­do Lisbôa, deu o seguinte parecer: «A Comissão é de parecer que se edifique o Mercado, obtendo‑se, caso seja possivel, o terreno legado por Agostinho José Alves de Amorim a pretos seus fâmulos (criados), ou outra que reu­na as condições necessárias. Conseguiu‑se com os pretos, herdeiros de Agostinho José Alves de Amorim, o terreno para a construção, terreno esse que fica ao lado de onde está agora a Estação Rodoviária. Em 16 de Abril de 1.887, era o Presidente da Câmara autorizado a contratar as obras do mercado, visto que a Comissão  de Obras Públicas já emitira seu parecer a respeito do local, cuja planta estava a cargo do empreiteiro Joaquim M. Pimenta.

10 - A construção do mercado foi um fato auspicioso. Foi construído em o terreno que pertenceu a um dos descobri­dores do Descalvado. E como o local im­punha certa magnificência, foi ordenado que se abaulasse a rua da Liberdade entre o largo do Rosário e a rua do Comércio, «visto como é urgente este serviço para garantia do mercado que pode ficar prejudicado com as escavações das próximas chuva”. Em 1º de Fevereiro de 1888, era inau­gurado o Mercado Público com grandes solenidades.

11 - Para o cargo de administrador do mercado foi nomeado Antonio Angelo Soares que desistiu sem ter tomado posse. Para esse lugar foi nomeado Teophilo de Campos Negreiros que tomou posse e foi o primeiro administrador do mercado. Em 7 de Abril de 1.888, os cidadãos Antonio Angelo Soares e Adelino Augusto do Amaral, que se instalaram em cômodos do mercado pediam a redução do aluguel para 15$000 mensais, sendo atendidos. João de Camargo Neves, administrador do mercado, em 25 de Setembro de 1.890, em oficio, reclamava, à Câmara, o fecha­mento do mercado, nos domingos e feria­dos, às 3 horas da tarde, visto que nesses dias e a essas horas, as casas comerciais se fecham, não havendo porisso concorrên­cia de vendedores e compradores no mercado. Embora argumentasse bem, o seu pedido foi indeferido. Em 5 de Outubro de 1.892, José Joaquim Correa, administrador, mandava colocar grades no alpendre do mesmo mercado, calçava as ruas do edificio e pedia aumento de ordenado. E o mercado, durante o século XIX não exigiu maiores cuidados do poder público e entrou no século XX como um fator de progresso descalvadense. Nota: O Mercado Público de Descalvado, inaugurado em 1º de fevereiro de 1.888 e construído nos terrenos de Agostinho José Alves de Amorim, um dos descobridores do Descalvado, não existe mais. Foi demolido entre os anos de 1948 e 1949, como também o foi o Cemitério Velho, duas relíquias do passado glorioso de Descalvado, nessa fúria inoclasta de destruir o patrimônio que nossos antepassados nos legaram com suor e sangue.

 

MATADOURO

(Antenor Ervêu Betarello e Odenor Pedro Ivo Ferreira Betarello)

 1 - Sempre esteve, na cogitação dos nossos administradores, municipais, desde o tempo da Freguezia, em 1844, o problema da carne para alimento da população descalvadense. Todavia, embora esse cui­dado fosse sempre preocupação do Juiz de Paz, que, na época, era o administrador o abate e o consumo da carne verde eram de molde a despertar arrepios dadas a fal­ta de higiene e nenhum asseio presentes à matança. Nos primórdios de sua funda­ção, a Vila não possuia açougues. O dono de uma vaca, quando esta não mais se prestava para a criação, ou o dono de um boi, quando este não mais servia para o carro, por ser velho e imprestável, mata­vam-nos em qualquer lugar, em plena via pública, se estava nos arredores ou no quintal, se no centro do povoado e ali mesmo se procedia o retalhamento. Era carne de mistura com terra empapada de sangue, moscas em profusão e sujeira, tudo em fran­ca promiscuidade, aqui e ali com melhor aparência quando as peças eram lavadas com água do poço, água que não se reco­mendava muito. Prontas as peças, eram postas em carroça ou no lombo de animais e transportadas pelas ruas para a sua ven­da, expostas ao sol e à poeira, quando não cobertas por velho lençol ainda de uso ca­seiro. Muitas vezes a carne vendida vi­nha de animais mortos por doença, por pi­cadas de cobras ou por cargas de chumbo estas sempre bravezas.

2 - O Juiz de Paz, de 1844 a l866 a autoridade máxima no Descalvado, com poderes de almotacés (inspetor), tinha entre outros en­cargos, o de fiscalizar atividades dos carniceiros e de outros comerciantes de gê­neros, principalmente os alimentícios. Entre as recomendações, estava a de constante vigilância sobre os açougueiros, não per­mitindo que eles matassem rezes que não fossem logo “limpadas dos debulhos”, nem consentissem que elas fossem cansadas no curral nem fora dele porque se tal ocorrer «se apostemava a carne». Uma instrução do Governo da Província aconselhava que se fizesse uma casa de açougue onde se talhasse a carne para que ela não fosse vendida pelas ruas de casa em casa, exposta às sujeiras. No entanto, correram anos e anos, mas no Descalvado nada se fez nesse sentido. A carne era vendida de casa em casa e exposta às sujeiras. Vendia-se carne de animais muitas das vezes suspeita de contaminação. Na época tudo tudo passava e não se falava de micróbios. Falva-se em miasmas e os miasmas eram culpados de tudo. A carne de vaca como não era miasma, não ameaçava a saúde pública e era consumida de qualquer procedência. Só se voltava para essa face do problema da alimentação, quando a população era batida por epidemias.

3 - Instalada a Câmara Municipal em 1.866, logo em 8 de Outubro, o vereador  Joaquim Mendes de Moura apresentou uma proposta para que a Câmara.marcasse e mandasse fazer um curral para servir de matadouro. Sendo o orçamento anual do município, nesse recuado ano de 1.866 de 1.200$000, não possuía a Câmara recursos para essa empreitada e, então, encarregou, apelando para o patriotismo do vereador, Joaquim Mendes de Moura da tarefa acima devendo o mesmo escolher um local que não prejudique a salubridade pública para o curral do Matadouro. E foi‑lhe dito que apenas houvesse dinheiro seria feito o dito  curral “nem que fôsse de varas e pau a pique.” Joaquim Mendes de Moura, bom cidadão, impressionado com o espetáculo degradante do abate de reses em qualquer lugar, tomou a si o encargo que lhe foi confiado pela Câmara e construiu, de forma rude e grotesca, o primeiro matadouro do povoado. O problema era, no entanto, obrigar o açougueiro ou portador de animal a buscar o matadouro de Joaquim Mendes de Moura, para o abate. Clandestinamente eram feitos abates fora do matadouro e este permaneceu, praticamente, sem função. De tal  maneira ficou esquecido o matadouro construído por Joaquim Mendes de Moura que o fiscal municipal de livre iniciativa sua, sem consultar a ninguém demoliu, no ano seguinte, o curral de madeira e carregou esta para outro si­tio. Chegando a seu conhecimento, deu solene estrilo, no plenário o vereador Joaquim Mendes de Moura, profligando o crime de lesa-matadouro.  A Câmara solidária com seu represen­tante, em 1 de Junho de 1.857, mandou fosse descontada dos vencimentos do fis­cal municipal, a quantia de 20$000, impor­tância relativa  ao curral de madeiras que o fiscal havia demolido. Como represália contra esse desconto, em 28 de Julho do mesmo ano, o fiscal enviava um ofício à Camara cobrando a quantia de 1$500 (um mil e quinhentos réis) proveniente de um carreto que mandara fazer da madeira do curral do matadouro que demolira.

4 - 0 curral do matadouro, em 1868,  foi refeito e para ali, quando era possível,  eram encaminhados os animais para o abate. O lugar, porém, pouco se prestava a esse. mister e o abate se fazia por toda parte. Durante 15 anos assim continuou. Em 28 de janeiro de 1.883, os vereadores Dr.Miguel Arcanjo da Silva e Baptista Ferraz indicaram à Câmara, em sessão da mesma, que mandasse demarcar um terreno do patrimônio  para os lados do cemitério (trata-se do cemitério velho), fechasse as taipas vinte braças por dez; dividindo-se para matadouro e curral de conselho, e que se fizesse um poço com bomba para sua serventia. Declararam ainda esses vereadores que o local indicado era o melhor possível, pois ambos os vereadores haviam estudado in ­lóco a situação apresentada. Gozava o Dr. Miguel Arcanjo da Silva, em pleno apogeu de seus dotes físicos, morais e intelectuais de renome inconfundível em toda a região e, na Câmara de acentuada predominância intelectual. A indicação dos dois.vereado­res foi aprovada por unanimidade e auto­rizado o orçamento das despesas, ficando a Comissão de Obras da edilidade designada para marcar o local e fazer o orçamento. Na sessão de 4 de Fevereiro de 1883, inexplicavelmente, pelo seu presidente, Ar­tur Horacio de Aguiar Whitaker, foi indica­do que se reconsiderasse a deliberação to­mada na sessão de 28 de Fevereiro último quanto à localização do Matadouro e cur­ral de conselho, optando‑se pelo terreno pertencente a Antônio Joaquim Bueno, :pa­ra o fim de, nele, ser construído o mata­douro. Inexplicavelmente também, a suges­tão de Artur Horacio de Aguiar Whitaker foi aprovada. Nessa mesma sessão, Gaudêncio Quadros indicou que se contratasse com Antônio Joaquim Bueno, o terreno para matadouro e curral de conselho com o prazo de 10 anos. Intervindo na discussão o Dr. Miguel Archanjo da Silva, foi por êste alvitrado que ficasse o presidente da Câmara autorizado a resolver o assunto do modo que melhor lhe aprouvesse, sempre no interesse da municipalidade. Na altura desses acontecimentos é interessante lem­brar que a Câmara, em suas sessões, deliberava sobre um assunto, tomava iniciativas e ordenava providências, mas, na prá­tica, nada se realizava. A desculpa foi sem­pre a falta de verba.

5 - Como nada se fizesse nesse senti­do e a população sofresse as vicissitudes de um pardieiro sujo, à guisa de matadou­ro, em 17 de Junho de 1883, o cidadão Jo­sé Ignácio Rodrigues de Oliveira represen­tava perante a Câmara, pedindo a constru­ção de um matadouro. Esse requerimento foi enviado à comissão de Obras Públicas e teve o seguinte parecer em data de 18 de Junho do mesmo ano. Assinaram este parecer os vereadores Dr. Miguel Archanjo da Silva, João Baptis­ta Ferraz e Frederico Ernesto de Aguiar Whitaker. Ficou o vice‑presidente Boaven­tura Figueiredo Pereira de Barros autori­zado a construir a obra. Como vimos, pre­valeceu, outra vez, o ponto de vista do vereador Dr. Miguel Archanjo quanto ao local da construção. Correram os anos de 1.883 e 1.884 e nada foi feito. A coisa fica­va mesmo só no papel e na boa vontade. De prático nada havia. Foi à vista desse marasmo que, em 24 de Dezembro de 1.88l, o cidadão Eugênio Pinto Pereira pediu, à Camara, em oficio dirigido, que mandasse construir o matadouro e se a Câmara não o pudesse fazer, por falta de recursos financeiros, o peticionário se propunha a construir um matadouro provisório, deixando, porém, de pagar direitos de abate até que a Câmara fizesse construir o novo matadouro já autorizado por lei. A Câmara, ofendida em seus brios, deu o seguinte parecer: “A Camara resolveu tomar em consideração o pedido e, em seu tempo, toma­rá as providências”.

6 - Enquanto tudo isso ocorria e en­quanto se tratava da construção do futuro matadouro, os abates eram feitos no terreno de Antonio Joaquim Bueno, onde se im­provisou um matadouro em péssimas con­dições que, em 2 de Julho de 1887 Duris­mundo Lisboa reclamou em termos violen­tos contra o estado de coisas e indicou uma comissão para escolher o melhor lo­cal onde se deverá, de uma vez por todas construir o matadouro da Vila, que deverá funcionar logo. Eram tão péssimas as con­dições do matadouro no terreno de Antônio Joaquim Bueno que, em 15 de Julho de 1887, Olímpio Catão, a serenidade olímpica de nossa terra, pediu a remoção do mesmo do local onde estava, pela fdentina que exalava, sendo seu pedido atendi­do. Ato contínuo, em 12 de Janeiro se 1.888 era contratado com José Simões Marques, a construção do matadouro provisório. Como oproblema se agravasse e as epidemias rondavam o solo descalvadense, hou­ve murmúrios e queixas gerais. Todo o mundo lamentava a podridão do matadoú­ro local e o mau serviço do abate. Os ci­dadãos José Rodrigues Torres e José Lou­renço de Morais, em petição datada de 23 de Janeiro  de 1.888 expunham, à Câmara a indeclinável necessidade de construir‑se, um matadouro público. A Câmara parecia atordoada com o problema e com os pre­núncios maus de epidemias de varíola e febres, que, infelizmente, iriam eclodir no ano seguinte. Tomou em consideração a representação que lhe foi endereçado, mas nada fez. Em 21 de Maio de 1889, o ve­reador Paula Carvalho indicava à Camara que concedesse o privilégio até 20 anos de uso a quem, com vantagens se propusesse construir e custear um matadouro público com todas as condições de asseio exigidas pela higiene. Em 15 de Março de 1890, ten­do sido dissolvida a Câmara Municipal pe­lo golpe de 15 de Novembro de 1.889, o Conselho da Intendência descalvadense, sob a proposta do cidadão Doutor Antonio de Cerqueira Lima, presidente do mesmo deliberou o seguinte: “Conceder privilégio por Abanos para arrecadar e gozar do produto dos impostos municipais sobre todo o gado que for abatido para consumo público, à pessoa ou associação que construir um matadouro nas condições seguintes: lº) - O matadouro deve ser reconstruido segundo preceitos higiênicos e por planta previamente aprovada pela Intendência ; 2º) - construção e o custeio do mes­mo durante  o prazo do privilégio correrão por conta do proponente. 3º) - O estabelecimento ficará sob a imediata fiscalização. Da Intendência que expedirá regulamento para a boa ordem  do serviço.

4º) - No fim do prazo reverterá, para  Município, o edificio e acessórios em bom  estado de conservação e sem indenização.

7 - Em 7 de Julho de 1.890 Vicente Sessa Augusto de Castro e Joaquim Ribei­ro de Castro Paranhos propunham, à Ca­mara, a construção de um matadouro com, as dimensões de 16 metros de frente, obra sólida de tijolos e alicerces de pedras com dois quartos independentes para depósito e salga de couros, chiqueiros para porcos, todo ladrilhado de pedras e cimento, com  três alqueires de terreno para pasto e des­canso do gado que tiver de ser abatido, na Chácara do finado Antônio Joaquimi Bueno, tudo conforme planta por eles apresentada e mediante o previlégio de 12 anos e o direito de poderem c brar durante esse tempo as taxas de 4$000 por cabeça de rês, 2$000 por cabeça de  porco, 1$500 por cabeça de carneiro ou cabrito e $500 por cabeça de leitão, que forem abatidos no Matadouro por eles construído. Idêntica proposta fez o cidadão Augusto Arouche, pedindo o privilégio pelo tempo de 15 anos. A comissão designada para dar parecer, assim o emitiu em 9 de julho de 1.890: “A comissão é de parecer que das propostas feitas pelos senhores Vicente Séssa e companhia e pelo senhor Augusto Arouche, deve ser escolhida a dos senho­res Vicente Sessa e companhia  pelas se­guintes razões: 1º) A diferença de prazo estipulado para o privilégio entre ambos os concorrentes é de  muita importância para o municipío, pois traz‑lhe um lucro de 12.000,00. Eis que o privilégio, pedido pelo senhor Au­gusto Arouche, é de 15 anos e o dos se­nhores Vicente Sessa e companhia, de 12 Anos, o que dá uma diferença de 3 anos que se converte em 12.000$OOO durante esse prazo. 2º) -  É preferível o local escolhido pe­lo senhor Vicente Sessa.porque esse local é servido de água natural que conduzirá todos os resíduos para o Ribeirão Bonito. 3º) - A propriedade de 3 alqueires de terreno que ficam pertencendo ao matadouro. 4º) - Os 10 por cento de rendimento líquido que pagarão trimestralmente á Muni­cipalidade. 5º) - Finalmente porque desistem do direito de taxas sobre todas as reses que  forem abatidas pelas fazendas, ficando esse direito pertencente á Municipalidade.

8 - Na sessão de 31 de Julho de 1890, foi lida a minuta do contrato e privilégio  da construção do matadouro municipal, feito pelo advogado doutor Amâncio Guilhermino de Oliveira Penteado, contendo 35 cláusulas as quais foram todas aprovadas com algumas alterações reclamadas pelos proponentes Vicente Sessa e companhia, e aumentadas outras, estas ainda exigidas pelos mesmos proponentes, que foram aceitas pelo Conselho, ficando o cidadão doutor Presidente autorizado assinar, com os referidos proponentes, a escritura de contrato que deverá ser lavrada segundo a a referida minuta e segundo as alterações feitas e com as respectivas cláusulas de aumento requeridas.

9 ‑ Atacada a obra, não ficou ela pron­ta no prazo estipulado, o que motivou uma representação assinada por Vicente Sessa, Augusto Ribeiro de Castro e Joaquim Ri­beiro de Castro Paranhos, Empresários do matadouro que se estava construindo, em 14 de Fevereiro de 1.891, solicitando, à Intendência Municipal, mais 30 dias de pra­zo para conclusão das obras, atendendo‑se para o fato de que o prazo estipulado no contrato lhes era insuficiente para darem o Edificio em estado de poder ser inaugurado e isso devido a contratempo não oriundos dos proponentes. Foi concedido, aos proponentes, a prorrogação de mais 30 dias. Em13 de Abril de 1.891, os mesmos cida­dãos comunicavam, à Intendência Municipal, que se achava pronto o matadouro, conclui­das as obra e, porisso, pronto para fun­cionar conforme o contrato por eles firma­do e faziam entrega do matadouro aos mar­chantes da cidade. Nessa comunicação, pe­diam ao poder público que fosse ordenado, aos fiscais municipais, a maior vigilância no sentido de evitar‑se seja abatido, fora do matadouro, gado vacum, suino, etc., dessa data em diante. Tendo a comissão de Obras dado parecer favorável, foi ordenado que se.publicassem editais nesse sentido, obri­gando‑se os marchantes a fazer os abates de reses, porcos, carneiros e cabritos no referido matadouro, sob pena de multa de 30$000.

10 - Contra o moderno matadouro não fal­tou a grita dos interessados. Afinal de contas aquele serviço com os cuidados de higiene e de limpeza pública exigia gastos que se traduziam na taxa de matança e os mar­chantes estavam acostumados ao abate em suas propriedades sem pagamento algum. Além do mais, para o abate de um boi era exigida a taxa de 4$000 que, para a época, era um dinheiro, sabido que o quilo de carne, nessa época custava de um tostão a duzentos reis, sendo a carne de primeira, como o filé mignon, cobrada a $400 por um quilo. Os marchantes e donos de açougues no Descalvado, por esse tempo, constituiam a fina flor da valentia. E os seus auxiliares eram dignos êmulos do dioguismo da época foi por terem sido atingidos em seus in­teresses que os proprietárias de açougues, cidadãos Leolino Rodrigues de Figueiredo e Francisco Giovanini, pediram, ao conselho, providências sobre o matadouro público, pois os serviços não estavam sendo feitos de conformidade com o contrato lavrado pelos concessionários, faltando, no mesmo matadouro, sarilhos, água no postos sendo os pastos inseguros e não funcionando os salgadouros de pele nas condições precisas ­e com a limpeza recomendada pela higiene.Essa reclamação era apenas uma vál­vula da má vontade dos marchantes para com o matadouro, como isso fosse verifi­cado por parte da administração municipal que se convenceu do desforço e da má vontade dos reclamantes, foi a petição encaminhada aos concessionários para darem seu parecer. Foi o seguinte o parecer: “Em vista do despacho retro, pedimos à distinta Intendência, nomeará uma comissão para examinar o matadouro e verificar se o mesmo está ou não de conformidade com o contrato assinado.” (a) Joaquim Ribeiro de Castro Paranhos

Bethlém do Descalvado, 20 de Junho de 1891.

Nessa mesma data, a Empreza conces­sionária do matadouro pedia fosse confeccionado um regulamento para o mesmo, de conformidade com o contrato,a fim de po­der ser dada uma povidência a respeito do marchante João de Tal, empregado de Leolino de Figueiredo, cujo comportamento não é bom, pois que ele se embriaga para provocar desordem, injuriando a empresa e maltratando o gado destinado ao corte. Esse João de Tal nada mais era do que um capanga assalariado De Leolino de Fígueiredo, postado no matadouro com o fito de ameaçar e amedrontar a empre­sa, para o fim de fechar‑se o matadouro. A época era propícia para o desternor e o capanguismo. Recordemo‑nos que estava a zona do Descalvado com os municípios vizinhos, em pleno fastígio do Dioguinho. Enquanto se aguardava o regulamento pa­ra esse fim, esse Joãode Tal, que mais tarde se soube ser João da Costa, mineiro foragido de Minas com várias mortes nas costas, empregado de Leolino de Figueire­do, recebia, certo dia, de um capanga a serviço da empresa, tremenda surra de ca'cete, acompanhada de facadas. Esse acon­tecimento precipitou os fatos. Em 11 de Agosto de l.891, o cidadão doutor Theodoro Ruchert Junior entregava, à Intendência, o regulamento do Matadouro Municipal, de cuja confecção ficara ele encarre­gado, contendo o mesmo 34 artigos e res­pectivos parágrafos. Foram esses artigos e parágrafos lidos em sessão e unanime­mente aprovados sem alteração alguma. Mandou o Conselho da Intendência que o mesmo fosse publicado por editais. Esse regulamento era em 25 de Setembro de 1.891, aprovado pelo Presidente do Estado de São Paulo. Contra alguns artigos desse regulamento, opuseram‑se, em petição enviada ao Conselho, em data de 12 de Dezembro de 1.891 os concessionários do matadouro, Augusto Ribeiro de Castro, Joa­quim Ribeiro de Castro Paranhos e Vicente Sessa, pedindo revisão dos mesmos pois alguns artigos eram contrários às cláu sulas do contrato assinado. Como fossem justas as reclamações da empresa, foram os artigos contrários, às clausulas do con­trato, revogados em sessão da Intendência dando‑se ciência dessa resolução em edi­tais publicados.

11 ‑ 0 negócio do matadouro, com o regulamento cumprido à risca,  propiciava bons lucros à empresa concessionária. Esta logo recebeu boas ofertas de terceiros para seu arrendamento. No entanto a empresa nada resolveu sem consultar a Inten­dência. A esse respeito foi por isso que em 9 de Janeiro de 1893, a Intendência Muni­cipal recebia um oficio da concessionária do matadouro, participando, ao Conselho, haverem resolvido os concessionários, de conformidade  com a cláusula 28 do contrato celebrado com a Intendência, transferir a mesma empresa para outrem, para o que, já tem mais de um pretendente. En­tretanto, eles julgam que não devem fazer transferência a terceiros antes de proporem a este Conselho a primazia, porisso, pediam ao Conselho, que resolvesse, com urgência se convém ou não, à Municipalidade, adiquirir a empresa. O Conselho da Intendência estava in­clinado a aceitar a proposta mas, como se estava em época de eleições para a Câ­mara, pois os Conselhos iriam desaparecer, voltando as Câmaras Municipais, desistiu de emitir proposta. Por seu lado Vi­cente Sessa e seus sócios se quedaram à espera  dos fatos  politicos. Em 17 de Abril de 1893, já eleitos e empossados os novos vereadores, Vicente Sessa propôs, à Câmara Municipal, a encampação do matadouro pela importância de 18 contos de réis. A proposta foi envia­da à Comissão de Obras e Contas que, reu­nida em 19 de Abril, deu o seguinte parecer: “Vicente Sessa e outros, empresários do matadouro, propõem, à Camara, a aqui­sição do privilégio do matadouro pela quan­tia de 18 contos de réis. A Câmara deve aceitar a proposta pela inportância de !2 contos de réis que será paga em 3 presta­ções anuais, devendo dita importância de 12 contos de réis vencer juros de 6°/o  ao ano e a cada prestação serem adicionados os juros vencidos até a data da mesma prestação ‑ e assim também na aquisição do privilégio devem ser compreendidas as ben­feitorias existentes e os utensílios até ago­ra usados no matadouro.” Foi o parecer aprovado por unanimi­dade. Em 22 de Abril de 1.893,era apresentada a redação do projeto de lei do matadouro e, em seguida, aprovada a mesma, passando aquele edifício a ser próprio municipal como matadouro público municipal. (Nota: O matadouro de Vicente Sessa funcionou por quase cem anos, uma verdadeira relíquia do passado).


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